Discutiremos, mas não competiremos
É possível que os queridos leitores já sejam
familiarizados com essa frase assertiva, de nosso Allan
Kardec. O digno Codificador, sábio e muito inteligente,
diante das perspicácias que poderiam advir de um momento
que trazia um panorama novo para a vida, estabeleceu
algumas diretrizes muito claras, que fossem a diretiva
de atuação da Revista Espírita que nascia.
Escreveu o insigne Codificador:
“Como nosso fim é chegar à verdade, acolheremos todas as
observações que nos forem dirigidas e tentaremos, tanto
quanto no-lo permita o estado dos conhecimentos
adquiridos, dirimir as dúvidas e esclarecer os pontos
ainda obscuros. Nossa Revista será, assim, uma tribuna
livre, em que a discussão jamais se afastará das normas
da mais estrita conveniência. Numa palavra:
discutiremos, mas não disputaremos. As inconveniências
de linguagem nunca foram boas razões aos olhos das
pessoas sensatas...”
Sábias palavras que nos fazem refletir seu uso, em todos
os momentos e em tudo o que formos fazer, dizer,
escrever, responder, para que o tempo, já tão escasso e
importante, não deixe de atender ao que realmente se
precisa fazer.
Há muitas metáforas diante de uma assertiva-regra tão
importante como essa.
E o que tiramos para nós, no nosso dia a dia? Que
tenhamos a paciência de ouvir, de falar quando
solicitados, de informar quando necessário, de
esclarecer quando as dúvidas se avolumam, de silenciar
quando a ocasião se inflama, e de meditar em oração
silenciosa no poder de sentir a energia que se espalha
no ambiente, muitas vezes havendo necessidade de a
neutralizar.
Ouço no meu coração, com ouvidos da alma: “tudo posso
n’Aquele que me fortalece” (Filipenses 4:3). E se
acreditamos que tudo podemos, então moveremos as
montanhas de ressentimentos, plantaremos a semente da
concórdia, e que essa possa transformar-se em uma
gigante árvore de bem viver para o nosso futuro, que é o
minuto seguinte de nossas vidas.
Algum tempo atrás, embarcamos no trem, na estação de
Paddington em Londres, às 7h, em direção a Maidenhead,
no condado de Berkshire. Aquela manhã com a espessa
neblina, o famoso fog de Londres nos dava a
impressão de estarmos dentro das nuvens. Muita alegria,
descontração, café quentinho na térmica, lá íamos as
quatro meninas grandes, felizes, para o evento que se
iniciaria às 10h.
Em menos de uma hora dentro do veloz trem, chegamos à
estação de Maidenhead, simples, bucólica, ainda
resquícios do fog londrino. Uma estátua nos
chamou a atenção e usamos dos minutos folgados que
tínhamos para explorar a arte que se nos apresentava. Em
bronze, um homem sentado em um banco, com um livro que
continha muitos nomes de crianças que foram salvas no
trem que partia de Praga, República Tcheca, para
Londres, para a estação de trem Liverpool Street Station,
que é como é mundialmente conhecida.
Interessamo-nos em ler no dr. Google sobre o homenageado
da estátua e o coração bateu forte, pois o jovem
britânico de 29 anos, Sir George Winton, nascido no
norte de Londres, em Hamsptead, salvou da morte pelos
nazistas em torno de 669 crianças, colocando-as em lares
no Reino Unido, auxiliado por sua mãe e amigos.
Meditamos quase que em oração de agradecimento a Deus,
por muitas vezes nos depararmos com vultos como esse,
que trouxe um benefício humanitário, salvando vidas,
defendendo a vida, sendo exemplo a que possamos nós, de
nossa parte, mesmo em pequenas doses humanitárias,
fazermos pelo próximo o que ele fez na época, sem ser
cristão, mas sim judeu, e colocando em prática a
conhecida lição que nos foi legada por Jesus: fazer aos
outros o que queremos que os outros nos façam.
Com a alegria no coração, por ver qualificado ainda mais
aquele dia, descemos para a rua, cantando as glórias do
Senhor em nossos corações, felizes e livres, para
conversarmos sobre os relevantes assuntos, dignificantes
pensamentos, trocas de energias entre boas amigas,
sentindo-nos felizes, por entendermos o que muitos de
nós passamos em existência passada. Quem sabe o amor ao
próximo não tenha vindo através de exemplos vivenciados
junto a um vulto como Sir George Winton?
E assim, vindo à nossa mente a lembrança do Natal, que
então se aproximava, ficamos meditando no nascer e
renascer de Jesus através do amor que alimenta nossas
almas, na prática diária da caridade e do amor ao
próximo, seja onde for, aqui ou em terras de além-mar!
Elsa Rossi, escritora e palestrante espírita brasileira
radicada em Londres, é presidente da BUSS - British
Union of Spiritist Societies.
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