No trato com os entes queridos
Em suas orientações, Emmanuel nos conclama a reflexões
profundas, chamando a nossa atenção para questões que
deixamos passar sem percebê-las. Por exemplo, a forma
como tratamos aqueles que conosco convivem
cotidianamente.
Geralmente, nossos companheiros de caminhada mais
próximos são os membros que compõem o grupo familiar.
Juridicamente, o conceito atual de família é a união de
pessoas ligadas pelo afeto. Portanto, é nesse grupo que
aprenderemos o impositivo do respeito ético recíproco,
entre todos os que fazem parte dela e no qual
desenvolveremos a capacidade de renunciar, dividir,
zelar e nos dedicarmos ao próximo. Podemos dizer que é o
nosso laboratório, a nossa primeira escola de amor.
Espíritas que somos, sabemos que é através da vida
material que evoluímos, burilamos o Espírito nas lutas
do dia a dia, enfrentando as provas necessárias para
tal. E sabemos, também, que na maioria das vezes é no
núcleo familiar que encontramos os maiores desafios para
nosso reajuste.
Mas precisamos lembrar que nossos entes amados nem
sempre são aqueles que fazem parte da família (grupo
restrito), podendo ser os pais, irmãos, demais parentes,
amigos (grupo amplo) com os quais mantemos laços de
afinidade e que nos trazem conforto e tranquilidade. Por
vezes, por conta do imenso amor que a eles dedicamos,
não enxergamos suas imperfeições. Aceitamos seus
comportamentos inadequados sem apontá-los, para não
ferir seus sentimentos. Outras vezes, dedicamos tanta
atenção a eles, suprimindo suas necessidades, na certeza
de que terão conosco essa mesma atitude quando for
necessário.
Nossa atitude, que parte de um coração que só quer
ajudar a tornar a vida do próximo melhor, pode provocar
uma transformação em sua vida. Primeiramente, porque
podemos atrapalhar sua evolução, pois, com nossa ajuda,
influenciaremos demais as suas escolhas. Passam a ser
nossas escolhas em suas vidas, o que trará, certamente,
em algum momento, algum problema nessa relação. Sem
perceber, tornamos esses seres prisioneiros do nosso
afeto, exigindo uma dedicação que às vezes não querem
assumir. Acabamos, nesse envolvimento, por esquecer que
temos tarefas a cumprir, débitos a resgatar,
comprometendo, assim, também, a nossa evolução.
Podemos ter, sim, amor por essas pessoas tão queridas,
porém, respeitando suas diferenças, sem tentar moldá-las
à forma de agir que julgamos mais correta. Deus nos
concedeu o livre-arbítrio e a inteligência para serem
usados da forma que julgarmos mais adequada, mas, eles,
como nós, estão caminhando neste grande educandário para
evoluir, e isso só acontecerá quando forem responsáveis
por suas escolhas.
É imprescindível que nos amemos sem a intenção de
modificar quem conosco caminha. Ser o apoio necessário
nos momentos difíceis e não o amigo que chega com
soluções mágicas para acabar com a dor, muitas vezes tão
necessária à evolução de cada um.
No livro “Ceifa de Luz”, lição 4, psicografado por
Francisco Cândido Xavier, o estimado benfeitor Emmanuel
lembra que “devemos a cada um a lição da estima sem
requisições descabidas, acatando as experiências para as
quais se inclinam e respeitando os tipos de felicidade
que elejam para si”.
Então, se realmente quisermos ser úteis aos nossos entes
queridos, atentemos para os seguintes pontos: todos
somos seres viajantes do Universo, buscando nos
aperfeiçoar, pois, como Espíritos imortais, viveremos
eternamente; marchamos juntos, porém cada um de acordo
com o que já aprendeu. Portanto, todos nós necessitamos
da atenção daqueles que nos amam, na medida das suas
disponibilidades afetivas, assim como procuramos
auxiliar a cada um deles, na medida das nossas
possibilidades amorosas. Todavia, todos nós somos
responsáveis pelas práticas indispensáveis à evolução de
cada um, pois é com respeito e tolerância que a harmonia
se estabelece.
Bibliografia:
XAVIER, F.C. Encontro Marcado, ditado
pelo Espírito Emmanuel – 13ª edição – Editora FEB –
BRASILIA/DF – lição 54 – 2009.
|