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por Leda Maria Flaborea

 

Mundo, campo de trabalho!


“E disse-lhes: vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.”  - Jesus (Mt, 4:19). “Então lhes disse: Lançai a rede à direita do barco e achareis. Assim fizeram e já não podiam puxar a rede, tão grande era a quantidade de peixes.” (Jo, 21:6.)
 


“Os círculos cristãos permanecem repletos de estudantes que se classificam no discipulado de Jesus, com enorme entusiasmo verbal, como se a ligação com o Mestre estivesse circunscrita ao problema de palavras”, conforme judiciosa afirmação do benfeitor espiritual Emmanuel, na lição 58, do livro Fonte Viva, psicografado por Francisco Cândido Xavier.

Em verdade, a vida de cada um de nós é um conjunto de deveres distribuídos para conosco, para com a família e para com a humanidade inteira. E convenhamos, não é tão fácil desempenhar tudo isso com a aprovação plena das diretrizes evangélicas. Mas é preciso começar e para isso é imprescindível aparar nossas arestas, garantindo o equilíbrio, para ajudarmos os que nos cercam e servir à comunidade na qual estamos inseridos. Se não nos retificarmos, semeando primeiro em nossa gleba e depois ajudando o próximo, mostrando como semear, conforme nos ensina Jesus na Parábola do Semeador, não mudaremos nosso roteiro e, a bem da verdade, já estamos ficando cansados de tantos desvios.

Para buscar a sublimação com o Cristo não há outro caminho a não ser ouvir Seus ensinos, assimilá-los e nos dispormos com firmeza a vivenciá-los... É importante reafirmar isso porque facilmente encontramos aprendizes do Evangelho carregando consigo o peso das provas redentoras, sem seguir o Mestre, entregando-se à revolta, ao endurecimento, e tendo a fuga como a melhor escolha... Outros parecem ligados a Jesus nas frases bem elaboradas e entusiasmadas, sem carregarem a cruz que lhes cabe, abandonando-a em portas alheias.

São aquisições difíceis de serem conquistadas, mas necessárias se quisermos atingir a verdadeira comunhão com o Divino Amigo. Sem a aceitação dos impositivos do bem e a obediência aos padrões do Senhor, permaneceremos imantados ao planeta sem qualquer condição de levantar voo em direção à liberdade espiritual.

Devemos nos empenhar em sair do casulo do orgulho e do egocentrismo aos quais nos recolhemos, procurando nos integrar num sistema existencial caracterizado pela convivência fraterna: interação e auxílio ao próximo. Não basta, portanto, o esforço da aquisição do desenvolvimento das virtudes. É preciso ir além, muito além... Sair de nós e caminhar em direção aos necessitados de amparo, não importa quem, quando e nem onde.

Os novos tempos nos convocam a colaborar na obra divina de melhoria espiritual da humanidade, em que se procura eliminar o egoísmo que, como chaga moral, neutraliza os mais valorosos impulsos de progresso. Neste sentido, a Doutrina Espírita fornece os instrumentos do entendimento, do reequilíbrio e da sensatez, necessários ao agir com acerto.

Toda tentativa de burlar a Lei Divina transforma-se em desastroso espetáculo de dor, angústias e culpas. A remissão será, então, a única alternativa possível ao retorno do equilíbrio.

Se a cada recomeço, ainda que de sofrimentos, conseguirmos compreender que falimos como usufrutuários das benesses divinas, a caminhada à recomposição será mais leve, caso contrário, estaremos somando aos débitos que já fizemos com a contabilidade divina, novas dívidas que tornarão cada recomeço um fardo cada vez mais pesado.

Ainda permanecemos indisciplinados, administrando ou obedecendo a Cristo, interpretando-O como se Ele fora conivente com nossas rebeliões individuais. Todavia, em momento algum, encontramos qualquer programa de Jesus nesse sentido. E nem poderíamos saber, ainda que tentemos, na busca de quem queira nos ouvir e acreditar, o que o Governador da Terra fará com nosso planeta redimido.

Assevera Emmanuel ¹ que o Mestre nunca Se apresentou como reformador de políticos, viciados pelas más inclinações de governadores e governados de todos os tempos. Ao contrário, anunciou-nos a Celeste Revelação para nos salvar e nos libertar dos próprios enganos, afastando-nos do egoísmo que ainda nos prendem ao chão do materialismo.

Nossa posição hoje, diante do Cristo, é de iniciantes do apostolado evangélico: “Cristo libertando o homem das chagas de si mesmo, para que o homem limpo consiga purificar o mundo. O reino individual que puder aceitar o serviço libertário do Salvador encontrará a vida nova”. ²

O Espírito da Verdade afirma³ que estamos no tempo em que se cumprirão as profecias referentes à transformação da humanidade e que serão felizes todos aqueles que tiverem trabalhado o campo do Pai com desinteresse e movidos apenas pela caridade. Mas infelizes daqueles que pelo abandono da tarefa retardaram a hora da colheita, porque serão levados no turbilhão. “Nessa hora clamarão: Graça! Graça! Mas o Senhor lhes dirá: por que pedis graça se não tivestes piedade de vossos irmãos, se vos recusastes a lhes estender a mão, e se esmagastes o fraco em vez de socorrê-lo? (...) Nada tendes a pedir”.

Se somos cooperadores de Deus, é necessário sermos Seus fiéis trabalhadores. O Pai ajuda as criaturas através da própria criatura. A desculpa de que alguns se proclamam pecadores, e tão maus que se sintam inabilitados ou incompetentes para qualquer serviço na obra cristã, faz com que seja esquecida a necessidade que temos de trabalhar na própria melhoria, e que somente através do concurso amoroso em benefício do próximo atingiremos o nosso objetivo.

Mas as portas da colaboração com o divino amor permanecem abertas constantemente, e quem se dispuser ao trabalho com as Altas Esferas ouvirá o chamado para o serviço no bem.

Como podemos observar, o amor ao próximo é a base segura na qual nos formaremos para a construção da nossa evolução espiritual. Temos sido filhos perdulários, despendendo preciosas energias em numerosas existências, desviando-nos para caminhos obscuros em terrenos perigosos de onde sairemos para pesadas retificações reencarnatórias.

Todavia, já possuímos alguns conhecimentos, pela misericórdia divina, que nos alerta, mostrando que já é tempo de cooperarmos fielmente com Deus, no desempenho dessa tarefa humilde no mundo, nosso campo de trabalho.  


Bibliografia
:

1 - XAVIER, F. C., Vinha de luz, ditado pelo Espírito Emmanuel – 14ª edição – Editora FEB – Brasília/ DF – Lição 58 - 2005.

2 – Idem, ibidem.

3 – KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XX, item 5.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita