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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

O diabo e a elucidação espírita


Recentemente a figura do diabo foi objeto de definição, num artigo sobre exorcismo, na mais importante revista de interesse geral do país. Entrevistando um prelado da Igreja Católica brasileira, a repórter indagou-o de chofre:

- “Como é o diabo?”

E uma resposta, no mínimo intrigante, foi apresentada pela figura religiosa:

“É um anjo que decaiu por ter traído a Deus. É um Espírito e tem forma material semelhante à de Deus. Não tem chifres nem solta fogo. E não há só um. O demônio é um nome genérico referente a Lúcifer [...]”.

Posicionando-se como autoridade inquestionável sobre o assunto, o padre arrematou:

“Minha filha, o diabo existe. Não tem discussão [...]”.

Infelizmente, temos de reconhecer que muitos compartilham dessa opinião esdrúxula. Mas, com todo respeito, tal percepção chega ao disparate de equiparar o diabo ao Pai Celestial – a sublime fonte da criação de tudo, inclusive nós. Por essa razão, creio que alguns esclarecimentos são necessários a fim de se demolir opiniões infundadas e inconsistentes. Nesse sentido, cabe inicialmente elucidar que o diabo não existe. Conforme descortinou Allan Kardec, com a ajuda dos próprios Espíritos, há basicamente três categorias principais de entidades espirituais. Ou seja, os Espíritos imperfeitos nos quais predominam o interesse excessivo pelas coisas materiais em detrimento das de natureza espiritual, bem como forte propensão à prática do mal. Por outro lado, nos que compõem a segunda categoria prevalecem, em contraste, a preocupação com as coisas do Espírito e o anseio à prática do bem. São denominados bons Espíritos. Finalmente, a última categoria abarca os Espíritos puros, isto é, os que já atingiram a perfeição.

Nota-se, assim, que “os diabinhos” só podem estar situados no primeiro grupo considerando a sua intensa busca pelas coisas materiais e forte atração pela bússola do mal à qual, aliás, se identificam sobremaneira. Cabe igualmente admitir que o seu poder é limitado, mas, nem por isso, é menos efetivo. De modo geral, conhecem as fraquezas humanas e sabem manejá-las com destreza. Por isso, eles têm adeptos em todas as camadas sociais e ambientes terrenos. Na questão nº 131 d’O Livro dos Espíritos, Allan Kardec endereça a seguinte pergunta aos maiorais da espiritualidade:

“Há demônios, no sentido que se dá a esta palavra?

Se houvesse demônios, seriam obra de Deus. Mas, porventura, Deus seria justo e bom se houvera criado seres destinados eternamente ao mal e a permanecerem eternamente desgraçados? Se há demônios, eles se encontram no mundo inferior em que habitais e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo e que julgam agradá-lo por meio das abominações que praticam em seu nome”.

Em suas oportunas explicações, Kardec acrescenta que:

“Satanás é evidentemente a personificação do mal sob forma alegórica, visto não se poder admitir que exista um ser mau a lutar, como de potência a potência, com a Divindade, e cuja única preocupação consistisse em lhe contrariar os desígnios. Como precisa de figuras e imagens que lhe impressionem a imaginação, o homem pintou os seres incorpóreos sob uma forma material, com atributos que lembram as qualidades ou os defeitos humanos [...]”.

Então, temos no demônio nada mais nada menos do que a classificação para as entidades infelizes que perseveram em fazer o mal e prejudicar os semelhantes. Em razão do seu atraso moral, preferem viver nos “charcos” da espiritualidade. Ainda não têm força interior suficiente para se voltar à luz do bem e do amor incondicional. Mas, como filhos de Deus, um dia acordarão e descortinarão novos rumos.

Embora seja lamentável, mas o fato é que os demônios habitam o coração de muitos seres presentemente encarnados na Terra. Eles estão na política, nas religiões, nas empresas e instituições, nos governos do mundo dedicados, de maneira geral, ao firme propósito de atrapalhar a evolução humana. Mas há semelhantemente muitos cidadãos comuns que se portam como verdadeiras feras. Por sua vez, outros há que têm na maldade o seu meio de vida. De modo geral, se olharmos com atenção os reconheceremos com relativa facilidade.

Mas por que estão entre nós? Porque a eles também é facultada a oportunidade de evoluir. Deus os ama igualmente, apesar de serem rebeldes. Por essa razão prodigaliza-lhes ensanchas visando ao seu progresso interior. De um lado, a nossa resistência, fé e coragem moral os incomoda profundamente; todavia, de outro, compele-os a refletir. Para os que se voltam a Deus, os diabinhos são um teste indispensável – talvez diário – de convivência sob o impulso da paciência e da compaixão. Por isso, o Senhor os perdoa porque eles simplesmente ainda “não sabem o que fazem”.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita