Gratidão
“Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em
Cristo Jesus para convosco.” Paulo
(1ª Tessalonicenses, 5:18.)
Saibamos agradecer as dádivas que o Senhor nos concede a
cada dia: a largueza da vida, o ar abundante, a
faculdade do raciocínio, a alegria de ver, o tesouro da
palavra, o privilégio do trabalho, o dom de aprender, a
mesa que nos serve...
No mundo, as festividades de reconhecimentos registram
invariavelmente, os triunfos passageiros da experiência
física. Imponentes banquetes comemoram reuniões da
família consanguínea, músicas alegres assinalam o
término de discórdias na justiça dos homens nas quais,
muitas vezes, há vítimas ignoradas soluçando nas
sombras.
Com Jesus, no entanto, vemos um ato de ação de graças
que parece estranho à primeira vista. O Mestre ergue
hosanas ao Pai justamente na hora em que vai partir ao
encontro do sacrifício supremo, recebendo a morte na
cruz. No entanto, agradece a Deus pela oportunidade de
completar com segurança Seu apostolado na Terra. Em
vista disso, torna-se imprescindível que não nos
percamos em lances festivos sobre pretensas conquistas
na carne, pois o Universo é uma corrente de amor em
movimento incessante, sem interromper a fluência das
vibrações.
Nesse sentido, recordemos que ninguém é tão sacrificado
pelo dever que não possa, de quando em quando, levantar
os olhos em sinal de agradecimento. Uma prece, uma
saudação afetuosa, uma flor ou um bilhete amistoso
conseguem apagar longo fogaréu da discórdia ou dissipar
rochedos de sombra. Por mais dura que seja a estrada,
aprendamos a sorrir e a abençoar para que a alegria siga
adiante, incentivando os corações e as mãos que operam a
expansão da bondade Divina.
Muitas pessoas perguntam como se pode render graças a
Deus pelas dores que sacodem a existência. Basta-nos,
porém, leve reflexão para que venhamos a reconhecer a
função renovadora do sofrimento. Mesmo que não
entendamos, de pronto, os desígnios da providência
Divina, recebamos a provação como sendo o melhor que
necessitamos hoje, em favor do amanhã. Ainda que
lágrimas dolorosas nos lavem a alma, rendamos graças a
Deus.
No mundo há diversidade em tudo que se vê, que se sente
e que se usa e, diante disso, é imperioso crer numa
inteligência Superior que comanda tudo na extensão
infinita da criação, ajudando-nos na posição em que nos
encontrarmos. Os acontecimentos, no que diz respeito ao
mal, são para nos educar com o objetivo de instruir; por
isso, em tudo, devemos dar graças, porque esta é a
vontade do Pai para conosco.
Quando nossa caminhada
muda de forma insatisfatória no campo dos bens
materiais, surgem revoltas por nos faltar o que tínhamos
em abundância e isso porque não sabemos suportar as
dificuldades e as mudanças necessárias para o nosso
aprendizado. Todavia, precisamos estar preparados para
resistir a todas as intempéries, sem revolta e sem
injúrias, aproveitando as lições que o Pai nos envia.
Como nos lembra o filósofo, escritor e político romano
Sêneca: “Invejar
é do queixoso e do doente e agradecer é do que está
satisfeito”.
Clamamos contra as dificuldades do mundo, mas será que
já pensamos nas facilidades que chegam às nossas mãos?
Prestemos atenção: Compramos medicamentos para leve dor
de cabeça, todavia, recebemos de graça a faculdade de
articular, instante a instante, os mais complicados
pensamentos; gastamos estimáveis quantias para assistir
a esse ou àquele espetáculo, contudo, não nos atentamos
à possibilidade de contemplar o solo cheio de flores e o
céu repleto de estrelas; pagamos para ouvir simples
melodia de uma orquestra, no entanto, ouvimos
diariamente a música da natureza, sem consumir um
centavo.
Atendamos à realidade, compreendendo que a alegria e a
esperança, expressando créditos infinitos de Deus, são
os motivos básicos da vida a erguer-se, cada momento,
por sinfonia maravilhosa. Estamos rodeados de glórias na
Terra, porém, somos incapazes de valorizar as riquezas
que nos cercam. Cegos diante do espetáculo soberbo da
vida que nos emoldura o desenvolvimento, tripudiamos
sobre as preciosidades do mundo, sem meditarmos no
paciente esforço dos séculos que a Sabedoria Infinita
utilizou no aperfeiçoamento e na seleção dos valores que
nos rodeiam.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo
28, item 28, Kardec insere importante texto, lembrando o
quanto temos de ser gratos a Deus por tudo o que
recebemos: “É necessário não considerarmos como
felizes apenas os acontecimentos importantes, pois os
que parecem insignificantes são frequentemente os que
mais influem no nosso destino. O homem esquece
facilmente o bem, e se lembra mais do que o aflige. Se
diariamente notássemos os benefícios que recebemos, sem
pedir, ficaríamos muitas vezes admirados de haver
recebido tanta coisa que nos esquecemos, e nos
sentiríamos humilhados pela nossa ingratidão. Cada
noite, elevando nossa alma a Deus, devemos recordar,
intimamente, os favores que Ele nos concedeu durante o
dia e agradecê-los”. (...) “Os benefícios de Deus não
consistem somente nas coisas materiais; é preciso,
igualmente, agradecer-Lhe as boas ideias, as inspirações
felizes que nos são sugeridas.” (...) “O impulso
espontâneo que nos faz atribuir a Deus o que nos chega
de bem, testemunha um hábito de reconhecimento e de
humildade que nos atrai a simpatia dos bons Espíritos.”
Francisco de Assis em sua nobre humildade para vivenciar
o amor Maior afirmou em certa ocasião que a gratidão é
das mais difíceis moedas a se ofertar na vida. Por isso
ele sempre se preocupava em ser grato a tudo e a todos.
Agradecia ao irmão sol por aquecê-lo e por proporcionar
vida à Terra; ao irmão vento, por acariciá-lo nos dias
de calor; à irmã lua, por enfeitar as noites de céu
claro; ao irmão sofrimento, que lhe permitia
introspecções e aprendizados na sua prisão no corpo
físico. O exemplo de Francisco de Assis nos remete a
profundas reflexões nestes dias em que prepondera o
egoísmo. No tumulto do dia a dia e dos compromissos, não
paramos para perceber as oportunidades que a vida nos
oferece e, egoístas que ainda somos, esquecemo-nos de
agradecer a experiência da nossa reencarnação pelas
nossas conquistas e benesses. Mas, por que, também, não
podemos agradecer pelo mal que nos aconteceu? Pelas
pedras e obstáculos do caminho? Pelas dores que vieram?
Os benefícios da gratidão são inúmeros, gerando paz
íntima e predispondo-nos a colaborar com Deus em Sua
obra. Assim, ampliemos nossa resignação, pois já
compreendemos que os desígnios Divinos são justos,
sempre nos impulsionando para frente ensinando-nos a
superar desavenças, mágoas, vivendo bem melhor e
semeando uma existência mais feliz nos corações daqueles
que partilham conosco sua jornada.
Assim sendo, aprendamos a louvar o Senhor pelas bênçãos
que nos confere, rogando, à Providência Celeste,
suficiente luz para que nossos olhos identifiquem o
celeiro de graça em que nos encontramos. A cegueira
íntima nos faz tropeçar em obstáculos, onde só existe o
favor divino e, sobretudo, preparemo-nos para recolher
as lições que nos cabe aproveitar, a fim de realizá-las
segundo os propósitos superiores que regem nossos
destinos. Rendamos graças, pois, por todas as
experiências do caminho, na santificante procura da
vontade Divina, em Jesus Cristo.
Terra bendita! Terra que tanta vez malsinamos nos dias
de infortúnio ou nos momentos de ignorância, nós lhe
agradecemos as dores e as aflições que nos oferece por
espólio de nossos próprios erros e roguemos a Deus que
nos fortaleça os propósitos de reajuste e
aperfeiçoamento, para que, um dia, possamos
retribuir-lhe, de algum modo, os benefícios que nos tem
prodigalizado, por milênios de milênios!
Bibliografia:
XAVIER, Francisco Cândido. Caminho,
Verdade e Vida - Lições 19, 91 e 113. Pelo Espírito
Emmanuel. 28ª ed. Rio de Janeiro/RJ: Editora FEB, 2011.
XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso –
Lição 100. Pelo Espírito Emmanuel. 29ª ed. Rio de
Janeiro/RJ: Editora FEB, 2010.
XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA Waldo. Estude
e Viva – Lição 31. Pelos Espíritos Emmanuel e André
Luiz. 14ª ed. Brasília/DF; Editora FEB, 2013.
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