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por Ricardo Orestes Forni

O escorpião e o medo


Não. O título não está errado. É um artigo espírita sim. Basta apenas seguirmos com a leitura para verificarmos essa realidade.

Para desenvolvermos o assunto, utilizaremos o exemplo do escorpião amarelo que predomina nas regiões sudeste, centro-oeste e nordeste do Brasil devendo-se, portanto, a essa espécie o maior número de acidentes que vitimam o ser humano.

O escorpião gosta de lugares quentes e úmidos. Restos de lixo, pedras, papelão, onde se escondem, e saem à noite para caçar. Sua presa preferida é a barata. As casas que têm esse inseto oferecem um chamariz para o escorpião.

Essa variedade de escorpião amarelo não tem macho e fêmea. Somente a fêmea que se reproduz sozinha, dando origem de vinte a vinte e cinco filhotes por cria. Ela se reproduz duas vezes por ano e pode viver até seis anos, o que permite a estimativa de que uma fêmea colocaria no mundo cerca de cento e sessenta filhotes em média.

Esse animal adentra nosso lar através de várias formas: vão debaixo das portas, tomadas de luz, ralos de banheiro, pias etc.

O problema é que eles não nos fazem apenas uma visita à procura de comida. Entrando em uma casa, escondem-se em sapatos, colchas de cama, roupas, provocando os acidentes.

Crianças novas e adultos idosos correm perigo se forem picados e devem ser levados o mais rápido possível a um hospital que possua o soro antiescorpiônico, porque a picada nessas faixas etárias pode ser fatal.

Muitas pessoas têm tanto medo desse aracnídeo que não gostam de ouvir ou falar do assunto. Preferem ignorar as informações. O medo é útil porque permite que tomemos as medidas preventivas necessárias para evitarmos o acidente.

Diante dessa atitude, perguntamos: o fato de não se falar sobre o escorpião impedirá que eles adentrem nossas casas? Impedirá que sejamos picados? Obviamente que a resposta é não. Não falar sobre o assunto, não se inteirar do que devemos fazer para a nossa proteção e a da nossa família, representa uma atitude que nos expõe ao perigo, ao invés de evitá-lo.

Agora abordaremos o assunto propriamente na área espiritualista da existência.

Uma grande maioria não gosta de falar sobre a morte física. Desviam-se desse assunto, mal eles surgem. Algumas se benzem. Outras batem na madeira. Muitas propõem mudar de assunto. Comparecer a um velório, então, com o corpo dentro de um caixão, faça-me o favor!

Muito bem. Nessa hora e mediante essa atitude frequente, impõe-se a pergunta semelhante à que fizemos sobre o escorpião: não falar sobre a morte afasta essa “inimiga” das vidas das pessoas que se recusam a falar ou ouvir sobre o assunto, principalmente se estão doentes?

Irmão José, no livro Com Cinco Pães e Dois Peixes, no capítulo 40, tem uma página que assim nos orienta: Se te encontras gravemente enfermo, tem paciência. Não te creias desamparado pela Bondade Divina. Recorda-te dos dias sem conta que desfrutaste de invejável saúde. O corpo físico é mesmo suscetível de periódicos achaques. Submete-te a indispensável tratamento médico e confia em Deus. Se a tua hora não chegou, ainda que sejas desenganado pela Medicina, não partirás. (grifo nosso)

É necessário falar sobre a morte, porque ela é uma certeza absoluta da vida. A criança no berçário que mal deixou o útero materno começa a morrer.

Não adianta esconder o animal de estimação de nossos filhos que morreu, para que eles não tomem conhecimento de que a morte existe. Mais cedo ou mais tarde eles entrarão em contato com essa realidade.

O único remédio para a morte é o bem viver. Vejam bem: o bem viver e não o viver bem.

Para quem tem alguma dúvida sobre essa diferença, basta observar a vida de Chico Xavier, madre Teresa de Calcutá, Divaldo Franco, irmã Dulce, Yvonne do Amaral Pereira, para citarmos alguns poucos exemplos mais próximos de nosso tempo.

N’O Livro dos Espíritos, na questão 853, Kardec pergunta sobre a fatalidade de escapar à morte. A resposta é bastante clara: Não há de fatal, no verdadeiro sentido da palavra, senão o instante da morte. Quando esse momento chega, seja por um meio ou por outro, não podeis dele vos livrar.

Ora, se essa é uma fatalidade da qual ninguém escapará, não é melhor meditarmos sobre ela para que estejamos preparados da melhor maneira pelo bem viver?

Da picada do escorpião, com os devidos cuidados, ainda poderemos nos safar, mas de partir do mundo material, jamais!

Pelo menos, até hoje, ninguém encontrou alguém que tivesse ficado para semente...



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita