Carta a
um amigo ante a pandemia
O questionamento
formulado por meio de
aplicativo de telefonia
móvel resultou na
seguinte carta a um
amigo diante da
pandemia:
“Amigo, como é que a
filosofia espírita
enxerga e trata este
momento que estamos
vivendo? Pergunto porque
no meio de tanto
bombardeio de regras e
interesses estou
buscando uma forma mais
tranquila e equilibrada
de lidar com isto”.
Meu caro amigo, fico
feliz que você esteja
buscando na Doutrina dos
Espíritos os
esclarecimentos
necessários à nossa
vida, porque ela é todo
um manancial que nos
dessedenta, nos
conforta, nos explica a
razão dos sofrimentos e
nos estimula a
prosseguir caminhando.
Tem razão quando diz que
estamos sendo
bombardeados com
informações por todos os
lados, muitas vezes
desencontradas; o
momento pede calma e
equilíbrio, sem sombra
de dúvida, quando
notamos que os próprios
especialistas da área da
saúde, pesquisadores e
cientistas de longa
data, muita vez, ainda
estão tentando se
entender.
Neste ponto, é
interessante regrarmos o
acesso aos noticiários,
porque sabemos que há
muito interesse em
alarmar, em chocar, ao
lado daqueles que
desejam realmente
informar. Saibamos
filtrar o que nos chega.
Logo de início,
aprendemos em
Espiritismo que a morte
não existe, não no
sentido em que é
retratada, como o fim de
tudo, o rompimento de
todos os laços afetivos,
a destruição sem
remédio. Ao longo dos
tempos, não poucos
artistas a representaram
como uma dama
cadavérica, trajada de
preto e encapuzada,
tendo numa das mãos
esqueléticas uma foice,
pronta a cortar o fio da
vida. Prefiro a
expressão do santificado
Francisco de Assis, que
a chamou,
carinhosamente, “irmã
morte”!
O túmulo configura a
porta de saída do
cenário terrestre, assim
como o berço é a porta
de entrada; tenhamos em
mente o sonho de Jacó,
na Bíblia, onde ele
visualizou uma imensa
escadaria, ligando a
Terra ao céu, com uma
movimentação intensa de
pessoas, umas subindo,
outras descendo. Ali
está figurado, na
simbologia onírica, o
transitar incessante das
almas que chegam e das
que partem do plano
espiritual – todos os
dias – para nós,
espíritas, umas estão
reencarnando, ou seja,
retornando ao plano de
matéria mais densa e
outras estão
desencarnando, isto é,
voltando à dimensão
extrafísica, de onde
viemos e para onde nos
dirigimos, sendo que a
marca principal daqui é
a impermanência e a de
lá, a perenidade.
Quantas pessoas renascem
no planeta, todos os
dias? Milhares, centenas
de milhares e outras
tantas desencarnam,
diariamente. Disso, da
fatalidade da partida,
todos temos a certeza e,
mesmo assim, guardamos a
tendência de fugir do
assunto, muitos nem
sequer mencionam a
morte, não querem saber,
como a criança que tapa
os próprios olhos e
acredita, assim, que os
outros não a podem mais
enxergar.
Aqui vale conferirmos O
Livro dos Espíritos,
na pergunta de n. 728,
com a qual Allan Kardec
inaugura o capítulo da
Lei de Destruição, como
uma das Leis Divinas (ou
Naturais). Os imortais
superiores responderam
que “Preciso é que tudo se
destrua para
renascer e regenerar.
Porque, o que chamais
destruição, não passa de
uma transformação,
que tem por fim a
renovação e melhoria dos
seres vivos”. (grifei)
Meu irmão, estamos
vivenciando na Terra os
dias da grande transição
planetária, em que
sairemos de um orbe de
provas e de expiações
para um patamar de
regeneração. De um mundo
onde o mal ainda
prepondera no íntimo das
criaturas humanas, para
um estágio em que exista
um equilíbrio entre as
forças do mal e do bem,
da luz e da sombra. É um
processo longo e
demorado, que se
estenderá ainda por
muito tempo, no qual
muitos são convocados ao
retorno repentino para o
lado de lá, de onde
retornarão, com a
mentalidade renovada,
auxiliando no progresso
geral.
Ocorre que quando
enrolamos demais na
jornada evolutiva, a
Providência Divina nos
chama à realidade, nos
forçando a avançar.
Recordemos que o Mestre
Jesus, enviado pela
Divindade a nos servir
de Caminho para a
Verdade e para a Vida,
há mais de dois mil
anos, baseou toda a Boa
Nova no Amor, a Deus, a
nós mesmos e a todas as
outras pessoas, no
entanto, ainda
vacilamos, hesitantes,
em exercitar tal forma
de amar.
Se nos decidíssemos,
verdadeiramente, a
trilhar pelos caminhos
do amor, a dor não nos
visitaria com tanta
frequência.
Ainda em O Livro dos
Espíritos, na
questão de n. 737 e nas
seguintes, o Codificador
trata dos “Flagelos
destruidores”, e
compreendemos que esses
grandes choques, como os
que agora sentimos, em
virtude da pandemia,
funcionam como a
estocada que faz o gado
avançar. Porque
estávamos acomodados,
displicentes, fez-se
necessário o solavanco.
Notemos que nos
encontrávamos à beira de
um conflito nuclear, em
que os E.U.A. flertavam
com a morte brusca de
milhões, ora com a
Coreia do Norte, ora com
países do Oriente Médio
e dali viesse, talvez, a
impossibilidade de
continuação da vida
humana sobre a Terra,
porque outras
superpotências poderiam
entrar em guerra, cada
uma defendendo os seus
aliados. Agora, com a
epidemia de coronavírus
espalhada no globo, ao
menos por enquanto, as
atenções se voltaram
para a pesquisa de
remédios, tratamentos e
esforços dirigidos à
busca da vacina, em
consórcios científicos
internacionais.
Equipes de Fórmula 1
estão desenvolvendo
aparelhos de ventilação
mecânica mais
eficientes, fábricas de
automóveis se
reconfiguraram para
atenderem à demanda por
tais equipamentos e
grupos de jovens
empreendedores, aqui no
Brasil e em todo o
mundo, desdobram
esforços para
encontrarem meios de
produzirem respiradores
artificiais mais
baratos.
Ao menos por agora, nos
damos conta que Deus nos
concede ar puro todos os
dias, o qual poluímos, e
não nos cobra nada pelos
litros e litros de
oxigênio com que
inflamos e desinflamos
nossos pulmões, a cada
inspiração e exalação,
conduzindo os recursos
necessários ao campo
celular.
Da mesma forma o Pai
Eterno faz com a água, a
luz solar e todos os
demais recursos dos
quais dispomos, à
vontade, para a
manutenção da nossa
saúde, entretanto,
preferimos valorizar em
demasia simples
instrumento de troca, o
dinheiro, em detrimento
das riquezas
verdadeiras, as quais
desprezamos. Em geral,
na vida em sociedade,
optamos pelas coisas, ao
invés das pessoas,
chegando a confundir
estas com aquelas, nos
relacionando por
interesse, em vez de
buscarmos enxergar a
essência dos outros
seres humanos, na
corrida consumista
desenfreada, nos
consumindo, ao mesmo
tempo em que exaurimos
os recursos naturais.
Sob a aparência da
normalidade, nos
esquecemos da finitude,
que marca a nossa
condição humana. O vírus
nos fez lembrar que
temos um prazo de
validade e, portanto,
devemos valorizar ao
máximo cada minuto, cada
hora, cada dia, porque,
afinal, não sabemos
exatamente quando soará
o momento da partida.
Aliás, o grau de
letalidade da nova
síndrome é baixo, se
comparado a outras
doenças infecciosas, sem
falar de outras causas:
para ficarmos em apenas
um exemplo, dados da
Organização
Pan-americana de Saúde –
OPAS, vinculada à OMS,
de fevereiro de 2019,
dão conta que a cada
ano, a vida de
aproximadamente 1,35
milhão de pessoas é
interrompida devido a um
acidente de trânsito.
Quantos irmãos e irmãs
nossos, todos eles
também filhos de Deus,
sofrem a fome todos os
dias, sob o peso da
miséria em que são
relegados?
Em um país de recursos
variados como o Brasil,
não deveria haver
ninguém residindo em
favelas, nem no meio das
ruas, ao deus-dará; tudo
isso é fruto do nosso
egoísmo, que prefere
fazer de conta que não é
conosco, já que não nos
atinge. Porém, o surto
pandêmico nos chamou a
atenção para o fato que
vivemos em relações
interdependentes, que
necessitamos do
agricultor, da faxineira
e do entregador de
pizza, assim como do
médico, do bombeiro e do
juiz de direito.
Esta que atravessamos,
como todas as crises,
revelam o melhor e o
pior que carregamos no
íntimo. Saibamos
cultivar o bem,
renovando o mal que
ainda existe em nós.
No mais, meu amigo,
sigamos com as nossas
vidas, agora mais
alertas, procurando
usufruir da “vida em
abundância” que nos
oferece Jesus de Nazaré,
cientes de que somos
Espíritos imortais, só o
corpo de carne é
perecível.
Como afirmou a
mensageira de Nossa
Senhora, Maria de
Nazaré, a Chico Xavier:
“Isso também passa”.
Também essa fase de
surto pandêmico passará;
aproveitemos para nos
renovar, em espírito,
demonstrando em atos a
gratidão a Deus, mais à
frente, quando voltarmos
a usufruir da liberdade
que tanto menosprezamos.
Fica aqui o desejo
sincero de podermos nos
abraçar, mais adiante.
Segue trecho do Caderno
de Mensagens, capítulo
7, “Entrevistando André
Luiz”, com esta resposta
psicografada pelo
inesquecível médium
mineiro, para nossa
reflexão:
32. Se
a ciência humana se
servir de seus recursos,
pondo em risco a
estabilidade do Planeta,
é de se esperar esteja a
Humanidade da Terra
sujeita a uma
intervenção direta da
parte de outros
planetas?
“Nossa confiança na
Sabedoria da Providência
Divina deve ser
completa. Ainda mesmo
que a Terra se
desintegrasse numa
catástrofe de natureza
cósmica, Deus e a Vida
não deixariam de
existir. Uma cidade
arrasada num cataclismo
não significa a
destruição de um povo
inteiro. Justo que, em
nos considerando
coletivamente, temos
feito por merecer longas
aflições e duras provas
na Terra, entretanto,
diante da Infinita
Bondade, devemos afastar
quaisquer ideias
sinistras da cabeça
popular, carecedora de
harmonia e esperança
para evoluir e servir.
Amemo-nos uns aos
outros. Realizemos o
melhor ao nosso alcance.
Convençamo-nos de que o
bem vive para o mal como
a luz para a sombra.
Edifiquemos o mundo
melhor, começando em nós
mesmos, e confiemos na
palavra fiel do Cristo
que prometeu amparar-nos
e auxiliar-nos ‘até o
fim dos séculos’.
E assim nos exprimindo,
não nos propomos afirmar
que, a pretexto de
contar com Jesus,
podemos andar
irresponsáveis ou
desatentos. Não. Forçoso
trabalhar e cumprir as
obrigações que a vida
nos trace, a fim de
sermos amparados e
auxiliados por ele,
sejam quais forem as
circunstâncias.”