As duas
realidades
incontestáveis
Se há corpo animal, há também espiritual
“Porque o que é corruptível se vestirá de
incorruptibilidade e o que é mortal de imortalidade.” Paulo.
(1º. cor., 15:53)
Ainda na mesma
carta aos coríntios, afirmou o apóstolo Paulo: “(...)
o que semeamos não germina se não morre. Assim a morte
foi destruída pela vitória da vida abundante. Isso é o
mesmo para com a ressurreição dos mortos: se semeia algo
corruptível e ressuscita incorruptível. Se semeia uma
coisa desprezível e ressuscita gloriosa, se semeia uma
coisa débil e ressuscita com força. Se semeia um corpo
animal e ressuscita um corpo espiritual. Se há corpo
animal, há também espiritual. Há corpos celestes e
corpos terrestres, mas um é o resplendor dos corpos
celestes e outro é o dos terrestres”.
Aí estão as duas realidades incontestáveis: espírito
e matéria! O Espiritismo veio à Terra (entre outros
motivos) para mostrar a estreita vinculação entre essas
duas realidades. Mas os que não estudam com interesse e
constância as letras espiritistas dizem que o
Espiritismo não faz outra coisa senão substituir o
magnetismo, ou melhor, se cobriu com seu nome. Para
dizer a verdade, isto não passa de mais um ataque à
mediunidade. Assim, segundo essas pessoas, tudo quanto
escrevem os médiuns é apenas resultado das faculdades da
alma encarnada; é ela que vê a distância e prevê os
sucessos; a que por um fluido magnético espiritual
agita, levanta, move as mesas, percebe os sons etc.,
tudo, em uma palavra, seria resultado da essência
anímica sem intervenção dos seres puramente
espirituais. Sempre é prejudicial cair nos extremos, e
é exagerado encaminhar tudo ao sonambulismo, como se os
espiritistas negassem as leis do magnetismo. Não é
possível arrebatar a matéria das leis magnéticas, como
tampouco o Espírito das leis puramente espirituais.
Os que se obstinam em negar a existência do mundo
espiritual, mas que sem embargo não podem negar os
fatos, se atrapalham buscando a causa exclusiva no mundo
corporal. Não obstante, para que uma teoria seja
verdadeira, deve dar razão a todos os fatos que com ela
se relacionam; uma só contradição em um dos fatos a
destrói, porque em a Natureza não há exceções. Isto é
precisamente o que aconteceu com a maior parte daquelas
que foram imaginadas para explicar “a priori” os
fenômenos espíritas: caíram uma a uma ante os fatos que
não podiam admitir. Depois de esgotarem, sem resultados,
todos os sistemas, se veem obrigadas a socorrerem-se das
teorias espiritistas como as mais conclusivas, porque
estas não foram formuladas prematuramente nem tampouco
sobre observações feitas superficialmente e, por isso
mesmo, englobam todas as variedades e todas as classes
de fenômenos. A aceitação tão rápida das teorias
espíritas pela grande maioria se deve ao fato de cada um
encontrar a solução completa e satisfatória daquilo que
haviam buscado inutilmente em outra parte. Sem embargo,
há muitas pessoas que ainda as rechaçam. Isso acontece
com todas as grandes ideias novas que vêm alterar os
costumes e as crenças, encontrando todas por muito tempo
encarniçados contraditores, mesmo entre os homens mais
sábios. Mas chega um dia em que o que é verdade vence o
que é falso e, então, se surpreendem com a oposição que
fizeram: isto é muito natural... O mesmo sucederá com o
Espiritismo, tendo presente que, de todas as grandes
ideias que comoveram o mundo, nenhuma conquistou em tão
pouco tempo tão grande número de adeptos entre todas as
classes da sociedade e em todos os países. Eis aí por
que os espíritas, cuja fé não é cega, como pretendem
seus adversários, senão fundada na observação, não se
preocupam nem se inquietam com seus contraditores, nem
tampouco dos que não abundam em suas ideias.
A crença sobre a existência dos seres intermediários
entre o homem e Deus não é nova, como sabemos; mas
geralmente acreditava-se que esses seres formavam
criações excepcionais; as religiões os chamavam de anjos
e demônios e os pagãos os chamavam de deuses. O
Espiritismo vindo provar que esses seres não são mais
que as almas dos homens que alcançaram graus diferentes
na escala espiritual, conduz a Criação à unidade
grandiosa que é a essência das leis divinas. Em vez de
uma multiplicidade de criações estacionárias que
revelariam na Divindade o capricho ou a parcialidade,
não há mais que uma criação essencialmente progressiva,
sem privilégio para criatura alguma, elevando-se cada
individualidade desde o estado de embrião ao de seu
completo desenvolvimento, tal como o gérmen da semente
chega ao estado de árvore. O Espiritismo, pois, nos
ensina a unidade, a harmonia e a justiça da Criação.
Para ele os demônios são as almas atrasadas, manchadas
ainda com os vícios da humanidade; os anjos são essas
mesmas almas purificadas e desmaterializadas, e entre
esses dois pontos extremos, a multidão de almas que
chegaram a diferentes graus da escala progressiva; por
este meio estabelece a solidariedade entre o mundo
espiritual e o corporal.
Quanto ao problema proposto, qual é nos fenômenos
espiritistas ou sonambúlicos, o limite onde cessa a ação
própria da alma humana (animismo), e onde começa a dos
Espíritos?
Resposta:
diremos que tal limite não existe, ou melhor, que não
tem nada de absoluto. Desde o instante que estes não são
espécies distintas, que a alma não é outra coisa que um
Espírito encarnado, e o Espírito uma alma livre dos
laços terrestres, e que é o mesmo ser em dimensões
distintas, as faculdades e atitudes devem ser as mesmas.
O sonambulismo é um estado transitório entre a
encarnação e a desencarnação, uma emancipação parcial,
um pé posto de antemão no mundo espiritual... A alma
encarnada, ou seja, o próprio Espírito do sonâmbulo ou
do médium pode fazer, pois, pouco mais ou menos do que
fará a alma desencarnada, e até muito mais, se é mais
adiantada; sempre com a diferença de que, por sua
completa emancipação, é a alma mais livre, e tem
percepções especiais inerentes a seu estado.
A diferença que há entre o que é um efeito ou produto
direto da alma do médium e do que provém de origem
alheia, é muito difícil de definir, porque com
frequência ambas as ações se confundem e corroboram.
Assim é que nas curas verificadas pela imposição de
mãos, o Espírito do médium pode obrar por si só ou com a
assistência de outro Espírito; a inspiração poética ou
artística pode ter também uma dupla origem. Mas, porque
tal distinção seja difícil de determinar, não se
depreende, por isso, que seja impossível. A dualidade é
com frequência evidente, e, em todo caso, resulta quase
sempre de uma atenta observação.