A Reencarnação como
pré-requisito para o entendimento do Evangelho e das
Leis Espirituais da Vida
Diferentemente de outras doutrinas reencarnacionistas, o
Espiritismo não admite a retrogradação do Espírito, ou
seja, na pior das hipóteses, estacionamos
evolutivamente, mas nunca regredimos. Essa relação
Reencarnação – Lei de Progresso – Lei de Justiça, Amor e
Caridade consiste em uma das maiores contribuições do
Espiritismo para o nosso entendimento do que é a Vida.
O próprio Médium e Apóstolo do Bem Francisco Cândido
Xavier chegou a afirmar: “Com todo o respeito às
doutrinas cristãs tradicionais, sem o conceito da
reencarnação, considero muito difícil entender o
Evangelho”.
De fato, até mesmo a famosa questão, ainda muito
polêmica em várias denominações cristãs, envolvendo fé,
obras e graça, quanto ao problema da salvação, é
facilmente resolvida dentro do contexto
reencarnacionista.
Todos são agraciados com a herança divina por sermos
filhos de Deus e, por isso, todos somos destinados à
perfeição e à felicidade. Por outro lado, todos temos
responsabilidades pelos nossos atos, em função de nosso
livre-arbítrio, implicando no mérito pelo bem praticado
e no demérito pelos equívocos exercidos e as inerentes
consequências abrangendo nossas oportunidades de
ascensão e/ou de reajuste.
Então, a graça, realmente, é de todos, mas o efetivo
usufruto dessa graça em termos de conquista de paz e de
felicidade depende de nossas ações (“a cada um é dado
conforme suas obras”).
Essa discussão ajuda-nos a entender o famoso “Muitos são
os chamados e poucos os escolhidos”, porque, de fato,
“todos são chamados”, no sentido de que as chances de
iluminação espiritual, trabalho e evolução são
rigorosamente oferecidas a todos os filhos de Deus, sem
exceção. Por outro lado, “poucos são escolhidos” porque
somos nós mesmos que nos escolhemos, quando decidimos
por isso. E, como pelo livre-arbítrio, cada um tem um
momento diferente de decisão, as “escolhas” vão se dando
de forma lenta e paulatina, no processo de evolução
espiritual dos Espíritos da Terra (mundo de provas e
expiações). Daí, poucos costumam ser escolhidos por si
mesmos, em determinada faixa de tempo, ou seja, em
determinada época, envolvendo um conjunto de
experiências, em uma única reencarnação ou em certo
grupo de reencarnações. Por isso, as evoluções de
coletividades muito grandes, tais como a população
planetária da Terra (só de encarnados, algo próximo a
sete (7) bilhões e meio de habitantes), costumam ser
processos muito lentos.
O conhecimento reencarnacionista projeta luz em uma
série de discussões teológicas, tais como o debate sobre
a predestinação e outros.
A própria “Parábola dos Talentos” é difícil de ser
compreendida, sem a noção prévia do conceito
reencarnacionista. Realmente, três funcionários
receberam quantidades diferentes de talentos: três (3),
dois (2), e um (1). Seria o caso de se perguntar: por
que não receberam a mesma quantidade? A resposta a esse
questionamento está na própria Parábola, cada um deles
recebeu “conforme sua capacidade”, denotando,
obviamente, que as capacidades dos três trabalhadores
eram bem diferentes entre si. Daí surge outra questão:
por que não tinham a mesma capacidade? Se a vida física
fosse uma só, as quantidades de talentos inatos
completamente diferentes seria a evidência de uma grande
injustiça da parte de Deus, o que, sob vários
parâmetros, seria algo totalmente inadmissível (vide Lei
de Justiça, Amor e Caridade). No entanto, com a
reencarnação, as aparentes injustiças nada mais são do
que diferentes tipos de experiências para o
enriquecimento evolutivo do Espírito imortal, que deve
vivenciar diversificados modelos de exercícios para
progredir em todas as áreas do comportamento humano. E
cada situação específica está relacionada a
pré-requisitos evolutivos e potencialidades de progresso
para a presente encarnação.
Vejamos algumas questões que só podem ser bem
esclarecidas através do entendimento da reencarnação
como mecanismo da Lei de Progresso:
1) Expectativas de vida (Extensão temporal da vida)
completamente discrepantes;
2) Condições de vida, no que se refere a aspectos
socioeconômicos, completamente diferentes;
3) Condições de vida, em termos de oportunidades
culturais e educacionais, totalmente distintas;
4) Condições de vida, no que se refere ao amor familiar,
completamente distintas;
5) Acesso (ou não) ao ensino religioso e/ou espiritual
de variadíssima qualidade e com distintas oportunidades;
6) Talentos inatos completamente distintos;
7) Desenvolvimento pessoal sempre muito incompleto, por
mais longa que seja a vida física humana – o que implica
em algumas situações completamente absurdas: a) o
Espírito vai para o inferno eterno por causa de erros
predominantes em sua pequena oportunidade, sem chance de
refazimento das experiências (o que seria
incompreensível, tendo-se em vida a bondade e a
sabedoria de Deus); b) o Espírito vai para o céu porque
o seu “saldo espiritual” foi positivo e permanece com a
mesma evolução com a qual deixou a Terra (outro absurdo,
pois, mesmo tendo valores positivos, por mais elevada
que seja a pessoa, e por mais longa que tenha sido sua
vida, sempre ainda haverá muito o que ainda evoluir); c)
o Espírito vai para o céu porque o seu “saldo
espiritual” foi positivo, mas continua evoluindo no
Paraíso (proposta estranhíssima, pois a entidade
espiritual vai continuar sua evolução por toda a
eternidade no mundo espiritual, após uma única vida
física aqui na Terra, o que faz questionar: seria,
então, necessária, a vida física única aqui na
Crosta?!);
8) A condição espiritual e a possibilidade de evolução
daqueles que desencarnam como crianças ou como bebês, ou
até mesmo no útero materno (se não fizeram nada de mal,
também não tiveram chances de fazer o bem; por
conseguinte, não foram testados e, ainda assim, teriam
um “paraíso” eterno?);
9) A chance de reeducação para os grandes criminosos da
história da humanidade, os quais, em havendo inferno
eterno, teriam grandes chances de serem condenados a
esses ambientes de sofrimento, pois não mereceriam
compartilhar o “céu” eterno com aqueles que são
Espíritos muito mais evoluídos, amorosos e fraternos;
10) A condição espiritual e a possibilidade de evolução
dos animais;
11) O problema do mundo espiritual, mais notadamente o
chamado “céu”, povoado por Espíritos não merecedores de
uma condição celestial definitiva, ou, nas palavras de
Jesus, sem a “veste nupcial” (o que acaba nos remetendo,
novamente, à discussão exposta no item número 7);
12) A possibilidade de vida em outros planetas, pois,
com a reencarnação, todos os Espíritos do Universo estão
interligados, fraternalmente, em um mesmo processo
evolutivo, comum a todos e, portanto, igualitário. Se
existe vida em outros planetas, e a vida física é uma
só, as “humanidades” originadas de cada planeta seriam
completamente discrepantes cultural e educacionalmente,
o que nos remete novamente ao tópico número sete (7) e
também aos itens um (1), dois (2), três (3) e cinco (5).
A reencarnação, por conseguinte, retira da aparente
injustiça observada em uma única encarnação, mecanismos
de oportunidade evolutiva mais amplos e promovedores de
todos os Espíritos imortais. Assim sendo, as aparentes
injustiças identificadas por quem analisa uma única
oportunidade de vivência física, em verdade, representam
estadas evolutivas de curta extensão, mas úteis para o
Espírito imortal para a aquisição de valores eternos.
Da ilusória injustiça de uma única existência física,
surgem vivências educativas, equânimes e progressivas
para todos os Espíritos imortais, isto é, todos os
irmãos espirituais, Filhos de Deus, os quais,
vivenciando várias e diferentes experiências
encarnatórias, crescem para Deus a cada experiência
física e a cada experiência no mundo espiritual, entre
encarnações. É a grande Justiça de Deus!
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