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por Rogério Coelho

 

Tropeços e quedas


A queda de cada discípulo de Jesus é uma advertência para a vigilância de todos nós


“(...) Não nos deixes entregues à tentação, mas livra-nos do mal.” 
Jesus. (Mt., 6:13.)


A indulgência deve permear – necessariamente – o caminho de todos nós, os viajantes da Eternidade...

Muito antes de Sua encarnação na Terra, Jesus já conhecia o conteúdo do coração humano, pois Ele nos conhece desde ontemEstava, portanto, ciente de nossa fraqueza, de nossa onipresente labilidade, chegando mesmo a afirmar que veio para os doentes, vez que os sãos não necessitam de médico.

Oportuníssimas, portanto, as recomendações de Dufêtre[1]“(...) caros amigos, sede severos convosco, indulgentes para as fraquezas dos outros. É esta uma prática da santa caridade, que bem poucas pessoas observam. Todos vós tendes maus pendores a vencer, defeitos a corrigir, hábitos a modificar; todos tendes um fardo mais ou menos pesado a alijar, para poderdes galgar o cume da montanha do progresso. Por que, então, haveis de mostrar-vos tão clarividentes com relação ao próximo e tão cegos com relação a vós mesmos? Quando deixareis de perceber, nos olhos de vossos irmãos, o pequenino argueiro que os incomoda, sem atentardes na trave que, nos vossos olhos, vos cega, fazendo-vos ir de queda em queda? Todo homem, bastante orgulhoso para se julgar superior, em virtude e mérito, aos seus irmãos encarnados, é insensato e culpado; Deus o castigará no dia da Sua justiça. O verdadeiro caráter da caridade é a modéstia e a humildade, que consistem em ver cada um apenas superficialmente os defeitos de outrem e esforçar-se por fazer que prevaleça o que há nele de bom e virtuoso, porquanto, embora o coração humano seja um abismo de corrupção, sempre há, nalgumas de suas dobras mais ocultas, o gérmen de bons sentimentos, centelha vivaz da essência espiritual”.

Em uníssono com Dufêtre, aduz José, Espírito Protetor[2]“(...) a indulgência é um sentimento doce e fraternal que todo homem deve alimentar para com seus irmãos, mas do qual bem poucos fazem uso.

A indulgência não vê os defeitos de outrem, ou, se os vê, evita falar deles, divulgá-los. Ao contrário, oculta-os, a fim de que se não tornem conhecidos senão dela unicamente, e, se a malevolência os descobre, tem sempre pronta uma escusa para eles, escusa plausível, séria, não das que, com aparência de atenuar a falta, mais a evidenciam com pérfida intenção. A indulgência jamais se ocupa com os maus atos de outrem, a menos que seja para prestar um serviço; mas, mesmo neste caso, tem o cuidado de atenuá-los tanto quanto possível. Não faz observações chocantes, não tem nos lábios censuras; apenas conselhos e, as mais das vezes, velados...

Quando criticais, que consequência se há de tirar das vossas palavras? A de que não tereis feito o que reprovais, visto que estais a censurar? Que valeis mais do que o culpado? Ó homens! quando será que julgareis os vossos próprios corações, os vossos próprios pensamentos, os vossos próprios atos, sem vos ocupardes com o que fazem vossos irmãos? Quando só tereis olhares severos sobre vós mesmos?”

Por mais indignados que nos possamos sentir com os alheios despautérios, não nos cabe arvorar em juízes dos atos de nossos semelhantes. Todos estamos sujeitos aos tropeços e quedas nas rudes refregas a que estamos jugulados no carreiro evolutivo. Não podemos descoroçoar ante as aflições e tampouco nos entregarmos, inermes e inoperantes, à sombra do desalento...

Eis o oportuno conselho de Joanna de Ângelis frente a estas  questões[3]: “(...) mesmo que os caminhos estejam refertos de dificuldades, não estaciones desanimado na jornada empreendida. Aprende com a Natureza: a terra sacudida pelo desvario dos ventos renova-se, cessada a tormenta; o solo encharcado retoma a verdura e o arvoredo esfacelado cobre-se, novamente, de flores. Em toda parte, a vida se renova incessantemente, sob o látego das aflições, convidando-te a imitar-lhe o exemplo.

Não permitas, assim, que o pessimismo, esse conselheiro soez, balbucie aos teus ouvidos expressões de desencanto junto às tarefas elegidas. Recorda Jesus, abandonado, traído, em extrema solidão, plantando sozinho a espada luminosa do dever, desde então transformada em marco de luz para a humanidade inteira.

Não te meças por aqueles que tombaram, deixando-te empolgar pelas deficiências deles. Se o companheiro ao teu lado cair, por que te desalentares? Encoraja-te e reflete que, apesar do fracasso dele, necessitas chegar ao fim...

Não te intimides com o insucesso alheio. A correnteza não cessa o curso porque a lama se encontra à frente: atravessa as camadas da dificuldade e surge, novamente límpida, adiante para abraçar o mar que a aguarda ao longe.

Se o amigo não teve a felicidade de manter o padrão de equilíbrio que se fazia necessário, na tarefa empreendida, conduze a mensagem que ele não pôde levar aos angustiados que te esperam, ansiosos, à frente. O caminho do Calvário é a história de uma grande solidão e toda a Boa Nova é um hino de fidelidade ao dever.

O Mestre nem sequer repreendeu Judas, ou censurou Pedro, ou doou a taça de fel a Tomé, em dúvida. Fez-Se o atestado vivo e imortal do Pai, transformando-se em caminho para todos os arrependidos que O desejem seguir.

Na Boa Nova, a queda de cada discípulo é uma advertência para a vigilância dos que vêm depois; a deserção do aprendiz representa um convite à perseverança dos novos candidatos à escola universal do amor.

Robustece o ânimo, amigo do Cristo, fita o Sol generoso a repetir sem cansaço a mensagem da alvorada diariamente, e segue fiel, de fronte erguida e coração içado ao bem, mantendo a tua comunhão com o Mestre nos deveres que te competem, certo de que não seguirás sozinho”.

 


[1] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 125. ed. Rio: FEB, 2006, cap. X, item 18.

[2] - Idem, ibidem cap. X, item 16.

[3] - FRANCO, Divaldo. Leis morais da vida. 3. ed. Salvador: LEAL, 1987, cap. 35.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita