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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

Morte na infância


O suicídio em precedente existência parece ser uma das mais prevalentes causas de desencarnação no período infantil. Kardec se posicionou nesse sentido ao colocar que a interrupção da vida na infância pode ser o complemento de uma vida interrompida antes do termo devido, sendo a morte da criança uma prova ou expiação também para os pais, provavelmente, implicados direta ou indiretamente com a atitude autocida do passado.[i]

André Luiz segue essa linha de raciocínio. Ao examinar as consequências do suicídio, citando diversas condições relacionadas a ele (enfermidades fatais, morte por acidentes etc.), o autor espiritual comenta que essas condições, via de regra, se verificam desde a vida intraútero até os 18 e vinte anos de experiência recomeçante. Esclarece, ainda, que tais insucessos representam cursos rápidos de socorro ou tratamento do corpo espiritual desequilibrado pela ação equivocada do pretérito.[ii]

Outras condições, no entanto, podem estar relacionadas ao fenômeno da desencarnação na infância, que não o suicídio, mas vinculadas igualmente à lei de causa e efeito. Na bela obra Resgate e amor, recebida pela mediunidade de Chico Xavier, somos informados da história de Tiaminho, morto por atropelamento, aos 5 anos de idade, na rodovia Guarujá-Bertioga, estado de São Paulo, em janeiro de 1980. Mensagens mediúnicas esclareceram que tal desencarnação havia sido solicitada pelo próprio Espírito, transtornado pelo sentimento de culpa, por ter sido responsável pela morte de pessoa muito querida em existência anterior.

Podemos nos reportar ainda a causas que transcendem os mecanismos de ação e reação, e que se identificam como tarefas específicas assumidas por Espíritos lúcidos e nobres que se inserem em tal condição para beneficiar almas queridas, despertando-as para realidades superiores, ou mesmo, facilitando o desiderato de compromissos altaneiros.

O professor Pierre Ribeiro, de Campos (RJ), contava que a desencarnação da filhinha dileta de Peixotinho, Aracy, aos 2 anos, fora programada com a finalidade de auxiliar o notável médium de efeitos físicos a se libertar do hábito dos aperitivos, que estava comprometendo, seriamente, seu labor mediúnico. Após a morte, Aracy, que mantivera, por opção, a forma infantil, surgia diante da visão mediúnica de Peixotinho nos momentos em que ele se dispunha a ingerir os alcoólicos, conseguindo fazer com que superasse esse hábito. O Espírito que se corporificou como sua filhinha querida não se vinculava a nenhum compromisso reencarnatório que não fosse esse.[iii]

Inácio Ferreira se reportava, igualmente, a uma reencarnação brevíssima de uma entidade de alta condição evolutiva que objetivava colaborar no processo encarnatório de alma amiga. Tal alma tratava-se de um Espírito altamente intelectualizado, que cometera erros graves na última existência como médico, na Europa. Tomado de profundo sentimento de culpa, foi lhe autorizada uma reencarnação provacional em tradicional família brasileira. Todavia, temeu-se que, em decorrência de seu estado mental, a gestação não fosse a termo, evoluindo para um abortamento espontâneo de causa vibracional. A entidade elevada, assim, aceitou mergulhar nos fluidos da matéria na condição de irmão gemelar, para que suas vibrações elevadas neutralizassem as energias deletérias do amigo, permitindo, consequentemente o nascimento desejado. Dez dias após o parto, o Espírito, que nenhuma tarefa corpórea possuía prevista para aquela época, desencarna, retornando à sua condição espiritual prévia.[iv]

O tema é amplo e complexo, e continua aberto para novas reflexões, mas nos esclarece, e isso é o mais importante, que independente da causa, a desencarnação na infância, uma condição extremamente dolorosa para todos os envolvidos, é sempre uma possibilidade de vivermos experiências que vêm ao encontro de nossas necessidades reais.

Possivelmente, só no futuro, teremos acesso a informações que nos esclareçam exatamente quanto às razões do sucedido e o quanto tal experiência foi importante para os envolvidos.


 

[i] O Livro dos Espíritos, item 199.


[ii] Evolução em dois mundos, parte II, cap. 17.


[iii] Materialização do amor, Humberto Vasconcelos.


[iv] Psiquiatria em face da reencarnação, Inácio Ferreira.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita