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por Marcelo Teixeira

 

Enquadrando o espertinho


A academia onde malho fica no segundo andar de um centro comercial onde há um supermercado. As janelas dão para o estacionamento interno. Estava eu iniciando minhas atividades, pedalando numa bicicleta que fica encostada na janela. O mercado devia estar cheio, já que o entra e sai de veículos era grande.

Subitamente, vejo algo que prendeu minha atenção. UM BMW preto parou, foi até uma vaga destinada a idosos, retirou o cone e estacionou na maior desfaçatez. Achei um acinte. Como estava à janela, fiquei observando.

O motorista, um homem de seus 40 anos, tão logo desceu do carro, encontrou um conhecido e começaram a papear. Enquanto conversavam, o folgado motorista coçou as partes íntimas reiteradas vezes. Lembrei, então, da jornalista Martha Medeiros, que, em artigo intitulado “Ricos e Pobres”, fala, entre outros grupos, do rico-pobre, que é a pessoa que atira lixo pela janela do carrão SUV; no restaurante, pede o vinho mais caro e destrata o garçom, entre outras barbaridades. Em suma, o poder aquisitivo é apenas uma capa que ela veste para encobrir a própria miséria moral. Estava eu observando um rico-pobre em ação. Embora guiasse um BMW, estacionou em vaga de idoso e coçava os países baixos em público.

Nesse ínterim, três vagas bem à frente foram desocupadas. Pensei: – Ele vai ter a hombridade de tirar o BMW da vaga de idosos, pôr o cone no lugar e estacionar em uma das vagas. Ledo engano. Ele ficou exatamente onde estava.

Resolvi ligar para o 190 (Polícia Militar). O atendente informou que esse tipo de caso era com a Guarda Municipal ou com a empresa de trânsito local e deu o número de ambas. Como estava malhando, suado e impaciente, gravei somente o número da Guarda Municipal. Liguei. Ninguém atendeu. Voltei ao 190 para pegar o número do órgão responsável pelo trânsito. Desta vez, ninguém atendeu.

Desci ao mercado para falar com a gerência. Ao passar perto das vagas destinadas a idosos, notei que o sujeito ainda papeava por lá, desta vez com outras pessoas. Ele deveria estar esperando alguém. Relatei o caso a um dos gerentes, que me disse o seguinte: – Ih, todo dia isso acontece! É um problema. E eles ainda nos xingam quando pedimos para que desocupem as vagas destinadas a idosos e deficientes. Mas pode deixar, tomaremos as providências! Ato contínuo, chamou um funcionário e pediu que ele mandasse o indivíduo desocupar a vaga.

Voltei para a malhação. Cinco minutos depois, olhei pela janela. O carro não estava mais lá. Fiquei tão satisfeito comigo que malhei até com mais disposição!

A questão de “O Livro dos Espíritos” de que mais gosto é a 932. Nela, Allan Kardec pergunta ao plano espiritual por que o mal ainda predomina na sociedade. Resposta: por omissão dos bons. Os maus são audaciosos e intrigantes. Os bons são tímidos. Quando estes quiserem, preponderarão.

Abusos cotidianos costumam me indignar. Sempre que posso, faço valer a questão 932. Na manhã deste domingo, no estacionamento do supermercado, o mal, na forma de um folgado sem educação, não teve vez.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita