Artigos

por Temi Mary Faccio Simionato

 

Gratidão


“Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” 
Paulo (1ª Tessalonicenses, 5:18.)


Saibamos agradecer as dádivas que o Senhor nos concede a cada dia: a largueza da vida, o ar abundante, a faculdade do raciocínio, a alegria de ver, o tesouro da palavra, o privilégio do trabalho, o dom de aprender, a mesa que nos serve...

No mundo, as festividades de reconhecimentos registram invariavelmente, os triunfos passageiros da experiência física. Imponentes banquetes comemoram reuniões da família consanguínea, músicas alegres assinalam o término de discórdias na justiça dos homens nas quais, muitas vezes, há vítimas ignoradas soluçando nas sombras.

Com Jesus, no entanto, vemos um ato de ação de graças que parece estranho à primeira vista. O Mestre ergue hosanas ao Pai justamente na hora em que vai partir ao encontro do sacrifício supremo, recebendo a morte na cruz. No entanto, agradece a Deus pela oportunidade de completar com segurança Seu apostolado na Terra. Em vista disso, torna-se imprescindível que não nos percamos em lances festivos sobre pretensas conquistas na carne, pois o Universo é uma corrente de amor em movimento incessante, sem interromper a fluência das vibrações.

Nesse sentido, recordemos que ninguém é tão sacrificado pelo dever que não possa, de quando em quando, levantar os olhos em sinal de agradecimento. Uma prece, uma saudação afetuosa, uma flor ou um bilhete amistoso conseguem apagar longo fogaréu da discórdia ou dissipar rochedos de sombra. Por mais dura que seja a estrada, aprendamos a sorrir e a abençoar para que a alegria siga adiante, incentivando os corações e as mãos que operam a expansão da bondade Divina.

Muitas pessoas perguntam como se pode render graças a Deus pelas dores que sacodem a existência. Basta-nos, porém, leve reflexão para que venhamos a reconhecer a função renovadora do sofrimento. Mesmo que não entendamos, de pronto, os desígnios da providência Divina, recebamos a provação como sendo o melhor que necessitamos hoje, em favor do amanhã. Ainda que lágrimas dolorosas nos lavem a alma, rendamos graças a Deus.

No mundo há diversidade em tudo que se vê, que se sente e que se usa e, diante disso, é imperioso crer numa inteligência Superior que comanda tudo na extensão infinita da criação, ajudando-nos na posição em que nos encontrarmos. Os acontecimentos, no que diz respeito ao mal, são para nos educar com o objetivo de instruir; por isso, em tudo, devemos dar graças, porque esta é a vontade do Pai para conosco.

Quando nossa caminhada muda de forma insatisfatória no campo dos bens materiais, surgem revoltas por nos faltar o que tínhamos em abundância e isso porque não sabemos suportar as dificuldades e as mudanças necessárias para o nosso aprendizado. Todavia, precisamos estar preparados para resistir a todas as intempéries, sem revolta e sem injúrias, aproveitando as lições que o Pai nos envia. Como nos lembra o filósofo, escritor e político romano Sêneca: “Invejar é do queixoso e do doente e agradecer é do que está satisfeito”.

Clamamos contra as dificuldades do mundo, mas será que já pensamos nas facilidades que chegam às nossas mãos? Prestemos atenção: Compramos medicamentos para leve dor de cabeça, todavia, recebemos de graça a faculdade de articular, instante a instante, os mais complicados pensamentos; gastamos estimáveis quantias para assistir a esse ou àquele espetáculo, contudo, não nos atentamos à possibilidade de contemplar o solo cheio de flores e o céu repleto de estrelas; pagamos para ouvir simples melodia de uma orquestra, no entanto, ouvimos diariamente a música da natureza, sem consumir um centavo.

Atendamos à realidade, compreendendo que a alegria e a esperança, expressando créditos infinitos de Deus, são os motivos básicos da vida a erguer-se, cada momento, por sinfonia maravilhosa. Estamos rodeados de glórias na Terra, porém, somos incapazes de valorizar as riquezas que nos cercam. Cegos diante do espetáculo soberbo da vida que nos emoldura o desenvolvimento, tripudiamos sobre as preciosidades do mundo, sem meditarmos no paciente esforço dos séculos que a Sabedoria Infinita utilizou no aperfeiçoamento e na seleção dos valores que nos rodeiam.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 28, item 28, Kardec insere importante texto, lembrando o quanto temos de ser gratos a Deus por tudo o que recebemos: “É necessário não considerarmos como felizes apenas os acontecimentos importantes, pois os que parecem insignificantes são frequentemente os que mais influem no nosso destino. O homem esquece facilmente o bem, e se lembra mais do que o aflige. Se diariamente notássemos os benefícios que recebemos, sem pedir, ficaríamos muitas vezes admirados de haver recebido tanta coisa que nos esquecemos, e nos sentiríamos humilhados pela nossa ingratidão. Cada noite, elevando nossa alma a Deus, devemos recordar, intimamente, os favores que Ele nos concedeu durante o dia e agradecê-los”. (...) “Os benefícios de Deus não consistem somente nas coisas materiais; é preciso, igualmente, agradecer-Lhe as boas ideias, as inspirações felizes que nos são sugeridas.” (...) “O impulso espontâneo que nos faz atribuir a Deus o que nos chega de bem, testemunha um hábito de reconhecimento e de humildade que nos atrai a simpatia dos bons Espíritos.”

Francisco de Assis em sua nobre humildade para vivenciar o amor Maior afirmou em certa ocasião que a gratidão é das mais difíceis moedas a se ofertar na vida. Por isso ele sempre se preocupava em ser grato a tudo e a todos. Agradecia ao irmão sol por aquecê-lo e por proporcionar vida à Terra; ao irmão vento, por acariciá-lo nos dias de calor; à irmã lua, por enfeitar as noites de céu claro; ao irmão sofrimento, que lhe permitia introspecções e aprendizados na sua prisão no corpo físico. O exemplo de Francisco de Assis nos remete a profundas reflexões nestes dias em que prepondera o egoísmo. No tumulto do dia a dia e dos compromissos, não paramos para perceber as oportunidades que a vida nos oferece e, egoístas que ainda somos, esquecemo-nos de agradecer a experiência da nossa reencarnação pelas nossas conquistas e benesses. Mas, por que, também, não podemos agradecer pelo mal que nos aconteceu? Pelas pedras e obstáculos do caminho? Pelas dores que vieram?  

Os benefícios da gratidão são inúmeros, gerando paz íntima e predispondo-nos a colaborar com Deus em Sua obra. Assim, ampliemos nossa resignação, pois já compreendemos que os desígnios Divinos são justos, sempre nos impulsionando para frente ensinando-nos a superar desavenças, mágoas, vivendo bem melhor e semeando uma existência mais feliz nos corações daqueles que partilham conosco sua jornada.

Assim sendo, aprendamos a louvar o Senhor pelas bênçãos que nos confere, rogando, à Providência Celeste, suficiente luz para que nossos olhos identifiquem o celeiro de graça em que nos encontramos. A cegueira íntima nos faz tropeçar em obstáculos, onde só existe o favor divino e, sobretudo, preparemo-nos para recolher as lições que nos cabe aproveitar, a fim de realizá-las segundo os propósitos superiores que regem nossos destinos. Rendamos graças, pois, por todas as experiências do caminho, na santificante procura da vontade Divina, em Jesus Cristo.

Terra bendita! Terra que tanta vez malsinamos nos dias de infortúnio ou nos momentos de ignorância, nós lhe agradecemos as dores e as aflições que nos oferece por espólio de nossos próprios erros e roguemos a Deus que nos fortaleça os propósitos de reajuste e aperfeiçoamento, para que, um dia, possamos retribuir-lhe, de algum modo, os benefícios que nos tem prodigalizado, por milênios de milênios!

 

Bibliografia:

XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida - Lições 19, 91 e 113. Pelo Espírito Emmanuel. 28ª ed. Rio de Janeiro/RJ: Editora FEB, 2011.

XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso – Lição 100. Pelo Espírito Emmanuel. 29ª ed.  Rio de Janeiro/RJ: Editora FEB, 2010.

XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA Waldo. Estude e Viva – Lição 31. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 14ª ed. Brasília/DF; Editora FEB, 2013.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita