Assistidos? Carentes?
Afirma Joanna de Ângelis, no livro Vida feliz,
que a palavra é instrumento da vida para a comunicação e
para o entendimento, e que o uso irregular das palavras
corrompe a mente e rebaixa o homem. Lembra, ainda, que o
verbo expressa a qualidade moral do indivíduo e que
palavras gentis são geradoras de estímulos e valores que
logram resultados preciosos.
Nós espíritas, que estamos conscientes da necessidade de
buscarmos o belo, o bom, o justo, o nobre, o correto e o
útil em todas as nossas ações, devemos ter um cuidado
especial com as expressões que habitualmente empregamos,
particularmente nas atividades espíritas, que se dão sob
a luz de entidades venerandas, em ligação com Jesus.
Embora admita, fraternalmente, opiniões distintas, vejo
como inapropriados dois termos empregados frequentemente
por nós: assistidos e carentes.
Esses termos são empregados corriqueiramente, nos
Centros espíritas, para nos referirmos às pessoas de
baixa condição socioeconômica e/ou de baixa
escolaridade, o que já pode sinalizar uma postura
excludente: “eles” têm nome para qualificá-los, enquanto
os outros não.
Além de induzir-nos a uma atitude mental separatista (os
que têm nome para qualificá-los e os outros, os que não
têm) as palavras assistidos e carentes são
inadequadas, porque não expressam a realidade da vida.
Muitos de nós podemos, em muitos aspectos do cotidiano,
ser muito mais carentes que eles: carentes de amor, de
paz, de dignidade profissional, de respeito no lar, de
experiências na dor, de luta dura para sobreviver.
Portando, carentes todos nós os somos.
O termo assistidos, por sua vez, expressa uma
postura de autossuficiência: nós, os que sabemos e os
que possuímos assistimos os pobres coitados que não
sabem e nem possuem. Assistidos somos todos nós, graças
a Deus. Pobres de nós se não fôssemos.
Buscando uma mais amorosa atitude espírita em nossas
atividades, deveríamos buscar outras palavras (ou
palavra nenhuma) para nos referimos aos nossos irmãos de
humanidade que transitoriamente vivem a doída
experiência da limitação financeira e/ou escolar. Creio
que todos ganharíamos muito com isso.
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