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por Rogério Coelho

 

As duas realidades incontestáveis


Se há corpo animal, há também espiritual


“Porque o que é corruptível se vestirá de incorruptibilidade e o que é mortal de imortalidade.” 
Paulo. (1º. cor., 15:53)


Ainda na mesma carta aos coríntios, afirmou o apóstolo Paulo: “(...) o que semeamos não germina se não morre. Assim a morte foi destruída pela vitória da vida abundante. Isso é o mesmo para com a ressurreição dos mortos: se semeia algo corruptível e ressuscita incorruptível. Se semeia uma coisa desprezível e ressuscita gloriosa, se semeia uma coisa débil e ressuscita com força. Se semeia um corpo animal e ressuscita um corpo espiritual. Se há corpo animal, há também espiritual. Há corpos celestes e corpos terrestres, mas um é o resplendor dos corpos celestes e outro é o dos terrestres”.

Aí estão as duas realidades incontestáveis: espírito e matéria!  O Espiritismo veio à Terra (entre outros motivos) para mostrar a estreita vinculação entre essas duas realidades. Mas os que não estudam com interesse e constância as letras espiritistas dizem que o Espiritismo não faz outra coisa senão substituir o magnetismo, ou melhor, se cobriu com seu nome. Para dizer a verdade, isto não passa de mais um ataque à mediunidade. Assim, segundo essas pessoas, tudo quanto escrevem os médiuns é apenas resultado das faculdades da alma encarnada; é ela que vê a distância e prevê os sucessos; a que por um fluido magnético espiritual agita, levanta, move as mesas, percebe os sons etc., tudo, em uma palavra, seria resultado da essência anímica sem intervenção dos seres puramente espirituais.  Sempre é prejudicial cair nos extremos, e é exagerado encaminhar tudo ao sonambulismo, como se os espiritistas negassem as leis do magnetismo. Não é possível arrebatar a matéria das leis magnéticas, como tampouco o Espírito das leis puramente espirituais.

Os que se obstinam em negar a existência do mundo espiritual, mas que sem embargo não podem negar os fatos, se atrapalham buscando a causa exclusiva no mundo corporal. Não obstante, para que uma teoria seja verdadeira, deve dar razão a todos os fatos que com ela se relacionam; uma só contradição em um dos fatos a destrói, porque em a Natureza não há exceções. Isto é precisamente o que aconteceu com a maior parte daquelas que foram imaginadas para explicar “a priori” os fenômenos espíritas: caíram uma a uma ante os fatos que não podiam admitir. Depois de esgotarem, sem resultados, todos os sistemas, se veem obrigadas a socorrerem-se das teorias espiritistas como as mais conclusivas, porque estas não foram formuladas prematuramente nem tampouco sobre observações feitas superficialmente e, por isso mesmo, englobam todas as variedades e todas as classes de fenômenos.  A aceitação tão rápida das teorias espíritas pela grande maioria se deve ao fato de cada um encontrar a solução completa e satisfatória daquilo que haviam buscado inutilmente em outra parte. Sem embargo, há muitas pessoas que ainda as rechaçam. Isso acontece com todas as grandes ideias novas que vêm alterar os costumes e as crenças, encontrando todas por muito tempo encarniçados contraditores, mesmo entre os homens mais sábios.  Mas chega um dia em que o que é verdade vence o que é falso e, então, se surpreendem com a oposição que fizeram: isto é muito natural... O mesmo sucederá com o Espiritismo, tendo presente que, de todas as grandes ideias que comoveram o mundo, nenhuma conquistou em tão pouco tempo tão grande número de adeptos entre todas as classes da sociedade e em todos os países. Eis aí por que os espíritas, cuja fé não é cega, como pretendem seus adversários, senão fundada na observação, não se preocupam nem se inquietam com seus contraditores, nem tampouco dos que não abundam em suas ideias.

A crença sobre a existência dos seres intermediários entre o homem e Deus não é nova, como sabemos; mas geralmente acreditava-se que esses seres formavam criações excepcionais; as religiões os chamavam de anjos e demônios e os pagãos os chamavam de deuses. O Espiritismo vindo provar que esses seres não são mais que as almas dos homens que alcançaram graus diferentes na escala espiritual, conduz a Criação à unidade grandiosa que é a essência das leis divinas. Em vez de uma multiplicidade de criações estacionárias que revelariam na Divindade o capricho ou a parcialidade, não há mais que uma criação essencialmente progressiva, sem privilégio para criatura alguma, elevando-se cada individualidade desde o estado de embrião ao de seu completo desenvolvimento, tal como o gérmen da semente chega ao estado de árvore. O Espiritismo, pois, nos ensina a unidade, a harmonia e a justiça da Criação. Para ele os demônios são as almas atrasadas, manchadas ainda com os vícios da humanidade; os anjos são essas mesmas almas purificadas e desmaterializadas, e entre esses dois pontos extremos, a multidão de almas que chegaram a diferentes graus da escala progressiva; por este meio estabelece a solidariedade entre o mundo espiritual e o corporal.

Quanto ao problema proposto, qual é nos fenômenos espiritistas ou sonambúlicos, o limite onde cessa a ação própria da alma humana (animismo), e onde começa a dos Espíritos? 

Resposta: diremos que tal limite não existe, ou melhor, que não tem nada de absoluto. Desde o instante que estes não são espécies distintas, que a alma não é outra coisa que um Espírito encarnado, e o Espírito uma alma livre dos laços terrestres, e que é o mesmo ser em dimensões distintas, as faculdades e atitudes devem ser as mesmas.

O sonambulismo é um estado transitório entre a encarnação e a desencarnação, uma emancipação parcial, um pé posto de antemão no mundo espiritual... A alma encarnada, ou seja, o próprio Espírito do sonâmbulo ou do médium pode fazer, pois, pouco mais ou menos do que fará a alma desencarnada, e até muito mais, se é mais adiantada; sempre com a diferença de que, por sua completa emancipação, é a alma mais livre, e tem percepções especiais inerentes a seu estado.

A diferença que há entre o que é um efeito ou produto direto da alma do médium e do que provém de origem alheia, é muito difícil de definir, porque com frequência ambas as ações se confundem e corroboram. Assim é que nas curas verificadas pela imposição de mãos, o Espírito do médium pode obrar por si só ou com a assistência de outro Espírito; a inspiração poética ou artística pode ter também uma dupla origem. Mas, porque tal distinção seja difícil de determinar, não se depreende, por isso, que seja impossível. A dualidade é com frequência evidente, e, em todo caso, resulta quase sempre de uma atenta observação.[1]

 

[1] Artigo baseado na carta de Paulo aos coríntios e no livro: “Obras Póstumas”, de Allan Kardec, com extratos retirados do capítulo das “controvérsias sobre a existência de seres intermediários entre o homem e Deus”.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita