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por José Reis Chaves

 

O Cristianismo mítico e dogmático e o do Jesus histórico


Para Platão, o mito é a mentira que se opõe ao logos que expressa a verdade. (“Dicionário de Mitos Literários” de Pierre Brunel). O teólogo pluralista inglês Jonh Hick diz que um mito é uma história contada, mas não é literalmente verdadeira. “Todo dogma é mais ou menos um mito, uma vez que é necessariamente em linguagem analógica e ação antropomórfica” (Baden Powell, citado por José Pinheiro de Souza em “Mitos Cristãos – Desafios para o Diálogo Religioso”, página 29).  

Mas, nas épocas arcaicas, antes da Ciência e da filosofia propriamente ditas, era através das narrações de histórias míticas que se ficava sabendo das coisas e dos fatos acontecidos fantasiosos ou alegóricos e até verdadeiros. E diz-se, também, que todo mito tem certo fundo de verdade. Ademais, um mito pode ter vários sentidos, sendo uns fortes, por exageros da imaginação popular e mesmo pela tradição.

As doutrinas religiosas podem ser mitológico-alegóricas ou históricas e verdadeiras. Mas, muitas vezes, uma doutrina de fé mítica ou alegórica é tomada erroneamente com sentido literal. E acontece também o contrário: uma doutrina que deve ser interpretada literalmente, por ser verdadeira, é erradamente tomada figuradamente. E é isso que divide o cristianismo. Com todo o respeito que devemos ter para com os dogmas cristãos, como se deve ter para com todas as crenças, a maior polêmica cristã de todos os tempos é a relacionada com a identidade de Jesus. A corrente mais forte é a cristológica que afirma que Jesus é literalmente Deus e homem ou Deus encarnado, a qual o Concílio Ecumênico de Niceia, em 325, proclamou como dogma. Outra corrente é a doceta, que diz que Jesus é só Deus. E uma terceira é a adocionista-ariano-espírita, para a qual Jesus é só homem. Esta é a do Jesus histórico, racional, verdadeiro, pluralista, do Jesus do amor, da fraternidade, da tolerância e da paz. As outras duas são do Jesus mítico e, pois, deveriam ser interpretadas alegoricamente, mas o são literalmente por muitos cristãos, daí que são polêmicas e até arrastam muitos cristãos à indiferença religiosa e mesmo ao ateísmo.

E as doutrinas cristãs míticas ou alegóricas as autoridades hierárquicas cristãs transformaram em dogmas, pois elas encontraram grande resistência por parte dos teólogos adocionistas, arianos e, a parir de Kardec, dos teólogos espíritas. E essas polêmicas continuarão até que, um dia, os teólogos dogmáticos e míticos aceitem a verdade do Jesus real e histórico, ou seja, o Messias Homem prometido no Velho Testamento que foi enviado por Deus ao nosso mundo habitado por homens, para ser o nosso modelo, de acordo com a vivência do Evangelho que o Messias homem veio nos trazer, e pelo que Ele se transformou no Salvador da Humanidade. Mas longe de nós a ideia politeísta absurda de outro Deus ou a não menos absurda de que Deus enviou a si mesmo ao nosso mundo!

Os teólogos dogmáticos e míticos dizem que os espíritas não são cristãos (silenciando-se sobre os arianos e adocionistas). Mas os espíritas são cristãos sim, pois às palavras dos teólogos se opõem as de Jesus que afirmou, em João 13:35, que seus discípulos seriam conhecidos por se amarem uns aos outros! E por que essa discriminação contra os espíritas? Porque o Espiritismo incomoda muito? E por que incomoda?

 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita