O amor
que não
se cansa
O
cansaço
e a
exaustão
nos
remetem
sempre a
uma
limitação
individual,
algo que
nos
impede
de
seguir
com toda
energia
rumo à
consecução
de
nossos
objetivos.
Atentei-me
que
vivemos
refletindo
sobre
nossas
vidas
aqui no
orbe,
nossas
atividades,
a
natureza,
mas
quase
nunca
falamos
sobre os
nobres
trabalhadores
do
Cristo
que, em
silêncio,
operam
os
mandamentos
do
evangelho
sem
cessar.
Por isso
gostaria
de falar
sobre a
amorosidade
da
espiritualidade
superior
para
conosco.
Saímos
de
tempos
remotos
em que
achávamos
que a
assessoria
dos
Espíritos
em
nossas
vidas só
se dava
porque
eles
tinham
metas
idênticas
às
humanas,
precisando
que
fizessem
sacrifícios
os mais
variados,
para
operarem
assim a
nosso
favor.
Passamos
por
longos
séculos
num
verdadeiro
escambo
com Deus
e seus
emissários,
procurando
satisfazer
nossas
necessidades
materializadas,
e dando
em
troca,
ao mundo
espiritual,
algum
tipo de
sacrifício
coisificado.
Podemos
refletir
que
nessa
época,
devido à
nossa
falta de
uma fé
mais
refinada,
Deus
seria
como
nosso
capataz,
apto a
nos
atender,
mas que
poderia
também
“se
cansar”
da
gente,
caso
materialmente
não lhe
rendêssemos
as
devidas
honrarias.
Isso fez
com que
criássemos
tantos
templos
e atos
puramente
externos,
uma vez
que
falar
com a
divindade
começou
a
precisar
de um
local
“sagrado”,
paramentos
adequados,
que
representassem
quão
especial
e
superior
era o
momento
do
contato
com o
sobrenatural.
Minha
mente,
como
sempre,
procura
Francisco
de Assis
para
refletir.
Procuro
o que
hoje ele
poderia
me dizer
a
respeito
da
permanência
do amor
de Deus.
Uma vez
ele e
Frei
Leão
estavam
vindo,
durante
o
inverno
de
Perúgia,
para
Santa
Maria
dos
Anjos. E
como
estavam
atormentados
pelo
frio, o poverello chama
seu
colega
que ia
mais à
frente e
diz
assim:
“Irmão
Leão,
ainda
que o
frade
menor
desse na
Terra
inteira
grande
exemplo
de
santidade
e de boa
edificação,
escreve
e anota
diligentemente
que
nisso
não está
a
perfeita
alegria.
E vai
durante
o
caminho,
cada vez
com mais
entusiasmo,
enumerando
onde a
alegria
não
está.
Frei
Leão
depois
de ouvir
todas as
afirmações
de
Francisco,
lhe
indaga
sobre
onde
então a
alegria
estaria.
Francisco
responde:
“Quando
chegarmos
a Santa
Maria
dos
Anjos,
inteiramente
molhados
pela
chuva e
transidos
de frio,
cheios
de lama
e
aflitos
de fome,
e
batermos
à porta
do
convento
e o
porteiro
chegar
irrigado
e
disser:
“Quem
são
vocês?”,
e nós
dizermos:
“Somos
dois dos
vossos
irmãos”,
e ele
disser:
“Não
dizem a
verdade;
são dois
vagabundos
que
andam
enganando
o mundo
e
roubando
as
esmolas
dos
pobres.
Fora
daqui, e
não nos
abrir e
deixar-nos
estar ao
tempo, à
neve e à
chuva,
com frio
e fome
até à
noite...
Então,
se
suportarmos
tal
injúria
e tal
crueldade,
tantos
maus-tratos,
prazenteiramente,
sem nos
perturbarmos
e sem
murmurarmos
contra
ele, e
pensarmos
humildemente
e
caritativamente
que o
porteiro
verdadeiramente
nos
tinha
reconhecido
e que
Deus o
fez
falar
contra
nós: ó
Irmão
Leão,
escreve
que nisso
está a
perfeita
alegria”.
