"Instruí-vos
na preciosa doutrina"
À memória de Cássio Ribeiro Ramos (*)
Na primeira Revelação, Moisés recebeu dez Mandamentos.
Na segunda, Jesus resumiu-os em dois Mandamentos. Na
terceira, o Espírito de Verdade oferece-nos dois
Ensinamentos.
Mandamento é algo imposto, de caráter obrigatório, que
se há de cumprir. Dirige-se a criaturas ainda na
infância espiritual.
Ensinamentos visam aos que amadureceram
intelectualmente, capazes de assimilar os preceitos da
Lei Divina e de cumpri-los, por compreendê-los.
O Espírito de Verdade oferece-nos, no lema "Espíritas!
Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este
o segundo"(1),
o roteiro ideal à nossa evolução.
No mesmo capítulo VI, item 6, o Benfeitor Espiritual
indica-nos a prioridade da instrução que devemos buscar:
"Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das
revoltas e vos mostra o sublime objetivo da provação
humana".
Não que o saber em geral seja dispensável. Ao contrário,
auxilia-nos a desenvolver a inteligência, que nos
faculta compreender, também, verdades espirituais!
Quem é o Espírito da Verdade, que assina a amorosa
orientação contida no item 5 do capítulo VI de "O
Evangelho segundo o Espiritismo": “Espíritas: amai-vos,
eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo”?
A identificação desse Espírito torna-se clara quando
lemos essa mesma mensagem em "O Livro dos Médiuns",
capítulo 31, item IX. Lá o autor da mensagem se
identifica como Jesus de Nazaré.
Dessa forma temos que o Espírito da Verdade é a
designação pela qual se denominam os Espíritos
Superiores, orientados diretamente por Jesus e que têm
como incumbência a modificação moral do planeta.
A raça humana priorizou o conhecimento. A Religião,
engessada nos dogmas da fé cega, afastou-se da Ciência,
que por sua vez encastelou-se em verdades parciais, eis
que o tempo e a evolução revogam seus conceitos
temporários. Nossa percepção da Verdade é, e ainda será
por longo tempo, parcial.
A mensagem de Jesus, que educa o sentimento e religa a
criatura ao Criador, tem sido relegada a último plano.
Boa parte da humanidade atual ainda vivencia a Lei de
Talião: o olho por olho, o dente por dente. Esquecemos o
coração, o lado humano e social, privilegiando aspectos
econômicos a qualquer preço.
É o triunfo do egoísmo, com resultados desastrosos. Em
todas as regiões do planeta o quadro é de dor, penúria e
injustiças de toda ordem. É a triste realidade que o
noticiário farto divulga a todo instante.
No dizer do nosso Francisco Cândido Xavier(2):
No Sermão da Montanha, "(...) não existe uma só
bem-aventurança destinada à exaltação da inteligência
(...), o que nós encontramos em todo o Evangelho de
Jesus é a exaltação dos sentimentos de bondade, de
humildade, de fraternidade, de abnegação, de Amor, de
perdão, enfim, Caridade! (...) Hoje a cabeça está grande
e o coração pequeno, sendo certo que a Humanidade sempre
se perdeu pelo cérebro, nunca se perdeu pelo coração!"
Os homens ainda não perceberam que Amar é a máxima
demonstração de inteligência!
Na orientação sob análise, o Espírito da Verdade exorta
particularmente os espíritas, primeiramente ao amor, e,
em seguida, à instrução. Desenvolver a capacidade de
Amar deve ser o lema de nossa existência, nosso
principal objetivo.
Há pessoas que exercem mil atividades, no entanto,
fazem-no de maneira aborrecida, nervosa, improvisada,
como se carregassem fardo pesado.
É o sintoma daqueles que não têm amor pelo que fazem. O
que realizam, nenhum mérito lhes traz.
Consultores de grandes empresas, na busca de solução
para a depressão, o alcoolismo, o desinteresse no
trabalho, chegaram à conclusão de que é a partir do Amor
que tudo deve ser desenvolvido, pois esse sentimento
confere a sensação de realização, de alegria, de paz.
Assim, caro amigo leitor, qualquer que seja a área em
que você atue, quer profissionalmente, quer no campo
social, religioso ou outra, procure desenvolver o amor
pelo que faz e pelas pessoas envolvidas nesse trabalho.
Assim fazendo, será feliz. Em vez de se desincumbir de
tarefa maçante, sentir-se-á realizado e plenamente
recompensado.
No caso dos espíritas, essa recomendação assume
particular importância, eis que oriunda de Jesus (ou de
um dos Espíritos da Codificação, em nome d'Ele), para
que bem possamos cumprir as atividades com as quais nos
comprometemos.
Assim, se você realiza algum trabalho no movimento
espírita, por mais simples que seja, verifique a quantas
anda sua capacidade de amar sua atividade e aqueles que
nela estão envolvidos.
Quanto ao segundo ensinamento, instruí-vos, observemos
que nele está implícita a necessidade de nos instruirmos
uns aos outros, ou seja, deve ser um ato de
reciprocidade.
Sem sombra de dúvida, o Espírito da Verdade está nos
dizendo que não há ninguém tão sábio que nada tenha a
aprender com o próximo, assim como não há ninguém tão
ignorante que nada tenha a ensinar.
Aquele que se julga incapaz de ensinar, deprecia-se,
vê-se inferior aos outros, o que é erro grave de
personalidade que nada tem a ver com a humildade.
Aquele que julga nada ter a aprender com ninguém, é
orgulhoso e acabará por ser vítima de seu próprio
comportamento.
A Doutrina Espírita é ampla e toca todos os campos do
conhecimento humano, de forma que dificilmente haverá
alguém que tenha domínio completo de tudo.
Assim, aquele que seja mais afeito à faceta religiosa do
Espiritismo, divulgue aquilo que sabe aos demais e
aprenda com aqueles que dão predileção ao aspecto
científico ou filosófico da Doutrina.
Instruindo-nos mutuamente, todos cresceremos em
conhecimento e a Doutrina permanecerá como fonte pura a
aliviar os que sentem sede de consolo e instrução.
A Doutrina Espírita é preciosa justamente por nos
conduzir à compreensão das Leis de Deus, que dão a cada
um segundo as próprias obras (Mt 16:27). Herdamos de nós
mesmos e não de nossos antepassados.
Explica-nos que o sofrimento é fruto de nossas ações; e
aquele que compreende a Lei de Ação e Reação elimina do
coração a revolta. Diz-nos também que podemos amenizar
provas dolorosas, amando o próximo. Faculta-nos
assimilar e viver os ensinos de Jesus. Traduz em
linguagem moderna suas lições eternas. É ou não é
realmente preciosa?
Cabe-nos, aos espíritas, divulgá-la mais e valorizá-la,
seja através do estudo, especialmente das obras de Allan
Kardec; seja da exemplificação de seus princípios, no
cotidiano e no contato com aqueles que sofrem mais do
que nós, por ignorá-la.
Não basta que nossos intelectos a compreendam, mas que
nos contagie o coração, para que o amor de Jesus flua
por nosso intermédio, beneficiando-nos a todos,
dissipando "(...) o erro das revoltas (...)" e
mostrando-nos "(...) o sublime objetivo da provação
humana"!
(*) Este artigo é uma homenagem a Cássio Ribeiro Ramos,
na Pátria Espiritual desde 18.07.1996, que nos indicou o
texto que nos recomenda instruir-nos "(...) na preciosa
doutrina".
Bibliografia:
(1) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo. 117 ed. FEB: Rio de Janeiro, 2001. Cap.
VI, it. 5, p. 130;
(2) Reformador, mai/95, p. 16.
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