Morte na
infância
O suicídio em precedente existência parece ser uma das
mais prevalentes causas de desencarnação no período
infantil. Kardec se posicionou nesse sentido ao colocar
que a interrupção da vida na infância pode ser o
complemento de uma vida interrompida antes do termo
devido, sendo a morte da criança uma prova ou expiação
também para os pais, provavelmente, implicados direta ou
indiretamente com a atitude autocida do passado.[i]
André Luiz segue essa linha de raciocínio. Ao examinar
as consequências do suicídio, citando diversas condições
relacionadas a ele (enfermidades fatais, morte por
acidentes etc.), o autor espiritual comenta que essas
condições, via de regra, se verificam desde a vida
intraútero até os 18 e vinte anos de experiência
recomeçante. Esclarece, ainda, que tais insucessos
representam cursos rápidos de socorro ou tratamento do
corpo espiritual desequilibrado pela ação equivocada do
pretérito.[ii]
Outras condições, no entanto, podem estar relacionadas
ao fenômeno da desencarnação na infância, que não o
suicídio, mas vinculadas igualmente à lei de causa e
efeito. Na bela obra Resgate e amor, recebida
pela mediunidade de Chico Xavier, somos informados da
história de Tiaminho, morto por atropelamento, aos 5
anos de idade, na rodovia Guarujá-Bertioga, estado de
São Paulo, em janeiro de 1980. Mensagens mediúnicas
esclareceram que tal desencarnação havia sido solicitada
pelo próprio Espírito, transtornado pelo sentimento de
culpa, por ter sido responsável pela morte de pessoa
muito querida em existência anterior.
Podemos nos reportar ainda a causas que transcendem os
mecanismos de ação e reação, e que se identificam como
tarefas específicas assumidas por Espíritos lúcidos e
nobres que se inserem em tal condição para beneficiar
almas queridas, despertando-as para realidades
superiores, ou mesmo, facilitando o desiderato de
compromissos altaneiros.
O professor Pierre Ribeiro, de Campos (RJ), contava que
a desencarnação da filhinha dileta de Peixotinho, Aracy,
aos 2 anos, fora programada com a finalidade de auxiliar
o notável médium de efeitos físicos a se libertar do
hábito dos aperitivos, que estava comprometendo,
seriamente, seu labor mediúnico. Após a morte, Aracy,
que mantivera, por opção, a forma infantil, surgia
diante da visão mediúnica de Peixotinho nos momentos em
que ele se dispunha a ingerir os alcoólicos, conseguindo
fazer com que superasse esse hábito. O Espírito que se
corporificou como sua filhinha querida não se vinculava
a nenhum compromisso reencarnatório que não fosse esse.[iii]
Inácio Ferreira se reportava, igualmente, a uma
reencarnação brevíssima de uma entidade de alta condição
evolutiva que objetivava colaborar no processo
encarnatório de alma amiga. Tal alma tratava-se de um
Espírito altamente intelectualizado, que cometera erros
graves na última existência como médico, na Europa.
Tomado de profundo sentimento de culpa, foi lhe
autorizada uma reencarnação provacional em tradicional
família brasileira. Todavia, temeu-se que, em
decorrência de seu estado mental, a gestação não fosse a
termo, evoluindo para um abortamento espontâneo de causa
vibracional. A entidade elevada, assim, aceitou
mergulhar nos fluidos da matéria na condição de irmão
gemelar, para que suas vibrações elevadas neutralizassem
as energias deletérias do amigo, permitindo,
consequentemente o nascimento desejado. Dez dias após o
parto, o Espírito, que nenhuma tarefa corpórea possuía
prevista para aquela época, desencarna, retornando à sua
condição espiritual prévia.[iv]
O tema é amplo e complexo, e continua aberto para novas
reflexões, mas nos esclarece, e isso é o mais
importante, que independente da causa, a desencarnação
na infância, uma condição extremamente dolorosa para
todos os envolvidos, é sempre uma possibilidade de
vivermos experiências que vêm ao encontro de nossas
necessidades reais.
Possivelmente, só no futuro, teremos acesso a
informações que nos esclareçam exatamente quanto às
razões do sucedido e o quanto tal experiência foi
importante para os envolvidos.
[i] O
Livro dos Espíritos, item 199.
[ii] Evolução
em dois mundos, parte II, cap. 17.
[iii] Materialização
do amor, Humberto Vasconcelos.
[iv] Psiquiatria
em face da reencarnação, Inácio Ferreira.