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por Ricardo Orestes Forni

Lá naquela época...


Lá naquela época, que eu desejo mencionar, trata-se da década de sessenta do século XX, quando, então, eu cursava o chamado de ginasial que hoje mudou de nome para ensino fundamental dois.

Longe, não? Pois é, mas, naquela época, pelo menos nas escolas e no respeito aos professores, tudo era diferente, muito diferente! Agredir um professor em plena sala de aula como fazem hoje?! Só se o aluno estivesse desequilibrado, porque as consequências existiam! Hoje... por exemplo, se um aluno fosse colocado para fora da classe por algum ato de indisciplina, a chance de ser suspenso era muito grande. E se isso acontecesse os pais iam a favor da escola e não do filho punido.

Também naquela época, quando o professor anunciava em aula puxando a sua caderneta com o registro da presença dos alunos e da matéria lecionada, a data de marcação de provas, instalava-se na classe uma insatisfação muito grande. Não fossem essas “benditas” provas e o ambiente da escola era agradável, pensávamos então. Lá encontrávamos amigos. Rolava uma boa conversa. Trocávamos sonhos. Observávamos as meninas que falavam de maneira mais intensa ao nosso gosto. Saboreávamos o lanche que tinha um gosto especial. Aguardávamos pelo sinal. Controlávamos o tempo que dispúnhamos para continuar a conversa interessante.

Mas quando eram anunciadas as datas das provas, parecia que um miasma desfavorável penetrava em nossas disposições. Aí começavam as perguntas: “Professora, mas vai cair toda a matéria?!” Quando a resposta era a nosso favor, ou seja, ia ser exigido apenas um determinado período lecionado, um pequeno alívio atenuava o anúncio das preocupantes provas exigidas. Mas sempre sobrava espaço para um pequeno estresse. Mas tinha que ser assim! As avaliações precisavam ser feitas! Por isso existiam as mal-vindas provas curso adentro.

Parece-me que situação semelhante ocorre em relação aos problemas que precisamos enfrentar em nossa existência. São as provas necessárias para avaliar o nosso aprendizado, a nossa evolução como Espíritos imortais! Se estamos reencarnados em um planeta de provas e expiações, como esperar o contrário? E essas provações, esses obstáculos que nos trazem lições de que necessitamos tornam impossível sermos completamente felizes aqui na escola da Terra. Eu disse “completamente” e isso não exclui a possibilidade de termos, sim, muitos momentos felizes. É que parece sobrar nos dias de hoje certo resíduo daqueles alunos que não gostavam que as provas fossem marcadas no antigo ginasial! Só que não existe outro jeito! Tem que haver a avaliação de cada um de nós como Espíritos em trânsito para perfeição.

Leiamos no mais recente livro do doutor José Carlos De Lucca, Dentro De Mim, Editora InterVidas, a seguinte lição: A exigência de uma vida perfeita é a maior inimiga da felicidade possível. Porque, sendo a vida perfeita impossível de ser alcançada neste plano de existência, passamos a viver num estado de insatisfação crônica, esta, sim, a grande ladra da felicidade. Acredito que muitos de nós fomos criados como “príncipes” ou “princesas”, crescemos sonhando com nossos “castelos”, que chegaria o dia em que assumiríamos o “trono” de uma vida perfeita e seríamos felizes para sempre...

Continua ele: Entramos na vida adulta, porém, e verificamos que aquelas elevadas expectativas, no mais das vezes, não se confirmam, o que nos leva à frustração existencial, a um estado de rebeldia, de não aceitação da realidade, e, com isso, não conseguimos desfrutar da felicidade possível, que acena para nós quase todos os dias.

E para arrematar: E isso não significa que, como Espíritos ainda trabalhando pelo seu progresso, estejamos condenados a viver num mar de sofrimento, impossibilitados de usufruir uma felicidade relativa, boa o suficiente. A Providência Divina é uma professora muito boazinha. Sabe que não suportaríamos se caísse toda a “matéria” sobre nossos ombros. Por isso, as provações que nos visitam chegam em suaves parcelas, semelhantes àquelas provas onde o professor exigia apenas um determinado período lecionado para avaliar o que tínhamos apreendido na sala de aula.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita