Macambúzios mercenários do “Evangelho”
É justo transformar um templo religioso em uma Agência
Mercantil? Em uma espécie de núcleo financeiro
lucrativo? Será que Deus aprova tal procedimento? Foi
isso o que nos ensinou Jesus? Viver o Evangelho, Sim!
Embolsar dinheiro à custa da mensagem do Cristo, Nunca!
Até porque nada é tão ilegítimo para um cristão que o
exercício da mercantilagem do Evangelho.
É deprimente identificarmos “religiosos” (ressalvando-se
honrosas exceções) que se postam quais “missionários” do
Cristo, com evidente desprezo ao código sublime do amor
ao próximo. Tais líderes distinguem-se pelo verbalismo
descomedido, comentam tediosos os mais variados
assuntos, inobstante não chegarem a qualquer arremate de
raciocínio. Exaltam as emoções infelizes da arrogância
entre os seus seguidores, cumulando-os de alusões
faustosas embora vazias de sentido.
O Cristo advertiu em vários segmentos do Evangelho sobre
os “evangelizadores” oportunistas, comparando-os a
"lobos em pele de cordeiros". A lógica humana é
dilacerada diante da exploração da fé. Não há como
emudecer perante os que se valem das redes de televisão,
jornais, livros, internet e rádios para pregar o
Evangelho em “nome de Deus”, deslumbrando os seguidores,
afirmando que a clemência do Pai somente pode ser obtida
através da doação de dinheiro.
O que assistimos presentemente são reedições das
ardilosas vendas de indulgências, matriz da Reforma
Protestante. Mas, se alguém surge dizendo-se “apóstolo”
do Cristo, desconfiemos da sua sanidade mental, pois na
realidade o que tem surgido são “mercenários” e não
missionários do Mestre. Tais pregadores exaltam a
ignorância com altas doses de soberba e se alardeiam
guias e evangelistas. Há muitos falsos cristos e falsos
profetas representados por filosofias, doutrinas, seitas
e religiões mercantilistas que escravizam os homens e
exploram a boa-fé das pessoas que sofrem.
Jesus, há dois mil anos, repreendeu: "Está escrito: A
minha casa será chamada casa de oração. Porém, vós a
tendes transformado em covil de ladrões". (1) Hoje,
discorrem sobre as escrituras numa maníaca exaltação do
Cristo, atrelam suas prédicas à moeda de troca, onde
quem for mais generoso (mão aberta) e destinar maior
quantia em dinheiro terá maior benefício “celestial”. Os
desprevenidos seguidores nutrem-se da "fé cega" que lhes
é infligida por meio de discursos abrasados e encenações
de pseudoexorcismos, onde o que de fato ocorre são
catarses anímicas e/ou “incorporações” de obsessores que
se deleitam diante dos patéticos e deprimentes
espetáculos.
E, como se não bastasse, comercializam-se os mais
singulares amuletos quais “potes com água do Rio
Jordão”; “frascos de perfumes e óleos com cheiro de
Jesus”; “pedras do templo onde Jesus pregou”; “caixinha
contendo porção de areia pisada por Jesus”; “fragmentos
de madeiras da cruz do Calvário”; “lotes, casas e
mansões no céu”. É evidente que um santuário religioso
não pode ser análogo à loja comercial onde se negociam
mercadorias com Deus. Será que desconhecem que o templo
cristão é local para meditações e cogitações sobre os
desacertos e diligências para melhoria de comportamento
de cada um de nós?
O que dizer dos “evangelistas” de grandes plateias que
cobram fortunas para pregar, que alimentam através da
eloquência verbal a idolatria da sua personalidade? São
vendilhões modernos e profissionais do Evangelho que
execram trabalhar, abominam o argumento de que o Cristo
nos convidou a carregar nossas “cruzes”, granjear "o
pão" com o “suor” de nosso trabalho, e que só
granjearemos o “Reino dos Céus”, isto é, a paz de
espírito, se fizermos ao semelhante o que desejamos a
nós mesmos. Sim! “Ai de vós, condutores de cegos, pois
que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, nada é; mas
o que jurar pelo ouro do templo, ou pela oferta, este
faz certo. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: a
oferta, o ouro, ou o templo de Deus?” (2)
A única moeda que o Criador acolhe como câmbio é o amor
ao próximo. Todavia, infelizmente, boa parte do legado
religioso que se transfere para as atuais gerações tange
à cobiça, ao encanto dos sentidos físicos, à conquista
de poder a todo custo, cedendo cancha à brutalidade e à
confusão. O fanatismo que vem sendo desenvolvido em
torno do misticismo decrépito, investido para amealhar
recursos monetários, visando patrocinar a “saúde”
daqueles que mais prontamente a possam comprar a peso de
ouro, tem oferecido ambiente ao materialismo e ao
utilitarismo em que as pessoas se deleitam, afastadas da
misericórdia, da solidariedade, da fraternidade, ante o
desafio da autêntica experiência do amor ao próximo,
conforme vivido por Jesus.
Paulo escreveu: “De fato, grande fonte de lucro é a
piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido
para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo
sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora,
os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e
em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as
quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o
amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns,
nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se
atormentaram com muitas dores. Tu, porém, ó homem de
Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a
piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão”. (3)
Por essas muitas razões é fácil perceber que
presentemente os autênticos adeptos do Evangelho ainda
formam pequenino grupo muito semelhante ao período das
dolorosas experiências dos três primeiros séculos de
disseminação da mensagem do Cristo nos domínios de
César.
Referências bibliográficas:
(1) (Mateus, XXI; 12 e 13).
(2) (Mateus, XXIII; 16).
(3) (1 Timóteo 6:6-11)