De onde surgiu e por que ele existe
A origem do mal é problema deveras antigo.
De Deus é incabível, pois é Sábio, Bom e Justo.
Alguns homens buscam se livrar a todo custo.
Sem conhecer o motivo, encaram como castigo.
A ótica material obscurece a visão da humanidade.
Deus permite para o seu progresso que o mal ocorra.
À ignorância que prende o homem em sua masmorra,
Ele envia instruções através dos emissários da verdade.
O Bem emana das leis divinas, perfeitas como o Criador.
O Mal mora no vício, enraizado no instinto de
conservação.
Quando atento aos preceitos das leis em subordinação,
Atina que o mal é temporário e relativo, e vive com
ardor.
No percurso interior identificando o espinho,
A responsabilidade se torna ainda mais viável.
Se o excesso do mal moral se torna insuportável,
Usa seu livre-arbítrio, procurando o bom caminho.
Aurélio, um rapaz nascido no Norte da África, ansiava
por sabedoria e iniciou seus estudos na juventude,
aprofundando na retórica, na lógica, na geometria, na
música e na matemática. Conheceu muitas correntes
filosóficas e religiosas, aderiu à fé maniqueísta (seita
persa que acreditava existirem duas forças no universo
iguais e opostas, uma boa e outra ruim). Abandonada esta
fé, mudou seu entendimento sobre Deus, e continuou sua
busca pela verdade. Tentou as escrituras e o
cristianismo, mas sua compreensão acerca do texto
bíblico lhe pareceu um tanto ríspida.
Ele defendia que, embora Deus criasse tudo o que existe,
Ele não criou o mal, porque o mal não é algo, mas a
falta ou a deficiência de algo. Aurélio tomou emprestado
o modo de pensar de Platão e seus seguidores. Por
exemplo, o mal sofrido por um homem com deficiência
visual é a ausência de visão; o mal em um covarde é a
falta de coragem.
Ele quis explicar por que Deus criou o mundo permitindo
que existissem o mal e as privações naturais e morais.
Sua argumentação era: para que Deus criasse criaturas
racionais, tinha de lhes dar o livre-arbítrio.
Aurélio usou e abusou do livre-arbítrio, mas quis mesmo
se regenerar; separou da mulher que vivera sem contrair
matrimônio, decidiu-se pelo celibato, e desejava se
encontrar com Deus. Uma conversa com um amigo, que lhe
contou sobre a vida de Santo Antão, levou-o a chorar em
um jardim, diante de suas questões e crises
existenciais.
Sentado embaixo de uma árvore, ele ouve uma melodia, uma
criança cantando: “toma lê, toma lê”, lê o quê?”. Olha
em volta, vê a bíblia de seu amigo. Abriu no capítulo 13
da Carta aos Romanos (v. 13-14): “comportemo-nos com
decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e
bebedeiras, não em imoralidade sexual e depravação, não
em desavença e inveja. Pelo contrário, revistam-se do
Senhor Jesus Cristo, e não fiquem premeditando como
satisfazer os desejos da carne”. Essa mensagem atingiu-o
como um raio e ele quis se revestir de Jesus.
Convertido ao cristianismo pela Igreja Católica, foi
ordenado bispo, serviu durante trinta e quatro anos, e
foi um dos mais importantes teólogos e filósofos nos
primeiros séculos do cristianismo. Não só influenciou o
pensamento católico, mas também a reforma protestante.
Suas obras-primas são: A Cidade de Deus, A Trindade e
Confissões. Ele foi o bispo de Hipona - cidade na
província romana da África.
Aurélio Agostinho, na erraticidade (estado onde o
Espírito se encontra entre uma encarnação e outra), foi
colaborador de Kardec na codificação. Erasto, discípulo
de São Paulo, em uma comunicação registrada em O
Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 1. relata: “Santo
Agostinho é um dos maiores divulgadores do Espiritismo;
ele se manifesta quase que por toda parte”.
Examinando a vida deste homem que se entregou às
satisfações dos sentidos físicos e confessou seus atos
mais desregrados; ansiou por respostas e as buscou nas
mais diversas fontes e escolas; ele as encontrou quando
percebeu que os desejos da carne o afastavam dos desejos
do amor (e é por isso que vivemos), compreendendo o
convite de se revestir de Jesus. Essa análise evidencia
que o progresso espiritual é incessante.
Podemos deduzir que de um ser soberanamente sábio, bom,
e justo, não derivaria o mal. E Kardec nos esclarece na
obra “A Gênese” cap. 3:
“O mal tem a sua origem nos vícios e paixões
humanas, cujas raízes se encontram no instinto de
conservação fortemente presente nos animais e nos seres
primitivos, mas que vai se enfraquecendo à medida que a
inteligência se desenvolve e domina a matéria”.
Diante das catástrofes que sempre existiram e assolam a
humanidade, há muitas desencarnações e prejuízos
materiais. Entendemos que isso também é necessário ao
progresso da humanidade, de acordo com outro trecho da
mesma obra e capítulo citado acima: “(...) com relação
aos flagelos naturais, Deus permite que aconteçam para
que o homem se desenvolva em conhecimento, com o
objetivo de atenuar os seus efeitos. Quanto mais se
adianta o homem, tanto menos desastrosos se tornam os
flagelos, neutralizando as consequências ou mesmo
evitando a sua ocorrência”.
Apesar dos abusos e desacato às Leis divinas em virtude
do livre-arbítrio, nós, ao nos interessarmos em caminhar
na direção da verdade e da vida, saberemos fazer nossas
escolhas. Quanto mais a busca por sabedoria e amor,
sabedoria para discernir, e amor para praticar, mais
próximo estaremos aptos a nos revestir do nosso irmão
Maior Jesus.
Paulo nos aconselha a examinar tudo e reter o que é bom
(1 Tessalonicenses 5:21). Quando encontramos em nós
tendências contrárias ao bem, precisamos de pronto
providenciar o ajuste, e quando estas tendências passem
despercebidas por nós, aceitarmos de bom grado quando
são evidenciadas pelos outros.
Da mesma forma, quando percebemos uma virtude natural,
devemos aperfeiçoá-la. Ponderar por alguns instantes
antes de agir pode acelerar a evolução moral em uma
existência, quando, ao contrário, podemos comprometê-la.
Melhor que se arrepender é saber o que precisa ser
feito. Como? Meditar nas Leis divinas. Estas leis estão
escritas nos evangelhos, nos textos sagrados de diversas
culturas e religiões, mas sobretudo na nossa
consciência, como aprendemos na questão 621, de O
Livro dos Espíritos.
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