Donos da Verdade
Se há um equívoco humano onde costumamos nos perder
intensamente, com graves prejuízos para os ideais que
julgamos lutar em favor, é nos colocarmos como donos da
verdade.
É quando começamos a achar que somos imprescindíveis. É
quando achamos que nosso ponto de vista é o mais
acertado e deve ser aceito por todos. É exatamente
quando nos colocamos na posição de impor ideias ou
comportamentos, esperando adesões sem questionamentos. É
aí que nos perdemos intensamente e prejudicamos os
progressos do conjunto. É que nos deixamos fascinar pela
vaidade, pela transitoriedade precária de um cargo ou
pela suposta e tola noção de superioridade e proteção
que julgamos possuir.
São conhecidos os prejuízos históricos de tais
comportamentos em todas as épocas da humanidade. Nem é
preciso citar qualquer exemplo, mas o fazemos apenas
para reforçar a presente abordagem. Caifás, Pilatos,
Hitler, entre outros personagens do passado e do
presente, estão entre tais casos, de nomes famosos ou
conhecidos e mesmo entre anônimos na realidade e
intimidade de empresas e famílias. Sim, tais casos
lamentáveis estão nos esportes, na política, nas artes,
nas religiões, nas profissões, nos relacionamentos
familiares ou não, e mesmo nos diferentes grupos de
diferentes ideais. Inclusive no ambiente do movimento
espírita, infelizmente.
Ocorre dizer, por oportuno, que a Doutrina Espírita nada
tem a ver com isso. Isso é consequência de nossa
imaturidade ou tentativa desesperada de resolver as
coisas sob o nosso limitado e estreito ponto de vista.
Imaturidade que ainda guarda os largos conteúdos do
egoísmo, causa que articula a ambição, a inveja, o ódio
e o ciúme, entre outros males. Ciúme e inveja, esses
vermes roedores da paz humana. Para quê? Eles juntos,
articulados pelo egoísmo, perturbam as relações sociais,
provocam divisões e destroem a tranquilidade e a
segurança, conforme comenta o lúcido Codificador do
Espiritismo, Allan Kardec, após a resposta dos Espíritos
à questão 917 de O Livro dos Espíritos.
Se trouxermos, então, tal questão e tais prejuízos à
intimidade de nossas atividades espíritas, já são
conhecidos os danosos resultados.
Não somos donos da verdade, não somos donos de ninguém.
Nossa opinião, nosso ponto de vista, é apenas um ponto
de vista pessoal, fruto de nossa experiência pessoal que
é diferente da experiência do outro, que não pode ser
desprezada.
Por que desmerecemos o esforço alheio, por que tentamos
paralisar iniciativas alheias? Por que, finalmente,
desejamos impor nossa vontade?
Tudo isso é fruto de nossa pequenez. Diante da proposta
lúcida e grandiosa do Espiritismo, alicerçado no
Evangelho de Jesus, iniciemos desde já o esforço de
melhora de nós mesmos e não dos outros...
Vale lembrar André Luiz, Espírito, no livro Conduta
Espírita(1) (edição FEB, psicografia
Chico Xavier): “(...) Suprimir toda crítica destrutiva
na comunidade em que aprende e serve. A Seara de Jesus
pede trabalhadores decididos a auxiliar (...)”.
(1) Capítulo
20 – Perante os companheiros, páginas 77 a 79 da 7ª
edição.
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