Amor e dor não são sentimentos
antagônicos
Afirma-se que o amor promove mudanças. Nada mais
verdadeiro. Esse sentimento que nutrimos, ainda mesclado
de impurezas, é capaz de ativar transformações muito
positivas, e a nossa atuação motivada por ele, contagia
o meio. Acredito nisso.
Mas há outro agente de mudanças, talvez mais eficaz para
o estágio evolutivo em que se encontra a humanidade: é a
dor. Costumamos achar que um se opõe ao outro, baseados
nas definições de cada um com que fomos educados.
Quantos de nós já não dissemos: “Se não aprender por
amor, aprenderá pela dor”? Mas pode-se afirmar que se
amor e dor não são sinônimos, também não expressam
sentimentos antagônicos, principalmente para os
Espíritos superiores.
São processos que acompanham o homem no seu trabalho
individual de crescimento. A dor à frente, o amor em
seguida. A dor preparando o terreno e a semente, o amor
germinando e produzindo.
Léon Denis, em O problema do ser, do destino e da dor,
nos ajuda a refletir: “Tudo o que vive neste mundo,
natureza, animal, homem, sofre e, todavia, o amor é a
lei do Universo e por amor foi que Deus formou os
seres”. Parece contraditório? Não, segundo o pensamento
espírita que considera “a dor como lei de equilíbrio e
educação” ¹.
Em Depois da morte, o mesmo Léon Denis afirma: “A
dor, sob suas múltiplas formas, é o remédio supremo para
as imperfeições, para as enfermidades da alma”. Em
seguida, Denis parece confirmar o que dissemos acima, ou
seja, que o sofrimento se antecipa na vida do Espírito
como veículo de depuração, despertando nele o
desenvolvimento do amor: “A adversidade é uma grande
escola, um campo fértil em transformações. Sob seu
influxo, as paixões más convertem-se pouco a pouco em
paixões generosas, em amor do bem” ².
Esse contraponto entre amor e dor também é feito pelo
Espírito Victor Hugo em 1906, através da extraordinária
mediunidade psicográfica do português Fernando de
Lacerda: “O ser humano é presa eterna das mais rudes
contradições” – dita Victor Hugo. “Quando mais ama é
quando mais sofre, quando mais sofre é quando é mais
feliz; quando é mais feliz é quando mais se prepara para
se entregar à dor” ³.
Léon Denis concorda com ele: “Amar é sentir-se viver em
todos e por todos, é consagrar-se ao sacrifício, até à
morte, em benefício de uma causa ou de um ser”.
Nessa altura, é inevitável lembrar os grandes Espíritos
que sofreram pela humanidade e, em especial, o maior
deles, o Cristo. Seria difícil avaliar neles o que era
dor, o que era amor.
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1 Léon Denis, O problema do
ser, do destino e da dor, caps. XXV e XXVI, FEB
1979.
2 Léon Denis, Depois da morte,
capítulos XLIX e L, FEB, 1978.
3 Fernando de Lacerda, Do país da luz,
volume 1, cap. XXII, Victor Hugo, Espírito. FEB 2003.
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