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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Combatendo o nepotismo


Este modesto escriba acredita firmemente que o conhecimento trazido a lume pelo Espiritismo pode ajudar não apenas os indivíduos, mas também as instituições e a sociedade. Produto da sabedoria divina, o Espiritismo pode contribuir para o aperfeiçoamento de todas as instâncias de poder e níveis sociais. Cumpre lembrar que a Terra, dado o seu atrasado estágio de desenvolvimento moral, necessita urgentemente de novos arranjos, modelos e sistemas de funcionamento, bem como de comportamento humano dignificante.

Afinal de contas, o homem hodierno continua atado à sua ânsia desvirtuada por obter vantagens injustificáveis em suas esferas de influência e/ou intervenção. Não convencido ainda do imperativo da exemplificação comportamental, tenta auferir de todas as formas possíveis ganhos ou lucros indevidos. Nesses tentames infelizes, o que menos importa é a questão ética. No presente texto gostaria de focar particularmente no fenômeno do nepotismo, já que se trata de conduta ilegal, mas nem por isso completamente banida. De fato, somos lembrados - vez ou outra - de que tal distorção ainda não foi obliterada de nossas instituições. Há sempre alguém disposto a passar por cima das normas e leis em seu próprio benefício ou de alguém pertencente ao seu círculo.

Lamentavelmente, as ideias e práticas saudáveis e justas levam muito tempo para serem assimiladas pela sociedade. O nepotismo é mais uma excrescência que surpreendentemente ainda resiste aos ventos das mudanças benfazejas. A doutrina Espírita, vale destacar, não se refere especificamente a esse assunto (não consegui encontrar material a respeito). Todavia, enfatiza, com veemência, a importância de nos conduzirmos na vida sob os alvitres dos ensinamentos de Jesus. Nesse sentido, não há neles qualquer menção ou apologia ao favoritismo descabido. Pelo contrário, o Mestre dos Mestres deixou-nos o legado do seu sacrifício em favor da humanidade. Seus apóstolos não foram poupados das pedras e tombos do caminho, e cada um deles carregou a sua própria cruz. Portanto, está subentendido na visão cristã espírita que a prática do nepotismo é simplesmente uma anomalia. 

Sob tal inspiração, a propósito, a criatura humana é incitada a refletir e, sobretudo, agir em benefício do outro, mas de maneira absolutamente desinteressada. Admitamos: são recomendações/diretrizes impalatáveis para a maioria das pessoas. Abrir mão dos próprios interesses é algo que apavora a muitos que apenas vislumbram as vantagens pecuniárias indevidas nas relações. Todavia, na ótica cristã, somos instados a nos colocarmos no lugar dos outros; a raciocinar tomando por base o nosso vizinho, seus direitos e necessidades; a aguardar na fila por nossa vez, pois “os últimos serão os primeiros”; a construirmos um patrimônio moral e assim por diante.  

Essa desafiadora filosofia de vida advoga a necessidade do sacrifício pessoal, do desprendimento, da justiça e da correção nas atitudes e pensamentos. Nela temos claramente colocado o desafio de sermos seres eticamente melhores. Dito isso, o Espiritismo nos lembra também os efeitos decorrentes da lei de ação e reação. Desse modo, ao tomarmos imerecidamente o lugar de alguém estamos nos comprometendo perante Deus e as suas leis imutáveis e justas. Por isso, se há uma bússola a ser seguida pela criatura humana, esta é a do bem. Conforme ponderou Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo, “... o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as Leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus”.

Quem gosta de ser prejudicado? Quem gosta de ser passado para trás, especialmente por meios ilícitos? Quem se sente bem em ver os seus direitos desrespeitados? Acredito que ninguém, em sã consciência, se sentirá satisfeito sob tais circunstâncias. Assim sendo, é preciso alargar o pensamento e incorporar noções e valores superiores de conduta. Só assim mudaremos as coisas em nosso mundo para melhor. Ou seja, mudando a nós mesmos para mudarmos o resto. Voltando ao Espiritismo, fomos já devidamente esclarecidos de que “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”. Ora, não há nada de descente ou elogiável em se beneficiar de decisões que premiem o nepotismo. Num sentido mais amplo, trata-se de algo repugnante que compete a todos nós execrar, especialmente se já carregamos as luzes da fé esclarecida dentro de nós. A criatura humana deve ser alçada aos postos de trabalho pelo seu real valor e capacidade, não por conchavos obscuros.  

 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita