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por Orson Peter Carrara

 

Parâmetros de advertência
 
Favorecido pela abertura do amigo, entrevistei em determinada cidade um frequentador comum de nossas instituições espíritas. Jovem na idade e na atividade espírita, fez considerações importantes sobre sua visão do movimento. Parece-nos uma advertência sincera e oportuna a todos nós, dirigentes, palestrantes, coordenadores de estudos, recepcionistas, atendentes. Não que tenhamos que concordar com tudo, até por força de circunstâncias variadas e detalhes peculiares a cada local ou instituição, mas a leitura de suas respostas levará a grave reflexão. O entrevistado preferiu não se identificar. Respeitei sua decisão e apresento suas respostas aos questionamentos que fizemos, e que foram resultantes de nossos diálogos preliminares:

Quais as impressões que lhe causaram o conhecimento espírita? Não o conhecimento dos espíritas, das casas e instituições com suas atividades, mas o Espiritismo mesmo, em seus fundamentos, em seu coração? Que tipo de impacto ou impressões lhe trouxe esse conhecimento?

Cresci fora da Doutrina Espírita e não sabia muito o que esperar, não criei expectativas, apenas fui conhecer. O conhecimento me libertou de algo que me consumia e que poderia chamar de obrigação e me mostrou que a fé está longe de ser uma leitora de palavras, mostrou-me que é na simplicidade que está a verdadeira fé, nas atitudes do dia a dia, no amor ao próximo.

E como você vê a programação das instituições que trabalham em nome do Espiritismo?

Gosto muito da programação em mídias sociais, especialmente as palestras disponíveis no YouTube, que são canais que me atraem pelo fato dos meus horários sempre corridos. As atividades das casas espíritas, todavia, não me atraem muito, pelo fato de faltar uma linguagem mais simples e mais despojada.

O que lhe causa mais estranheza? Por quê?

O que me causa mais estranheza é a falta de palavras simples e de amor. Tenho receio de chegar ao centro hoje porque se tornou algo que temos por obrigação baixar a cabeça e escutar. Acredito que o conteúdo espírita abre um leque gigante de perguntas e seria muito interessante poder participar mais, ter oportunidade de perguntar, debater mais, participar.

O que acha que realmente falta? Por quê?

Me faz imensa falta estar junto às pessoas, falta o face a face das perguntas, do bate-papo, do amor, da espontaneidade, do riso, da alegria. Sinto falta porque isso está afastando muitas pessoas de minha idade (estou na faixa dos 30 a 40 anos), pois a sensação que os dirigentes e palestrantes, ou coordenadores de grupo, passam, é de uma doutrina triste. Creio, pelo que já conheço, que o Espiritismo não veio apenas para falar de morte ou sofrimento, ou aflições. Ele tem uma mensagem de esperança e alegria, que não é repassado aos frequentadores. Por isso, em muitas instituições, ele se tornou a doutrina da morte, apenas do consolo após a morte. Mas e o agora da presente oportunidade? No meu entender da alma imortal, com a vida que continua, não está faltando uma integração dessa continuidade natural. Parece-nos pela maneira como está sendo conduzido que precisamos chorar e temer. Infelizmente a mensagem de alegria e esperança, desde os dias presentes – onde nos debatemos com tantos desafios – não está sendo passada.

Embora você conheça o Espiritismo na cidade onde reside, como sente o movimento em si pelo país, pelas notícias que pode captar pela mídia impressa ou virtual?

Não consigo sentir. O movimento espírita é de difícil acesso. Quando pesquiso algo, sinto que o Espiritismo é uma doutrina que se esconde, embora eu saiba que não é vaidosa. Sei da força que tem, que não precisa de holofotes, mas muitos daqueles que falam em seu nome prezam esses holofotes. Gostaria que se mostrasse mais em ações e iniciativas que o tornassem mais acessível ao grande público. Para que o conheçam e o busquem não para saberem apenas da morte e seus desdobramentos, mas especialmente por amarem a própria vida.

O que acha das lideranças espíritas?

Não sou a melhor pessoa para julgar as lideranças espíritas, porém gostaria que se espelhassem mais na evangélica, nos sinceros líderes evangélicos, que se aproximam amorosamente do público.

E dos palestrantes que usam da palavra para divulgar a ideia espírita?

Na maioria das vezes, e como eu observo e escuto muitas pessoas ao meu redor - pessoas como eu - a divulgação e as palestras me deixam sem entender... usam muito teor TÉCNICO em meio de pessoas simples que queriam apenas ouvir algo pra alegrar... Vejo que as palestras onde existem músicas e algo como teatro e bate-papo são as que mais lotam, por serem de fácil entendimento e sentimento.

E dos coordenadores de grupos de estudos?

Falta humanidade, aquela de se colocarem mais no lugar do próximo, que ali está ao lado deles.

Se pudesse resumir seus sentimentos ou impressões para sugerir aperfeiçoamento nas atividades dos centros, o que diria em termos gerais?

Quando fui a primeira vez me senti alegre de uma maneira inexplicável... Fui recebida com sorrisos... um amor gigante. Ali me sentia preenchida e com isso enchia meu coração de alegria... As atividades eram cheias ... Mas faltou complemento, tipo calor humano, algo que me deixasse mais perto do Espiritismo... A meu ver parece que o Espiritismo é apenas para os escolhidos...

E na integração da criança e do jovem nas atividades espíritas, o que considera importante?

Eu mudaria a forma de chamar esses jovens. Com danças, cantos, teatros, fazer o Espiritismo chegar de outra forma, chegar leve, sem cobrança, sem perfeição, apenas ser espírita.

E da linguagem e tipos de estudos utilizados nas preleções e grupos? 

Precisa ser mais simples. Está muito técnica.

E para quem se aproxima agora do Espiritismo, considera que a linguagem atende à expectativa? Por quê?

Como já referi, por ouvir muitas pessoas em meu dia a dia, infelizmente acredito que a maioria procura um consolo pelas aflições ou pela morte de entes queridos, mas em alguns casos dirigentes, palestrantes e coordenadores de grupos de estudos estão assustando as pessoas e essas se afastam gradativamente.

O que seu coração pode dizer aos espíritas?

Amem sem julgamento. Apenas amem. Na simplicidade é que aprendemos e reconhecemos Jesus. O Espiritismo não é a salvação ou pós/mestrado da inteligência religiosa. Ao contrário, o Espiritismo ainda é o ensino fundamental, que consola, que conforta e orienta. Temos muito ainda a aprender – com a prática, pouco com a teoria.

E aos que agora se aproximam?

Espiritismo é amor, é aceitação, é perdão, é fé no futuro. É fé na vida.

E aos palestrantes? 

Sorriam nas palestras. Afinal estamos ainda todos encarnados.

E aos dirigentes?

Evitem julgamentos, isso só afasta as pessoas.


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Agora ficam conosco as reflexões que queiramos fazer, aproveitando ou não os parâmetros citados.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita