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por Lillian Rosendo

 

De onde surgiu e por que ele existe


A origem do mal é problema deveras antigo.

De Deus é incabível, pois é Sábio, Bom e Justo.

Alguns homens buscam se livrar a todo custo.

Sem conhecer o motivo, encaram como castigo.

 

A ótica material obscurece a visão da humanidade.

Deus permite para o seu progresso que o mal ocorra.

À ignorância que prende o homem em sua masmorra,

Ele envia instruções através dos emissários da verdade.

 

O Bem emana das leis divinas, perfeitas como o Criador.

O Mal mora no vício, enraizado no instinto de conservação.

Quando atento aos preceitos das leis em subordinação,

Atina que o mal é temporário e relativo, e vive com ardor.

 

No percurso interior identificando o espinho,

A responsabilidade se torna ainda mais viável.

Se o excesso do mal moral se torna insuportável,

Usa seu livre-arbítrio, procurando o bom caminho.


Aurélio, um rapaz nascido no Norte da África, ansiava por sabedoria e iniciou seus estudos na juventude, aprofundando na retórica, na lógica, na geometria, na música e na matemática. Conheceu muitas correntes filosóficas e religiosas, aderiu à fé maniqueísta (seita persa que acreditava existirem duas forças no universo iguais e opostas, uma boa e outra ruim). Abandonada esta fé, mudou seu entendimento sobre Deus, e continuou sua busca pela verdade. Tentou as escrituras e o cristianismo, mas sua compreensão acerca do texto bíblico lhe pareceu um tanto ríspida.

Ele defendia que, embora Deus criasse tudo o que existe, Ele não criou o mal, porque o mal não é algo, mas a falta ou a deficiência de algo. Aurélio tomou emprestado o modo de pensar de Platão e seus seguidores. Por exemplo, o mal sofrido por um homem com deficiência visual é a ausência de visão; o mal em um covarde é a falta de coragem.

Ele quis explicar por que Deus criou o mundo permitindo que existissem o mal e as privações naturais e morais. Sua argumentação era: para que Deus criasse criaturas racionais, tinha de lhes dar o livre-arbítrio. 

Aurélio usou e abusou do livre-arbítrio, mas quis mesmo se regenerar; separou da mulher que vivera sem contrair matrimônio, decidiu-se pelo celibato, e desejava se encontrar com Deus. Uma conversa com um amigo, que lhe contou sobre a vida de Santo Antão, levou-o a chorar em um jardim, diante de suas questões e crises existenciais. 

Sentado embaixo de uma árvore, ele ouve uma melodia, uma criança cantando: “toma lê, toma lê”, lê o quê?”. Olha em volta, vê a bíblia de seu amigo. Abriu no capítulo 13 da Carta aos Romanos (v. 13-14): “comportemo-nos com decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual e depravação, não em desavença e inveja. Pelo contrário, revistam-se do Senhor Jesus Cristo, e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne”. Essa mensagem atingiu-o como um raio e ele quis se revestir de Jesus.

Convertido ao cristianismo pela Igreja Católica, foi ordenado bispo, serviu durante trinta e quatro anos, e foi um dos mais importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do cristianismo. Não só influenciou o pensamento católico, mas também a reforma protestante. Suas obras-primas são:  A Cidade de Deus, A Trindade e Confissões. Ele foi o bispo de Hipona - cidade na província romana da África. 

Aurélio Agostinho, na erraticidade (estado onde o Espírito se encontra entre uma encarnação e outra), foi colaborador de Kardec na codificação. Erasto, discípulo de São Paulo, em uma comunicação registrada em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 1. relata: “Santo Agostinho é um dos maiores divulgadores do Espiritismo; ele se manifesta quase que por toda parte”.

Examinando a vida deste homem que se entregou às satisfações dos sentidos físicos e confessou seus atos mais desregrados; ansiou por respostas e as buscou nas mais diversas fontes e escolas; ele as encontrou quando percebeu que os desejos da carne o afastavam dos desejos do amor (e é por isso que vivemos), compreendendo o convite de se revestir de Jesus. Essa análise evidencia que o progresso espiritual é incessante.

Podemos deduzir que de um ser soberanamente sábio, bom, e justo, não derivaria o mal. E Kardec nos esclarece na obra “A Gênese” cap. 3:

“O mal tem a sua origem nos vícios e paixões humanas, cujas raízes se encontram no instinto de conservação fortemente presente nos animais e nos seres primitivos, mas que vai se enfraquecendo à medida que a inteligência se desenvolve e domina a matéria”.

Diante das catástrofes que sempre existiram e assolam a humanidade, há muitas desencarnações e prejuízos materiais. Entendemos que isso também é necessário ao progresso da humanidade, de acordo com outro trecho da mesma obra e capítulo citado acima: “(...) com relação aos flagelos naturais, Deus permite que aconteçam para que o homem se desenvolva em conhecimento, com o objetivo de atenuar os seus efeitos. Quanto mais se adianta o homem, tanto menos desastrosos se tornam os flagelos, neutralizando as consequências ou mesmo evitando a sua ocorrência”.

Apesar dos abusos e desacato às Leis divinas em virtude do livre-arbítrio, nós, ao nos interessarmos em caminhar na direção da verdade e da vida, saberemos fazer nossas escolhas. Quanto mais a busca por sabedoria e amor, sabedoria para discernir, e amor para praticar, mais próximo estaremos aptos a nos revestir do nosso irmão Maior Jesus.

Paulo nos aconselha a examinar tudo e reter o que é bom (1 Tessalonicenses 5:21). Quando encontramos em nós tendências contrárias ao bem, precisamos de pronto providenciar o ajuste, e quando estas tendências passem despercebidas por nós, aceitarmos de bom grado quando são evidenciadas pelos outros.

Da mesma forma, quando percebemos uma virtude natural, devemos aperfeiçoá-la. Ponderar por alguns instantes antes de agir pode acelerar a evolução moral em uma existência, quando, ao contrário, podemos comprometê-la. Melhor que se arrepender é saber o que precisa ser feito. Como? Meditar nas Leis divinas. Estas leis estão escritas nos evangelhos, nos textos sagrados de diversas culturas e religiões, mas sobretudo na nossa consciência, como aprendemos na questão 621, de O Livro dos Espíritos


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita