Combatendo o nepotismo
Este modesto escriba acredita firmemente que o
conhecimento trazido a lume pelo Espiritismo pode ajudar
não apenas os indivíduos, mas também as instituições e a
sociedade. Produto da sabedoria divina, o Espiritismo
pode contribuir para o aperfeiçoamento de todas as
instâncias de poder e níveis sociais. Cumpre lembrar que
a Terra, dado o seu atrasado estágio de desenvolvimento
moral, necessita urgentemente de novos arranjos, modelos
e sistemas de funcionamento, bem como de comportamento
humano dignificante.
Afinal de contas, o homem hodierno continua atado à sua
ânsia desvirtuada por obter vantagens injustificáveis em
suas esferas de influência e/ou intervenção. Não
convencido ainda do imperativo da exemplificação
comportamental, tenta auferir de todas as formas
possíveis ganhos ou lucros indevidos. Nesses tentames
infelizes, o que menos importa é a questão ética. No
presente texto gostaria de focar particularmente no
fenômeno do nepotismo, já que se trata de conduta
ilegal, mas nem por isso completamente banida. De fato,
somos lembrados - vez ou outra - de que tal distorção
ainda não foi obliterada de nossas instituições. Há
sempre alguém disposto a passar por cima das normas e
leis em seu próprio benefício ou de alguém pertencente
ao seu círculo.
Lamentavelmente, as ideias e práticas saudáveis e justas
levam muito tempo para serem assimiladas pela sociedade.
O nepotismo é mais uma excrescência que
surpreendentemente ainda resiste aos ventos das mudanças
benfazejas. A doutrina Espírita, vale destacar, não se
refere especificamente a esse assunto (não consegui
encontrar material a respeito). Todavia, enfatiza, com
veemência, a importância de nos conduzirmos na vida sob
os alvitres dos ensinamentos de Jesus. Nesse sentido,
não há neles qualquer menção ou apologia ao favoritismo
descabido. Pelo contrário, o Mestre dos Mestres
deixou-nos o legado do seu sacrifício em favor da
humanidade. Seus apóstolos não foram poupados das pedras
e tombos do caminho, e cada um deles carregou a sua
própria cruz. Portanto, está subentendido na visão
cristã espírita que a prática do nepotismo é
simplesmente uma anomalia.
Sob tal inspiração, a propósito, a criatura humana é
incitada a refletir e, sobretudo, agir em benefício do
outro, mas de maneira absolutamente desinteressada.
Admitamos: são recomendações/diretrizes impalatáveis
para a maioria das pessoas. Abrir mão dos próprios
interesses é algo que apavora a muitos que apenas
vislumbram as vantagens pecuniárias indevidas nas
relações. Todavia, na ótica cristã, somos instados a nos
colocarmos no lugar dos outros; a raciocinar tomando por
base o nosso vizinho, seus direitos e necessidades; a
aguardar na fila por nossa vez, pois “os últimos serão
os primeiros”; a construirmos um patrimônio moral e
assim por diante.
Essa desafiadora filosofia de vida advoga a necessidade
do sacrifício pessoal, do desprendimento, da justiça e
da correção nas atitudes e pensamentos. Nela temos
claramente colocado o desafio de sermos seres eticamente
melhores. Dito isso, o Espiritismo nos lembra também os
efeitos decorrentes da lei de ação e reação. Desse modo,
ao tomarmos imerecidamente o lugar de alguém estamos nos
comprometendo perante Deus e as suas leis imutáveis e
justas. Por isso, se há uma bússola a ser seguida pela
criatura humana, esta é a do bem. Conforme ponderou
Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo, “...
o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus
semelhantes dão as Leis da Natureza, como quer que sejam
respeitados os seus”.
Quem gosta de ser prejudicado? Quem gosta de ser passado
para trás, especialmente por meios ilícitos? Quem se
sente bem em ver os seus direitos desrespeitados?
Acredito que ninguém, em sã consciência, se sentirá
satisfeito sob tais circunstâncias. Assim sendo, é
preciso alargar o pensamento e incorporar noções e
valores superiores de conduta. Só assim mudaremos as
coisas em nosso mundo para melhor. Ou seja, mudando a
nós mesmos para mudarmos o resto. Voltando ao
Espiritismo, fomos já devidamente esclarecidos de que “Reconhece-se
o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e
pelos esforços que emprega para domar suas inclinações
más”. Ora, não há nada de descente ou elogiável em
se beneficiar de decisões que premiem o nepotismo. Num
sentido mais amplo, trata-se de algo repugnante que
compete a todos nós execrar, especialmente se já
carregamos as luzes da fé esclarecida dentro de nós. A
criatura humana deve ser alçada aos postos de trabalho
pelo seu real valor e capacidade, não por conchavos
obscuros.
|