Mensagem à mulher amada
“Meu coração pequenino
Foi morar dentro do seu.
Quando seu coração bate,
Dentro dele bate o meu.”
(Autor anônimo)
Nestas reflexões registro meus sentimentos para com
você.(*) Escrevi-as
pensando em nossa vida, no amor que nos uniu e que
permanece em nossos corações. Mas, sobretudo, em nossa
futura separação física. Inspirei-me no texto: “Creia
que a saudade edificante estará sempre em meu espírito,
seja onde for, saudade de sua convivência, de sua
afetuosa dedicação”.(1)
Não há como fugir a esse tema, sempre doloroso.
Já que virá, falemos desse dia com amor, com ternura,
com gratidão a Deus, que nos aproximou e nos concedeu
belas tarefas. Até para que vivamos sempre bem, enquanto
juntos, e para que nos preparemos para esse amanhã que,
cedo ou tarde, virá para nós ambos.
Tudo indica que irei à sua frente, eis que na Terra, há
mais viúvas do que viúvos; tenho mais anos de vida e o
coração todo remendado!
Se assim for, continue trabalhando, sendo útil – no
limite das forças – e seja forte, eis que nossa família
necessitará muito dos esforços daquele que sobreviver ao
outro. Verá que tudo se ajeita com o passar do tempo.
Procure não sofrer muito, eis que a separação será
breve, por mais que dure.
*
Mas se você se atrever a partir antes de mim, é
claro que não ficarei a sós! Terei inúmeras e constantes
companhias, para sempre, deixadas indelevelmente por
você em minha alma, em meu terno coração:
– a Gratidão imorredoura por tudo de bom que doou
a nossos familiares – especialmente a vários membros de
minha família carnal, que nem sempre nos compreenderam!
–, aos filhos e netos e a mim, seu maior devedor, eis
que lhe dei tão pouco, não obstante sincero no anseio de
fazê-la feliz; e à comunidade a qual sempre serviu,
valorizando as horas, aproveitando os pequenos minutos
livres;
– a Lembrança inapagável das múltiplas lutas,
canseiras e renúncias por que passamos e que, pela
bondade divina, superamos; e também a dos momentos
felizes, que os tivemos, na brevidade das
circunstâncias. Sua presença – física, ou não – foi, é e
será sempre um bálsamo para mim, para as dores mais
íntimas;
– a Ausência de sua bondade para comigo e para
com todos, eis que é assim que conquistou e conquista a
amizade de quem teve a alegria e o privilégio de
conviver com você. Ninguém a esquecerá! Até os ingratos
de hoje, quando se ausentar de nossa convivência,
sentirão o quanto lhes doou silenciosamente. E quanta
falta lhes fará, também a eles!
– a Solidão, ainda que à minha volta haja muitas
pessoas; muitas já hoje ‘surdas’ à minha voz;
– a Tristeza permanente, quase sempre disfarçada,
para não transmiti-la àqueles que também a amam, e
muito, e para que não saibam o quanto me doerá essa
ausência;
– a Saudade de sua doce presença e desse tempo
bom que compartilhamos por breves/longos anos; de sua
capacidade de ouvir e de corrigir-me nos muitos erros em
que incido, sem desistir de aconselhar-me e sem perder a
paciência;
– a Ternura infinita, que me ficará gravada, para
sempre, na alma, de todas as fases de nossa convivência,
e que será suave consolo ao meu coração, até que nos
reencontremos.
Ouvirei, sempre, sua voz carinhosa e seus passos à minha
volta, a me envolver com seus braços, com seu carinho!
Verei sua face em todos os cantos da casa. Em cada um
deles semeou beleza e eles guardarão um pedaço de seu
coração, de sua delicadeza, de sua criatividade, de sua
generosidade: aqui, uma planta, num vaso a florir de
tempos em tempos; ali, uma pintura, além, um enfeite, um
arranjo qualquer. A sensibilidade de seu coração, de sua
alma continuará presente onde quer que eu vá. Bem sabe
que minha admiração por você nunca cessou e é crescente,
sobretudo porque sei que não é fácil ‘suportar’ um homem
por mais de meio século!
Busquei os versos da canção Todo o sentimento,
de Cristóvão Bastos e Chico Buarque - clique
aqui para acessá-la -,
para expressar-lhe um pouco mais do que não sei dizer
com minhas palavras:
“Prometo te querer,
Até o amor cair
Doente...
Doente.
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu!
Apenas seguirei, como encantado,
Ao lado teu!”
Saiba, além disso, que suas marcas ficarão não só em
mim, mas em todos aqueles que a amam com todo o calor de
nossa alma! E que haveremos de adorá-la eternamente e de
guardá-la nos corações e, sua imagem, em nossas retinas!
Até a Clarissa, ao crescer, perceberá que a idolatra,
embora por algum tempo tenha dito apenas “adolo o
vovô”, sem incluí-la nessa adoração!
Haverá de levar em seu coração nosso amor, nosso afeto,
e nossa imensa saudade!
Para concluir, recorro a outro poeta, que até parecia
conhecer o nosso amor:
“Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...”
(Alceu Wamosy em Duas almas.)
(*) O
autor dirige-se nesta mensagem à sua esposa e
companheira.
Referência:
(1) XAVIER,
Francisco C. Obreiros da Vida Eterna. Pelo
Espírito André Luiz. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979.
16, p. 249.
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