Divina intercessão
O Mestre divino exorta-nos há mais de dois mil anos à
mudança do paradigma evolutivo moral na Terra.
Convida-nos, incansavelmente, o Senhor e seus exércitos
de benfeitores celestes, para que sigamos em definitivo
o caminho da real fraternidade universal, que possui
suas bases e diretrizes no amor, na caridade, em suas
expressões sinceras de benevolência, indulgência e
perdão.
O fenômeno pandêmico doloroso que testemunhamos nestas
horas difíceis é, paradoxalmente, pão divino a saciar a
fome humana de paz. Maná derramado dos Céus para a Terra
carente de alimento espiritual! Não há uma só alma em
todo o universo, e igualmente em nosso planeta, que não
esteja sob o manto protetor da Lei divina.
As aflições são recursos ostensivos, permitidos pelo
Senhor da vida, com a finalidade de irmanar corações
distanciados pelos milênios de cultivo do orgulho e do
egoísmo. As vicissitudes e os tormentos desempenham,
individual e coletivamente, o impositivo íntimo de
retorno à casa Paterna, de nós, seus filhos rebeldes e
ingratos, que não reconhecemos a herança e a felicidade
do compartilhamento das riquezas sem-fim de nosso Pai.
Os flagelos destruidores, a bem da verdade,
transformadores e propiciadores de uma nova ordem, têm a
capacidade de nos unir, pois a dor nos irmana e nivela a
todos a quem ela atinge, sem diferenciações, sem
vantagens e predileções distintas. Perante o fenômeno da
dor, não há prerrogativas, posições sociais, econômicas,
nenhum poder temporal e material capaz de anular sua
atuação generalizada, indistinta.
Somos todos, neste momento, apenas seres humanos, não
importando nacionalidade, idioma, etnia, crença... A
dificuldade experimentada lembra, duramente, aos
corações sensibilizados pelo constrangimento
compulsório, o ensino imorredouro de Jesus, quando nos
ensinou que Deus era Pai de toda a humanidade e que,
portanto, todos somos, indistintamente, irmãos.
Deus, em seus atributos de perfeição, somente expressa a
suprema justiça, a suprema sabedoria e o supremo amor.
Somente a obediência à Lei divina conduz à real
felicidade.
Nosso Pai, como supremo pedagogo, impõe aos seus filhos
amados a necessidade da corrigenda, da redenção e
retomada de caminhos harmonizados com sua Lei.
Os processos de redenção, de correção são, portanto,
recursos pedagógicos aos quais nenhum de nós poderá
fugir indefinidamente, pois o amor divino nos constrange
através da saturação de todo o mal que dá início ao
processo de retomada evolutiva.
Não existe castigo, no sentido de infrutífera punição.
Toda a dor é convite à reflexão para mudança de atitude
e retomada de padrões de vivência salutar. Deus nos ama
infinitamente e em grau insuperável!
O porta-voz divino, Jesus Cristo, é a nossa melhor fonte
provedora da fé, da confiança inabalável e do bom ânimo
para o enfrentamento sereno, firme e seguro em tempos de
mares revoltos e, ao mesmo tempo, de aferição dos
valores morais já conquistados. A sabedoria popular
exemplifica ensinando que “a calmaria não forma bons
marinheiros”.
Faz-se necessário aplicarmos em todos graus, em todas as
esferas de ação, com todo o nosso potencial, o
impositivo cristão: “Amai-vos uns aos outros como eu vos
amei”.
Amemos com coragem, com bravura d`alma, sem restrições,
sem condicionamentos, sem exigências, livres do
interesse pessoal!
O amor nos gestos mais simples, nas ações da vida comum.
Tempo de nos investirmos de coragem para os movimentos
de reconciliação; para a reaproximação de nossos
desafetos, munidos pelo desejo sincero de trilhar o
caminho do perdão.
Tempo mais do que oportuno para alijarmos do peito o
ódio; de dissolvermos as crostas de mágoas e
ressentimentos em lágrimas autênticas de compreensão e
entendimento...
Tempo de união. Tempo de cessar toda a causa de
conflitos e contendas. Tempo de silenciar ante a afronta
da ignorância agressiva, da intolerância que convida a
reação igualmente desequilibrada.
Tempo de silêncio, mas não de omissão. Tempo de oferecer
a outra face da paz, da compreensão e não do revide.
Tempo de nos abstermos das provocações e das discussões
estéreis.
Tempo de compartilhar os nossos melhores valores
espirituais com nossos entes queridos, amados.
Doarmo-nos integralmente aos nossos filhos ao invés de
apenas desincumbirmo-nos do sustento, da instrução e das
distrações materiais...
Tempo mágico para dulcificar nossas manifestações no
convívio familiar e social. Momento de resgatar a
gentileza e a brandura oriundas da humildade e do amor
fraternal.
Tempo para manifestar nosso amor à vida. Reconhecendo
todas as bênçãos que nos cercam, desde a beleza
insuperável da natureza até os percalços já superados
que nos forjaram um melhor caráter.
Tempo de louvor, tempo de expressar a gratidão pela
vida, pelo próprio corpo, pelas pessoas ao nosso redor.
Pelos nossos pais, pelos nossos avós, pelos nossos
anciãos e pelo legado de todos aqueles irmãos em
humanidade que nos precederam no retorno à vida
espiritual e que contribuíram em todas as faixas de
evolução humana, concedendo-nos a oportunidade de termos
herdado um mundo melhor...
Tempo para a palavra de esperança, consoladora e
comprometida com a verdade a quem estiver ao nosso
alcance.
Tempo de compaixão. Tempo para doar o alimento que falta
na mesa de alguém. Tempo para socorrer o amigo ou o
estranho triste, solitário e enfermo... Tempo de
generosidade com a vizinhança, com os nossos
subordinados e com os nossos superiores em nossas
organizações do trabalho... Tempo do desprendimento...
Tempo para a caridade...
Nossa família, antes circunscrita, é, definitivamente, a
família universal!
O medo, a insegurança, naturais em nosso processo
evolutivo, quando exacerbados, sem controle, incidem em
nosso mundo íntimo, desafiando e demandando
gerenciamento consciente, sóbrio e responsável,
comprometido com a manutenção de um estado mental de
harmonia íntima, a qual deve preponderar em nossas
expressões, para pormos termo às correntes de
pensamentos saturados de insegurança, pânico e
desespero.
Nosso equilíbrio dependerá, única e exclusivamente, da
mobilização de nossos pensamentos em sintonia com os
pensamentos superiores, refletidos pelas mentes
equilibradas que igualmente refletem o pensamento
augusto do Mestre Jesus! “Orai e vigiai!”.
A vigilância, na observação atenta e zelosa do universo
íntimo, conduz-nos à prática eficaz e portentosa da
oração simples e verdadeira. Aquela que busca o coração
do meigo Rabi, encontrando resposta traduzida na
quietude e no apaziguamento de nossos domicílios
espirituais, de nosso templo divino, onde as
manifestações da consciência geram os elementos
construtivos das pontes de comunhão com o Pai!
Somos imortais! Eis o nosso brado ao mundo que estremece
e se retrai pelo pavor da morte, da cessação da
existência. Não apenas nossos corpos, mas todas as
expressões da matéria densa, do mundo das formas que é
impermanente, são suscetíveis a processos de destruição,
de transformação, necessários e imprescindíveis para o
aprimoramento do ser que somos, Espíritos, inteligências
criadas por Deus com destinação infinita nas trilhas do
trabalho, do progresso, da perfectibilidade.
Não há, em nosso estágio evolutivo, aprimoramento
espiritual sem as imersões na esfera carnal.
Preservemos, tanto quanto nos seja possível, a vida
orgânica através de todos os nossos recursos
disponíveis, aprimorando mais e mais nossa inteligência
pelos desafios da conservação com qualidade da vida
terrena. Cuidemos de nossa higiene, de nossa proteção e
nutrição corporal com equilíbrio e respeito ao carro
orgânico que nos serve de morada e instrumento de
atuação na carne.
Atendamos as orientações dos nossos gestores da saúde
humana, bem como respeitemos as autoridades
administrativas no cumprimento das leis de nossas
sociedades, colaborando, de nossa parte, para a
manutenção do clima ordeiro e favorável à disciplina,
essenciais para o equilíbrio comunitário e social.
Além dos cuidados físicos, consagremos importância
capital aos imperativos de manutenção e ampliação dos
fenômenos garantidores da saúde e bem-estar psíquico e
espiritual.
A saúde espiritual é igualmente determinante para a
homeostase orgânica. E mesmo quando a vitalidade
corporal é comprometida, seja pelos fenômenos naturais
do desgaste celular, seja por enfermidades e traumas
decorrentes de programações reencarnatórias, é imperiosa
a manutenção de um estado espiritual salutar, ou seja,
um estado de paz e resignação diante dos desígnios e da
providência de Deus. Mesmo diante da desencarnação, os
cuidados com nosso estado íntimo proporcionarão uma
transição menos perturbadora no desenlace e um despertar
mais feliz e pleno no retorno à vida espiritual.
Utilizemo-nos, portanto, da água-viva do Evangelho de
Amor que Jesus nos oferece para saciar a sede de
plenitude em meio aos nossos desertos de provações e
expiações.
Esta é uma hora bendita! Não nos queixemos! Nada de
desânimo, de tristeza ou qualquer forma de lamento!
Guardemos nossa fé aureolada pela razão que os ensinos
dos Espíritos a serviço de Jesus nos legam nestes
transes terrenos.
Trabalhemos esperançosos, servindo junto ao Cristo
através de todo o bem que possamos ser e de todo o bem
que possamos oferecer, com a humildade e a simplicidade
condizentes com os valores cristãos.
Servir ao Cristo não é fazer proselitismo. Não devemos
levantar outra bandeira que não seja a da fraternidade
da família universal. Este estandarte luminoso é filho
legítimo do sentimento divino de compaixão, pela
constatação da dor e da fragilidade nossa e de nossos
irmãos!
Ergamos nosso olhar ao mais alto! Dilatemos nossa visão
espiritual para todo o nosso querido orbe, que nos serve
agora como lar!
Roguemos ao Pai sua infinita compaixão, seu
incomensurável amor em nossos corações, para o
alinhamento inadiável de nossos caminhos com a rota de
luz que nos leva a encontrar, no coração de nossos
irmãos, o espelho cristalino que refletirá o mais
sublime amor espelhando a face de Deus!
Maurício Curi é palestrante espírita e coordenador do
Departamento de Atendimento Espiritual do Grêmio
Espírita Atualpa Barbosa Lima, em Brasília (DF).
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