A Mulher em toda a sua eloquência
A História da
Mulher é, deve ser, todos os dias, reescrita, repensada,
pragmatizada, até atingir o equilíbrio, em igualdade de
circunstâncias com o homem, em tudo o que física,
intelectual e biologicamente for possível, sabendo-se e
respeitando-se, todavia, funções sublimes, que só a ela
dizem respeito, como gerar no seu próprio ventre e dar à
luz os seus filhos.
No “Dia da Mulher”, é verdade que em todas as suas
dimensões, esplendor e dignidade, a Mulher aproxima-se,
cada vez mais, do homem, aliás, nem outra situação seria
de esperar, porque já não pode haver dúvidas que a
Mulher é parte essencial no sucesso do homem, contudo, a
assertiva contrária também é verdadeira, podendo-se
aceitar-se, muitas vezes, que: “ao lado de uma grande
Mulher está um grande homem e vice-versa”.
Permitam as leitoras que se utilize uma inofensiva
ironia brejeira e que, nesse sentido, se possa elogiar a
Mulher, quando se afirma: “mal com as Mulheres; pior sem
elas”, o que, ainda assim, e numa sociedade culta,
equilibrada e eticamente correta, se poderá converter
aquela “ironia” no seguinte princípio: “jamais sem as
Mulheres; sempre com as Mulheres”, porque elas, em
diversas situações da vida, são nossas: irmãs, mães,
avós, colegas, companheiras, namoradas, esposas,
amantes, enfim, elas, sem qualquer contestação séria e
fundamentada, são metade do homem e este, metade delas,
e, quando unidos pelos vínculos da solidariedade, do
amor, da amizade, da lealdade, da cumplicidade,
constituem um só corpo e um só espírito, salvaguardadas
as devidas adaptações para o relacionamento.
A Mulher é parte integrante da felicidade do homem,
assim como este também o é para a Mulher, quando ambos
se amam verdadeiramente, sem quaisquer superioridades,
ou submissões de nenhuma espécie, mas há que reconhecer
na Mulher uma sensibilidade mais apurada para o
exercício da dimensão amorosa e sonhadora, bem como para
os valores humanistas, seguramente, com as exceções que,
como em tudo na vida, existem.
Muitas vezes, ouve-se dizer, em certos círculos,
atrofiada e ostensivamente masculinizados, que a Mulher
é o “sexo fraco”. Por quê? Eventualmente porque tais
pessoas, que assim se “autovangloriam” dessa
pseudossuperioridade, receiam perder algum tipo de
poder? Não são capazes de reconhecer na Mulher as suas
imensas capacidades, inteligência, subtilidade e
sensibilidade para a harmonia, ao contrário de muitos
daqueles indivíduos, por isso, a fraqueza e o ridículo
estão nestas “cabecinhas” que se autointitulam de “sexo
forte”.
Na esmagadora maioria das situações, o que seria de
milhões de crianças, em todo o mundo, se lhes faltasse a
mãe? Em milhares de casos de abandono dos filhos, por
parte do pai, se não fossem os sacrifícios, o amor e a
coragem da mãe, qual seria o futuro destas crianças e
jovens? E, quando o pai, por egoísmo, foge às exigências
da vida familiar, irresponsável e cobardemente, deixando
nos braços da mãe e, muitas vezes, também nos dos avós
maternos, as crianças que não pediram para nascer!
Afinal, quem é o “sexo forte”? Onde está a “valentia”
desses homens?
O “Dia da Mulher”, tal como o “Dia da Mãe”, deverá ser
celebrado com pompa e circunstância, porque a Mulher
será sempre fonte de vida e de esperança, um “Porto
Seguro”, onde muitas vezes os mais necessitados são
acolhidos com carinho e amor, seja maternal, seja a
título misericordioso e caritativo, mas lá está ela, a
Mulher, pronta e abnegada para ajudar quem precisa,
partilhando, apoiando e incentivando para atitudes de
otimismo, criando, assim, um clima de confiança.
Vive-se a terceira década do século XXI, com: imensos
conflitos; tremendas dificuldades para muitas pessoas,
famílias e países; “chagas sociais terríveis” – fome,
desemprego, perda de direitos adquiridos, saúde precária
para muita gente, violência doméstica, justiça a
atravessar contestação, uma sociedade em acelerada
transformação, na qual a Mulher é cada vez mais
maioritária, mas com muitos obstáculos para vencer, não
obstante estar a demonstrar que intervém com eficiência
e determinação nos setores e situações em que se
envolve.
