Preocupação com os adolescentes e jovens
espíritas
“Se a religião ensina o bastante, por que há tantos
incrédulos, religiosamente falando?”
(Kardec) [1]
No último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), foi constatado que a religião
Espírita, dentre outros números que foram registrados
por este órgão, que nossa religião apresenta o maior
índice de velhos. Vale aqui fazer uma observação: com
esse dado, o IBGE não está nos mostrando que o
Espiritismo é formado de pessoas idosas. Mas, sim, quer
com esta informação nos revelar que, entre seus
praticantes, os adolescentes e jovens não são comuns.
Desde o momento que tomei ciência do mencionado fato
acima citado, passei a me preocupar imensamente com esse
tema. E indo mais longe com o raciocínio demonstrado,
penso que a questão acima é realmente séria, e deve ser
motivo de profunda reflexão e principalmente de ação
entre todos nós que realmente comungamos e nos
preocupamos com o que se encontra descrito no texto
abaixo em uma nota explicativa de A Gênese:
“A investigação rigorosamente racional e científica de
fatos que revelavam a comunicação dos homens com os
Espíritos, realizada por Allan Kardec, resultou na
estruturação da Doutrina Espírita, sistematizada sob os
aspectos
científico, filosófico e religioso”.[2]
Algumas vezes me pego sozinho pensando: “onde estão os
jovens espíritas?
Recentemente escrevi um e-mail a um amigo que também tem
a mesma crença e opinião acerca deste tema que eu, com
as seguintes palavras: “Sinto-me preocupado com esses
jovens, adolescentes da atualidade, que se interessam
mais com a internet, com seus smartphones, em redes
sociais e não em leituras prolongadas; para eles, quanto
menos tiverem que ler ou escrever, melhor, não dando a
mínima para religião”.
Caros confrades, os jovens dos séculos XIX, XX e XXI são
diferentes entre si. É fácil verificar isso: na
juventude, seu avô foi de um jeito, já seu pai foi de
outro, sua adolescência já foi diversa de seus dois
antecedentes; seu filho recebeu uma outra educação, já
os seus netos possuem o pensamento mais moderno e, de
repente, mais rápido de todos. É a lei do progresso! A
lembrança que trazemos da erraticidade. Isso é mau?
Claro que não! É bom? Sim!
O problema citado não é tão grave na infância da criança
espírita, pois seus pais a levam à Evangelização
Infantil enquanto estão escutando a palestra pública.
Nesta fase da vida temos total controle sobre nossos
filhos.
Como diz o ditado popular: “mas o tempo passa e a
carruagem anda”.
Agora, aquela criancinha de outrora é um adolescente e
seus colegas e interesses são outros. Nem sempre se
cercam de bons elementos e, quando em casa, gostam de
jogos de guerras e combates entre exércitos. Outro fato
que é interessante destacar é a internet: infelizmente
quando ela é mal-usada, esta propicia um enorme arsenal
de conteúdos perniciosos aos nossos meninos ou meninas.
Infelizmente, na maioria das famílias, nessa época o
Espiritismo já foi deixado de lado por eles.
Assim sendo, repito a pergunta: “onde estão os jovens?
Aquelas crianças, que hoje são adolescentes, que foram
educadas na religião espírita e que vivem conosco?”
E o tempo continua passando.
Entrementes a adolescência e a vida adulta, nós nos
deparamos com a juventude. É nesse período da vida do
jovem que a turminha de colegas, antiga ou nova, se faz
presente nos atos de nossos filhos. Isso, para não falar
nas drogas, netinhos fora do casamento, desinteresse
pelos estudos e “otras cositas mas”. Quanto à religião?
Ah! Que esperança! Acho que é a última coisa que eles
pensam!
E a respeito de nossa Doutrina Espírita? Qual é o
prognóstico que podemos fazer? Bem, no periódico que o
Ínclito Mestre Lionês publicou mensalmente durante 12
anos, mais exatamente em junho de 1863, um filósofo do
outro mundo que, obviamente, através de um médium,
psicografou a mensagem intitulada “O Futuro do
Espiritismo”, lemos: “(...) Não ocupará somente um
lugar, mas preencherá o mundo inteiro”. [3]
Perante essa assertiva ficaremos inertes, de braços
cruzados, vendo tudo transcorrer aos nossos olhos,
esperando a Vontade do Altíssimo se cumprir, e que pode
ser daqui a 100, 200, 500 ou 1000 anos. A resposta a
essa indagação não poderia deixar de ser um enorme e
sonoro não!
Ainda no mesmo órgão publicitário, mesmo ano e artigo,
mais à frente esse Espírito nos adverte: “Apenas o
homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus.
A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se
nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se
por germinar, mas o terreno era inculto e a semente
partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus
havia encarregado de espalhá-la”.[4]
E continua nos instruindo: “Com o tempo, a inteligência
cresceu, o campo pôde ser arroteado, porquanto se
aproxima a época em que o terreno deve ser novamente
semeado”. [5]
Além disso nos faz pensar o seguinte: “Ainda há no globo
uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a
diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem
perfeitamente imbuídos da ideia de que a pena de talião
é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais
terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem
mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do
inferno, em que não mais acreditam, temerão essa
reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de
cometer um ato censurável”. [6]
Todavia, nós podemos ajudar o Espiritismo, acelerando os
Desígnios Divinos, através de uma conduta ativa junto
aos nossos filhos ou de algum jovem conhecido, fazendo a
“nossa parte”. Dirão alguns: “certamente os Espíritos
bons nos ajudarão!” Essa informação vai de encontro com
os dizeres do Insigne Educador de Lyon, que na mesma
Revista Espírita, mas agora em agosto de 1863, em um
artigo chamado “Questões e Problemas: Mistificações”,
sabiamente nos exorta: “(...) Os Espíritos bons velam
por nós, assistem-nos e nos ajudam, mas sob a condição
de nos ajudarmos a nós mesmos”. [7]
Lembram-se da fábula de um beija-flor que dizia estar
fazendo a sua parte para apagar um enorme incêndio na
mata, carregando uma gota d’água no bico e jogando-a no
fogo?
Vendo o esforço inútil do beija-flor, em face do
pavoroso incêndio, a coruja lhe disse:
– Você deve estar maluco! Não vê que é impossível apagar
esse incêndio gigantesco com essa gotinha de água?
– Sei disso – redarguiu o beija-flor. – Mas estou
fazendo a minha parte.
***
Não há como negar a preocupação da FEB e demais
Federativas Nacionais com esse assunto. Mas que fique
bem claro: “estou pensando na maioria e não na parte
contrária”. É claro que nós temos exceções com linhagens
inteiras de indivíduos imbuídos no ideal espírita. Mas
penso eu que se trata da minoria das famílias. Como o
beija-flor citado na fábula acima, faço-lhes um apelo:
“façamos a nossa parte”!
Por final, citarei o Espírito Emmanuel que diz: “(...)
recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie
permanente de caridade – a caridade da sua própria
divulgação”[8] e
modestamente concluo: “que esta propagação, se possível,
seja feita pelos nossos filhos, na adolescência ou na
juventude ou talvez algum amigo espírita deles que a
possa fazer, a fim de que as próximas gerações também
sigam a Doutrina Codificada por Allan Kardec.
[1] A.
KARDEC, O que é o Espiritismo, TERCEIRO
DIÁLOGO – O Padre.
[2] A.
KARDEC, A Gênese, NOTA EXPLICATIVA, CELD,
4ª ed. Francesa.
[3] A.
KARDEC, Revista Espírita, jun./1863.
[4] A.
KARDEC, Revista Espírita, jun./1863.
[5] A.
KARDEC, Revista Espírita, jun./1863.
[6] A.
KARDEC, Revista Espírita, jun./1863.
[7] A.
KARDEC, Revista Espírita, ago./1863.
[8] XAVIER,
F. C. e VIEIRA, W. Estude e Viva, cap.
40.
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