Quem ler
a
história
toda,
irá
perceber
que ele
nomeia
todas as
circunstâncias
que
estavam
passando
pela sua
mente, e
que
poderiam
ser
obstáculos
à
manutenção
de seu
contato
espiritual
permanente
com
Deus.
Uma a
uma,
conforme
falava,
ia se
desprendendo
mentalmente
das
armadilhas
morais
que
todas
elas
possuíam,
quando
afirmava,
ao final
da
frase,
que a
alegria
verdadeira
não se
encontrava
nelas.
Essa era
a única
preocupação
permanente
em seu
coração:
se
desfazer
de tudo
o que
lhe
mantinha
distante
de Nosso
Senhor.
Hoje em
dia,
estamos
começando
a
compreender
que a
não
aproximação
ou
distanciamento
de Nosso
Senhor
não se
fará
pelas
nossas
posses,
pelos
templos
e
ornamentos
que
fazemos
em
homenagem
a Deus.
Estamos
nos
voltando
aos
princípios
franciscanos,
cada vez
mais,
compreendendo
que
deveria
ser um
anseio
nosso a
busca
pelo
teste
que vem
pelas
mãos
alheias.
Francisco
nos fala
do
verdadeiro
“piacere”
que
existe
em se
consumir
através
da
renúncia
das
próprias
vontades,
colocando-se
à
disposição
do que o
outro
tem a
nos
oferecer.
Essa
seria a
primeira
parte
presente
em toda
atitude
franciscana,
que
podemos
chamar
de recepção.
A
segunda
parte é
de devolução:
trata de
devolver
ao outro
todo o
bem que
for
possível
ao seu
coração
com
extrema
humildade,
tendo a
consciência
exata de
que o
outro
sabe que
está
sendo
injusto
com você
(o
porteiro
teria
fingido
não
reconhecer
os dois
frades),
sabe
como e
quando
lhe
ferir, e
assim o
faz,
porque
pode na
ocasião.
Francisco
insiste
que
quanto
mais for
assim,
mais
verdadeira
se fará
a
alegria.
Na
terceira
parte do
movimento,
Francisco
diz para
Frei
Leão que
a
alegria
verdadeira
estaria
em
compreender
que o
porteiro,
o frio,
o abuso,
a fome,
as
injúrias
tratavam-se
de pura
e
amorosa
permissão
divina
para
nosso
aprendizado.
Francisco
falava a
respeito
da
Onisciência
de Deus
de todos
os
momentos
de
nossas
vidas,
podendo
esse
derradeiro
movimento
de sua
atitude
se
chamar
de submissão.
Podemos
imaginar
que, por
isso,
amava
tanto a
natureza.
Porque
mantinha
constante
o
pensamento
de que
nem uma
folha
cai sem
a
vontade
de Nosso
Pai.
Então o
fechamento
do
pensamento,
que
contém
as 3
ações
que
costuram
de luz
nossa
roupagem
nupcial
para com
o
divino,
tem a
ver com
o
entendimento
da
subalternidade
e
presença
plena de
Deus
para
conosco,
em cada
instante
de
nossas
vidas. Recepção,
ação e
submissão
à
vontade
divina.
Será
sempre
nesse
movimento
de ações
que
encontremos
a
verdadeira
alegria
de ser e
viver,
segundo
o poverello.
Podemos
aplicar
em todos
os
movimentos
da vida
essa
regra de
luz, e
ela
brilhará
nos
mostrando
a
verdade
de sua
prática.
A
espiritualidade
amiga
que nos
acompanha
não se
cansa
nunca de
nós,
porteiros
imprevidentes
de
castelos
em
construção.
Creio
que seja
porque
eles
aplicam
as 3
etapas
que
compõem
o agir
franciscano,
constantemente
em nós.
Seja no
frio
quando
deixamos
Perúgia,
ou no
Verão de
nossa
chegada
em
Assis,
invariavelmente,
continuam
conosco
nos
amparando,
nos
amando e
nos
orientando
o
caminho
mais
adequado
a
seguir,
nos
lembrando
suavemente
quando
permitimos
que não
haverá
contato
mais
íntimo,
com
Nosso
Senhor e
com eles
próprios,
do que
nossas
ações na
alegria
do bem
servir,
sem
reservas.
Valéria
Xavier é
palestrante
e
articulista
espírita
radicada
no
Distrito
Federal. |