A Mulher vem, ainda que paulatinamente, conquistando o
espaço a que jurídica, social e humanamente tem direito,
estando presente em, praticamente, todos os ramos de
atividade, manifestando que é tão capaz quanto o seu
companheiro masculino, que quer trabalhar ao seu lado,
porém, sem discriminações, porque na constituição da
humanidade não pode haver “sexo forte” ou “sexo fraco”,
mas, sim, Mulheres e Homens, com idênticos deveres e
direitos.
Na verdade interessa, porque é justo enaltecer as
qualidades da Mulher, sabendo-se que nunca há regras sem
exceções, mas, na circunstância, a regra é a maioria das
Mulheres bem-formadas: ética e moralmente,
competentemente profissionais; esposas e mães
carinhosas, afetivas e extremamente cuidadosas com os
seus entes queridos; generosas e voluntariosas, quando é
preciso ajudarem o próximo; solidárias e leais, para com
quem elas pretendem relacionar-se intimamente, numa
perspectiva de constituição de família ou de um “amor-de-amigo”.
No passado, como hoje, o mundo não funcionaria sem a
Mulher, porque o seu contributo para a defesa e boas
práticas dos princípios, valores e sentimentos mais
nobres, está nelas, e será com elas que a sociedade deve
contar, para a paz e para a felicidade, sem violências
nem armas, mas através do amor que só uma Mulher sabe
dar e receber, a quem e de quem ama profundamente, mas
também um amor de benevolência e de apaziguamento de
ódios e vinganças.
O “Dia da Mulher” é festejado em muitos locais do mundo,
porque, realmente, ela é um elemento criado por Deus
para fazer do homem um SER melhor (ainda que,
biblicamente, possa ser acusada de todos os males),
porque só ela sabe ser filha, esposa, companheira,
amante, mãe, avó, tudo isto, parentescos e papéis
insubstituíveis, de grande relevância para esta
sociedade conturbada.
É tempo, portanto, de reconhecer, inequivocamente, o
papel da Mulher nos contextos que a vida em sociedade
lhe proporciona, não só enquanto pessoa, individualmente
considerada, mas como membro de uma família, de um
grupo, de uma instituição, porque o homem, praticamente,
já não é insubstituível, na maioria das atividades
humanas, reservando-se, todavia, algumas capacidades e
qualidades que lhe são próprias ao nível biossexual
natural, da sua condição de progenitor, na medida em
que, neste papel supremo, não deve ser trocado por outro
processo de coprocriação: uma mulher - um homem
ressalvando-se, obviamente, o respeito por quaisquer
outros processos e orientações sexuais, que devem ser
colmatados com os meios que a ciência e a tecnologia nos
coloca à disposição.
Neste dia, inteiramente dedicado à Mulher: a sociedade
em geral e os homens em particular devem render-lhe
homenagem, agradecer-lhe a intervenção benévola, que ao
longo da História tem tido (salvo algumas más exceções),
para um mundo melhor, na defesa dos princípios e valores
essenciais que conduzem à felicidade e que ela, a
Mulher, continue no caminho da sua total libertação, não
só de “pseudo-homens”, como também no sentido da sua
autonomia pessoal, a nível: profissional, econômico,
financeiro, cultural e espiritual, entre outros.
Nesta terceira década do século XXI, ainda há muito por
fazer, a fim de que a Mulher possa atingir o estatuto a
que, ética e moral, legítima e legalmente tem direito.
Cabe ao Estado/Governo, às instituições, mas também aos
seus companheiros, e a elas próprias, implementar e
apoiar, respectivamente, todas as medidas legislativas,
laborais e familiares, para que a Mulher alcance o
estatuto profissional, social e ecumênico que lhe é
devido desde sempre, e tenha mais tempo para desempenhar
alguns dos seus principais papéis: filha, esposa, mãe,
avó, para além dos graus de parentesco colaterais.
Estar ao lado da Mulher, apoiá-la e defendê-la é o
mínimo que se pode exigir do Homem com “H-grande”,
aquele que, verdadeiramente, reconhece a Mulher como
parte insubstituível da sua existência, do seu sucesso;
tem o dever, mas também a honra de ser solidário, amigo,
leal, grato e cúmplice para com a Mulher que, de igual
forma, deve retribuir, porque é nesta simbiose de
partilha entre os dois que a sociedade tem algumas
hipóteses de alcançar a felicidade.
Diamantino Lourenço Rodrigues
de Bártolo é presidente do Núcleo Académico de Letras e
Artes de Portugal
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