O escorpião e o medo
Não. O título não está errado. É um artigo espírita sim.
Basta apenas seguirmos com a leitura para verificarmos
essa realidade.
Para desenvolvermos o assunto, utilizaremos o exemplo do
escorpião amarelo que predomina nas regiões sudeste,
centro-oeste e nordeste do Brasil devendo-se, portanto,
a essa espécie o maior número de acidentes que vitimam o
ser humano.
O escorpião gosta de lugares quentes e úmidos. Restos de
lixo, pedras, papelão, onde se escondem, e saem à noite
para caçar. Sua presa preferida é a barata. As casas que
têm esse inseto oferecem um chamariz para o escorpião.
Essa variedade de escorpião amarelo não tem macho e
fêmea. Somente a fêmea que se reproduz sozinha, dando
origem de vinte a vinte e cinco filhotes por cria. Ela
se reproduz duas vezes por ano e pode viver até seis
anos, o que permite a estimativa de que uma fêmea
colocaria no mundo cerca de cento e sessenta filhotes em
média.
Esse animal adentra nosso lar através de várias formas:
vão debaixo das portas, tomadas de luz, ralos de
banheiro, pias etc.
O problema é que eles não nos fazem apenas uma visita à
procura de comida. Entrando em uma casa, escondem-se em
sapatos, colchas de cama, roupas, provocando os
acidentes.
Crianças novas e adultos idosos correm perigo se forem
picados e devem ser levados o mais rápido possível a um
hospital que possua o soro antiescorpiônico, porque a
picada nessas faixas etárias pode ser fatal.
Muitas pessoas têm tanto medo desse aracnídeo que não
gostam de ouvir ou falar do assunto. Preferem ignorar as
informações. O medo é útil porque permite que tomemos as
medidas preventivas necessárias para evitarmos o
acidente.
Diante dessa atitude, perguntamos: o fato de não se
falar sobre o escorpião impedirá que eles adentrem
nossas casas? Impedirá que sejamos picados? Obviamente
que a resposta é não. Não falar sobre o assunto, não se
inteirar do que devemos fazer para a nossa proteção e a
da nossa família, representa uma atitude que nos expõe
ao perigo, ao invés de evitá-lo.
Agora abordaremos o assunto propriamente na área
espiritualista da existência.
Uma grande maioria não gosta de falar sobre a morte
física. Desviam-se desse assunto, mal eles surgem.
Algumas se benzem. Outras batem na madeira. Muitas
propõem mudar de assunto. Comparecer a um velório,
então, com o corpo dentro de um caixão, faça-me o favor!
Muito bem. Nessa hora e mediante essa atitude frequente,
impõe-se a pergunta semelhante à que fizemos sobre o
escorpião: não falar sobre a morte afasta essa “inimiga”
das vidas das pessoas que se recusam a falar ou ouvir
sobre o assunto, principalmente se estão doentes?
Irmão José, no livro Com Cinco Pães e Dois Peixes,
no capítulo 40, tem uma página que assim nos orienta: Se
te encontras gravemente enfermo, tem paciência. Não te
creias desamparado pela Bondade Divina. Recorda-te dos
dias sem conta que desfrutaste de invejável saúde. O
corpo físico é mesmo suscetível de periódicos achaques.
Submete-te a indispensável tratamento médico e confia em
Deus. Se a tua hora não chegou, ainda que sejas
desenganado pela Medicina, não partirás. (grifo
nosso)
É necessário falar sobre a morte, porque ela é uma
certeza absoluta da vida. A criança no berçário que mal
deixou o útero materno começa a morrer.
Não adianta esconder o animal de estimação de nossos
filhos que morreu, para que eles não tomem conhecimento
de que a morte existe. Mais cedo ou mais tarde eles
entrarão em contato com essa realidade.
O único remédio para a morte é o bem viver. Vejam bem: o
bem viver e não o viver bem.
Para quem tem alguma dúvida sobre essa diferença, basta
observar a vida de Chico Xavier, madre Teresa de
Calcutá, Divaldo Franco, irmã Dulce, Yvonne do Amaral
Pereira, para citarmos alguns poucos exemplos mais
próximos de nosso tempo.
N’O Livro dos Espíritos, na questão 853, Kardec
pergunta sobre a fatalidade de escapar à morte. A
resposta é bastante clara: Não há de fatal, no
verdadeiro sentido da palavra, senão o instante da
morte. Quando esse momento chega, seja por um meio ou
por outro, não podeis dele vos livrar.
Ora, se essa é uma fatalidade da qual ninguém escapará,
não é melhor meditarmos sobre ela para que estejamos
preparados da melhor maneira pelo bem viver?
Da picada do escorpião, com os devidos cuidados, ainda
poderemos nos safar, mas de partir do mundo material,
jamais!
Pelo menos, até hoje, ninguém encontrou alguém que
tivesse ficado para semente...