Consolação
“Venho ensinar e consolar os pobres deserdados.
Venho-lhes dizer que elevem sua resignação ao nível de
suas provas; que chorem, porque a dor estava presente no
Jardim das Oliveiras, mas que esperem, porque os anjos
consoladores virão enxugar suas lágrimas.” -
O Espírito de Verdade (O Evangelho segundo o
Espiritismo).
O lado mais belo do Espiritismo é a consolação que
prodigaliza aos aflitos, em todos os sentidos. O
conhecimento da reencarnação é esclarecedor. Nele, a
justiça divina se revela com toda a sua beleza, com todo
o seu amor.
Léon Denis, em seu livro Depois da Morte, ainda
hoje conquista os leitores dada a atualidade do que ali
expõe. Revela ele que a dor, sob suas múltiplas formas,
é o remédio supremo para as imperfeições, para as
enfermidades da alma. Sem ela, não é possível a cura.
Assim como as moléstias orgânicas são muitas vezes
resultantes de nossos excessos, assim também as provas
morais que nos atingem são consequências das nossas
faltas passadas. Cedo ou tarde, essas faltas recairão
sobre nós, com suas deduções lógicas. É a lei de
justiça, de equilíbrio moral. Saibamos, diz ele, aceitar
seus efeitos, como se fossem remédios amargos, operações
dolorosas que devem restituir a saúde, a agilidade ao
nosso corpo. Embora sejamos acabrunhados pelos
desgostos, pelas humilhações e pela ruína, devemos
sempre suportá-los com paciência.
No livro Boa Nova, pela mediunidade de Chico
Xavier, o Espírito Humberto de Campos revela de modo
belo uma conversa de Jesus com Tiago e André, que
estiveram presentes em seu encontro com Nicodemos. Ali,
Jesus demonstra a eles a beleza do amor de Deus e sua
justiça.
Diz ele a Tiago que a maioria dos homens examinou o
texto dos profetas antigos com a visão exígua.
Investigaram as revelações do céu de acordo com seu
próprio egoísmo e organizaram a justiça como o edifício
mais alto do idealismo humano. E, entretanto, disse a
Tiago, coloco o amor acima da justiça do mundo e tenho
ensinado que só ele cobre a multidão dos pecados.
Precisamos cuidar-nos, para que também nós não apenas
enxerguemos a justiça e sua necessidade, mas, sim, todo
o amor divino que age sobre tudo e sobre todos.
Em tudo viceja o amor. Nas maiores dores vejamos a
expressão do amor, das oportunidades de escolha, e das
chances de reparação do passado doloroso. A reencarnação
é a grande chave. Com ela abre-se o portal do
entendimento e o raciocínio se aclara, a fé surge e o
conhecimento liberta.
O Espiritismo consola, no momento em que esclarece e
demonstra os fatos que os próprios Espíritos nos
fornecem. A dor torna-se remédio e a resignação um
sustentáculo da fé que se agiganta.
Temos conhecido pessoas maravilhosas, verdadeiros heróis
da resignação. Pessoas que mesmo em dor sorriem, vivem
bem.
Jerônimo Mendonça, “O Gigante Deitado”, um desses
grandes, não anônimo, pois conhecido no Espiritismo,
cantava a dor, sua enfermeira amiga. De modo intenso,
exemplificou a resignação.
Como ele, e em escala menor, temos visto tantos!
Exemplos de coragem para o mundo onde estagiam.
Há uns três meses conversamos com uma jovem senhora
paraplégica, que teve poliomielite na infância, pouco
tempo antes de esta ser erradicada do Brasil. Que
sorriso lindo o dela! Qual sua religião? Não perguntamos
e ela não mencionou. Não importa. Ela estava corajosa.
Não tinha o conhecimento do Espiritismo, pois os
espíritas facilmente se reconhecem por seus apontamentos
feitos no diálogo. Pensamos conosco que maior ainda
seria sua consolação se o conhecesse, mas respeitamos,
pois não nos inquiriu. Um bom humor incrível! Fez-nos
lembrar do Jerônimo, o gigante que mencionamos.
Perguntamos-lhe se ela sempre tem o humor alegre. Ela
disse que sim e emendou com esta observação: - Acredita
que há pessoas que me falam que, como sou sempre alegre,
não sei o que é sofrer!... Acho que elas estão cegas no
seu egoísmo, não enxergam que estou paraplégica, na
cadeira de rodas. Mas só estou paraplégica, não estou
paralisada do cérebro e, enquanto viver, serei assim,
agradecida a Deus pela vida e pelo que me proporciona.
Isso é ensinamento. Pessoas em condições difíceis dando
valor à vida e exteriorizando a alegria de viver.
O Jerônimo era assim. Inteligência, bom humor,
resignação, capacidade incrível de trabalho no bem e
palestras de grande profundidade e beleza, que ele
realizava sob a inspiração de benfeitores elevados.
Tinha tudo para se acomodar no leito e ficar inoperante,
mas trabalhou como seareiro de Jesus até a véspera de
sua morte. O retrato da resignação.
Vale a pena analisar como estamos nós. Conhecimento
espírita é consolação. Pois que estejamos consolados,
aumentemos nossa fé.
Os tempos estão difíceis. Sabemos, no entanto, que o
amor há de vencer e que o bem triunfará. Consolemo-nos e
consolemos aos demais, por nossa vez, pois a bondade de
Deus está sempre colocando ao nosso lado, para
exemplificar, aqueles que estão em situação pior que a
nossa e que estão sorrindo e amando a vida.
Coloquemos nossa casa assentada sobre a rocha e sigamos
em paz, com paciência e coragem, nossa jornada terrena.
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