A ingratidão dos filhos e os laços de
família
O Espírito Santo Agostinho trata da “Ingratidão dos
filhos e os laços de família” em “O Evangelho segundo o
Espiritismo”, de Allan Kardec.
A importância deste tema está na compreensão de uma das
possíveis causas da ingratidão dos filhos, como efeitos
de nossas próprias faltas atuais ou de vidas passadas e
do entendimento da evolução espiritual pelos laços de
família.
Como pais e filhos, as reflexões conduzem para os
benefícios do cuidado, da educação, da correção, do amor
incondicional e da indulgência no núcleo familiar.
Santo Agostinho destaca que: “A ingratidão é um dos
frutos mais diretos do egoísmo. Revolta sempre os
corações honestos, mas a dos filhos para com os pais
apresenta caráter ainda mais odioso. É, em particular,
desse ponto de vista que a vamos considerar, para lhe
analisar as causas e os efeitos. Também nesse caso, como
em todos os outros, o Espiritismo projeta luz sobre um
dos grandes problemas do coração humano”.
Em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, na pergunta
937, temos que: “A ingratidão é uma prova para a
vossa perseverança na prática do bem; ser-vos-á levada
em conta e os que vos forem ingratos serão tanto mais
punidos, quanto maior lhes tenha sido a ingratidão”.
Na visão Espírita, a ingratidão é uma prova para a nossa
perseverança na prática do bem. Não nos cabe julgar os
ingratos, porquanto eles serão submetidos à justiça
divina.
Kardec, em “O que é o Espiritismo”, expressa: “Se
admitirmos a Justiça de Deus, não podemos deixar de
admitir que esse efeito tem uma causa; e se esta causa
não se encontra na vida presente, deve achar-se antes
desta, porque em todas as coisas a causa deve preceder
ao efeito; é, pois, necessário que a alma já tenha
vivido, para que possa merecer uma expiação”.
Pela lei de causa e efeito, se a causa não estiver nesta
vida deve estar antes desta, porque em todas as coisas a
causa deve preceder ao efeito. Nada é por acaso!
Pelos ensinos dos Espíritos Superiores, sabemos que as
vicissitudes da vida corpórea constituem expiação das
faltas do passado e provas para o futuro, embora o ser
não conheça os atos praticados em existências
anteriores. Se suportarmos com resignação as expiações e
provações depuramo-nos e elevamo-nos.
As naturezas das vicissitudes e das provas podem indicar
o que fomos e fizemos, do mesmo modo que julgamos os
atos de um culpado pela falta que lhe infligimos.
Nesse sentido, o Espiritismo esclarece uma das possíveis
causas da ingratidão dos filhos.
Depois de uma existência, o Espírito leva consigo as
paixões e as virtudes inerentes à sua natureza e
aperfeiçoa-se no Espaço, ou permanece estacionário, até
que deseje receber a luz.
O Espírito cheio de ódio e desejoso de vingança
revolta-se com a ideia do perdão. Contudo, este ser
infeliz, após anos de meditações e preces, aproveita a
oportunidade de um novo corpo em preparo na família
daquele a quem detestou, e pede aos Espíritos incumbidos
pelo seu planejamento reencarnatório permissão para lá
viver uma nova chance de progresso.
Pelo planejamento reencarnatório, se retornar como pai
ou mãe, pedirá para reparar a sua falta perante o filho,
a fim de ter melhor cuidado com ele.
Entretanto, mergulhados na vida corpórea, os Espíritos
perdem as lembranças do passado, das faltas e dos erros,
mas trarão os traços dos sentimentos inferiores de forma
instintiva.
Os ressentimentos de existências anteriores provocam
certos ódios e repulsas instintivas de filhos, dos pais,
aparentemente injustificáveis.
Por outro lado, como pais, temos a missão de cuidar e
educar os filhos, corrigindo os possíveis desvios ou as
más tendências, inclusive corrigindo a nós mesmos.
Se não cumprir a sua responsabilidade de pai ou mãe,
conduzindo seu filho para o caminho do bem, por sua
culpa, o terá entre os Espíritos sofredores.
Por isso, não condene o filho ingrato, pois um ou outro
já odiou muito, ou foi muito ofendido. Um ou outro veio
para perdoar ou expiar.
A ingratidão do filho será para os pais, nesta vida, o
começo de uma prova.
Se não tiver êxito, Deus dará o consolo, pois um dia o
filho ingrato os recompensará com seu amor. A bondade de
Deus nunca fecha a porta. Agradeça a Deus, sem queixas e
com paciência, a oportunidade dada para vencer a prova,
suportando a ingratidão do filho.
Pelos laços de família, que constitui uma lei da
Natureza, tem-se a oportunidade de aprendizado e
evolução, tendo por fundamento o amor e a união,
congregando ideais, sonhos, árduas tarefas, sofrimentos
e valores.
Arraigada em vidas passadas, a família é formada por
agentes diversos, que se reencontram afetos e desafetos,
amigos e inimigos, para os ajustes, os reajustes e os
resgates indispensáveis.
A família pelos laços espirituais fortalece-se pela
purificação e se perpetua no mundo espiritual através
das várias migrações da alma, porquanto na reencarnação
o Espírito vem do espaço para progredir e as associações
familiares na Terra têm as suas funções educadora e
regenerativa.
A proposta da evolução não é gerar apego, mas promover e
ampliar a família no sentido do amor fraterno universal.
A semente a ser plantada é a do amor incondicional, sem
nada esperar em troca. A recompensa será a satisfação de
ver os filhos trilhando o caminho do bem. Quem ama de
verdade já está recompensado.
Por tudo isso, acolha e auxilia os filhos. Não julgue o
filho ingrato. Depois, no mundo dos Espíritos, a família
se felicitará por haver salvo alguns náufragos que
poderão salvar outros.
Bibliografia:
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto
Bezerra. O que é o Espiritismo. 2ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.
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