Você discute sobre política e religião?
As relações humanas estão em crise. Os disparates
comportamentais e a dificuldade de entendimento são tão
acentuados que o que se tem aconselhado, no momento, é
que cada um se volte para si mesmo e aproveite o caos
para refletir e amadurecer o espírito. Sem dúvida, é uma
boa decisão. Mas será que só ela resolve os nossos
problemas?
Diante de um quadro grave de inversão e subversão de
valores éticos e morais na sociedade, o que responder à
própria consciência que nos cobra atitudes assertivas,
fraternas, junto aos irmãos em humanidade? Como calar a
indignação diante do erro e das injustiças dolorosas que
nascem da maldade, do cálculo abjeto e não somente da
pura ignorância?
Por mais que se compreenda este momento diferente que
atravessamos e o liguemos a situações de provas e
expiações pertinentes a todos, é difícil manter-se
totalmente neutro, sem nenhum questionamento.
Devemos permanecer calados, indiferentes, repetindo
apenas que “tudo isso vai passar”, ou que são
experiências necessárias para o aprendizado? Somos
obrigados a ficar alheios, sem interferir de algum modo
no meio micro ou macro a que fomos chamados a viver?
Muitos querem fazer crer que não devemos intervir em
questões que tenham conotações políticas ou religiosas,
por exemplo, porque isso não se discute, são assuntos de
ordem pessoal e geralmente causam desavenças. Talvez
seja essa uma das razões que, ao longo do tempo, nos tem
colocado nessa situação triste de ignorância e
alienação; agravada pela displicência dos que nunca
souberam e continuam não querendo saber da importância
que esses temas têm em nossas vidas.
Política. Todos fazem política o tempo todo e em todo
lugar, e não somente quando votam. Há política em casa,
na escola, no trabalho, nas compras do supermercado, nas
relações com familiares, parentes e vizinhos, nos grupos
de arte, nos torneios de futebol, na participação
religiosa. Consciente ou inconscientemente fazemos
política, com maior ou menor percepção.
Para entender melhor, basta saber que em todas as nossas
atividades cotidianas será preciso escolher, aceitar,
rejeitar, conversar, dialogar, calar, propor, discordar,
compreender, projetar, avaliar, e mais um monte de
verbos que permeiam nossas relações. Isto é política.
Pública ou privada, coletiva ou individual. Estamos
fazendo política doméstica, educacional, comercial, de
saúde, de convivência, de boa vizinhança, enfim,
política humana.
De outro modo, como é necessário administrar a sociedade
em seus interesses gerais e heterogêneos, criam-se
partidos políticos que representem o pensamento e os
anseios dos vários segmentos sociais. Essa é a política
partidária, que envolve regime, ideologia, e da qual se
serve a maioria dos países, com adaptações próprias.
O cidadão escolhe, vota e na medida do possível
acompanha o desempenho do seu candidato, e essa
avaliação tem que abranger o interesse coletivo da
sociedade e não o gosto particular. Aqui, em essência,
essa participação nada tem a ver com a política
partidária que conhecemos. É política cidadã. Um
processo que deveria ser natural, uma forma de todos
colaborarem para o progresso geral, exigindo que os
políticos (funcionários do Estado) tenham espírito
público e trabalhem em benefício do bem comum.
Religião. O educador Allan Kardec, em O Livro dos
Espíritos, pergunta qual seria a melhor doutrina,
dentre tantas que pretendem ter a verdade exclusiva
(questão 842). Os Espíritos dizem: “Essa será a que
produza mais homens de bem e menos hipócritas (...).
A categórica resposta é suficiente para refletirmos
sobre os movimentos religiosos da atualidade e sobre o
nosso comportamento. Essa reflexão vai muito além da
pura fé.
Portanto, se não estamos satisfeitos com os políticos,
basta que exerçamos, sem ódio, nossa cidadania, e
procuremos melhorar esse meio com nossa participação
consciente e refletida. Afinal, queiramos ou não, a
política decide sobre nossas vidas. Há maus homens em
todas as atividades humanas, mas há bons também.
Precisamos aprender a distingui-los. Homens melhores
farão a política melhor.
Assim também na prática religiosa. O interesse em
conhecer o assunto, somado à cultura geral, formará
pessoas mais esclarecidas, que tenderão a se afastar das
doutrinas falsas, e com isso os aproveitadores da fé
alheia não terão como impedi-las de seguir a própria
consciência.
Quem diz: “Eu não discuto política nem religião” não
compreende que essa discussão não precisa
necessariamente envolver política partidária e
políticos, e nem dar espaço a euforia e fanatismo
religiosos.
Se aprendermos a conversar, respeitando o bom senso e as
opiniões diferentes, poderemos falar de tudo em qualquer
lugar.
No caso do centro espírita, uma pauta equilibrada e
coordenada com inteligência, possibilitará discussões
calmas e proveitosas. Mesmo porque a tolerância espírita
nos fará saber falar e saber ouvir, sem pretensão de
“ganhar debate”. E com o estudo continuado, na semana
seguinte retomaremos a discussão, que se desdobrará e se
aprofundará incessantemente. O Espiritismo tem muito a
nos ensinar, e nós a aprender com ele.
O que não podemos é continuar desprezando o primoroso
ensinamento: “Amai-vos e instruí-vos”.
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