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por Gebaldo José de Sousa

 

Mensagem à mulher amada


Meu coração pequenino

Foi morar dentro do seu.

Quando seu coração bate,

Dentro dele bate o meu.”

(Autor anônimo)

          

Nestas reflexões registro meus sentimentos para com você.(*) Escrevi-as pensando em nossa vida, no amor que nos uniu e que permanece em nossos corações. Mas, sobretudo, em nossa futura separação física. Inspirei-me no texto: “Creia que a saudade edificante estará sempre em meu espírito, seja onde for, saudade de sua convivência, de sua afetuosa dedicação”.(1)

Não há como fugir a esse tema, sempre doloroso.

Já que virá, falemos desse dia com amor, com ternura, com gratidão a Deus, que nos aproximou e nos concedeu belas tarefas. Até para que vivamos sempre bem, enquanto juntos, e para que nos preparemos para esse amanhã que, cedo ou tarde, virá para nós ambos.

Tudo indica que irei à sua frente, eis que na Terra, há mais viúvas do que viúvos; tenho mais anos de vida e o coração todo remendado!

Se assim for, continue trabalhando, sendo útil – no limite das forças – e seja forte, eis que nossa família necessitará muito dos esforços daquele que sobreviver ao outro. Verá que tudo se ajeita com o passar do tempo. Procure não sofrer muito, eis que a separação será breve, por mais que dure.

 

*

 

Mas se você se atrever a partir antes de mim, é claro que não ficarei a sós! Terei inúmeras e constantes companhias, para sempre, deixadas indelevelmente por você em minha alma, em meu terno coração:

– a Gratidão imorredoura por tudo de bom que doou a nossos familiares – especialmente a vários membros de minha família carnal, que nem sempre nos compreenderam! –, aos filhos e netos e a mim, seu maior devedor, eis que lhe dei tão pouco, não obstante sincero no anseio de fazê-la feliz; e à comunidade a qual sempre serviu, valorizando as horas, aproveitando os pequenos minutos livres;

– a Lembrança inapagável das múltiplas lutas, canseiras e renúncias por que passamos e que, pela bondade divina, superamos; e também a dos momentos felizes, que os tivemos, na brevidade das circunstâncias. Sua presença – física, ou não – foi, é e será sempre um bálsamo para mim, para as dores mais íntimas;

– a Ausência de sua bondade para comigo e para com todos, eis que é assim que conquistou e conquista a amizade de quem teve a alegria e o privilégio de conviver com você. Ninguém a esquecerá! Até os ingratos de hoje, quando se ausentar de nossa convivência, sentirão o quanto lhes doou silenciosamente. E quanta falta lhes fará, também a eles!

– a Solidão, ainda que à minha volta haja muitas pessoas; muitas já hoje ‘surdas’ à minha voz;

– a Tristeza permanente, quase sempre disfarçada, para não transmiti-la àqueles que também a amam, e muito, e para que não saibam o quanto me doerá essa ausência;

– a Saudade de sua doce presença e desse tempo bom que compartilhamos por breves/longos anos; de sua capacidade de ouvir e de corrigir-me nos muitos erros em que incido, sem desistir de aconselhar-me e sem perder a paciência;

– a Ternura infinita, que me ficará gravada, para sempre, na alma, de todas as fases de nossa convivência, e que será suave consolo ao meu coração, até que nos reencontremos.

Ouvirei, sempre, sua voz carinhosa e seus passos à minha volta, a me envolver com seus braços, com seu carinho!

Verei sua face em todos os cantos da casa. Em cada um deles semeou beleza e eles guardarão um pedaço de seu coração, de sua delicadeza, de sua criatividade, de sua generosidade: aqui, uma planta, num vaso a florir de tempos em tempos; ali, uma pintura, além, um enfeite, um arranjo qualquer. A sensibilidade de seu coração, de sua alma continuará presente onde quer que eu vá. Bem sabe que minha admiração por você nunca cessou e é crescente, sobretudo porque sei que não é fácil ‘suportar’ um homem por mais de meio século!

Busquei os versos da canção Todo o  sentimento, de Cristóvão Bastos e Chico Buarque clique aqui para acessá-la -, para expressar-lhe um pouco mais do que não sei dizer com minhas palavras:

 

“Prometo te querer,

Até o amor cair

Doente...

Doente.

Prefiro, então, partir

A tempo de poder

A gente se desvencilhar da gente.

Depois de te perder,

Te encontro, com certeza,

Talvez num tempo da delicadeza,

Onde não diremos nada;

Nada aconteceu!

Apenas seguirei, como encantado,

Ao lado teu!”

 

Saiba, além disso, que suas marcas ficarão não só em mim, mas em todos aqueles que a amam com todo o calor de nossa alma! E que haveremos de adorá-la eternamente e de guardá-la nos corações e, sua imagem, em nossas retinas! Até a Clarissa, ao crescer, perceberá que a idolatra, embora por algum tempo tenha dito apenas “adolo o vovô”, sem incluí-la nessa adoração!

Haverá de levar em seu coração nosso amor, nosso afeto, e nossa imensa saudade!

Para concluir, recorro a outro poeta, que até parecia conhecer o nosso amor:

 

“Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...”
 

(Alceu Wamosy em Duas almas.)

 

(*) O autor dirige-se nesta mensagem à sua esposa e companheira.

 

Referência:

(1) XAVIER, Francisco C. Obreiros da Vida Eterna. Pelo Espírito André Luiz. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979. 16, p. 249.
 


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita