Angústias
de um
dirigente
espírita
Eu conheço várias dessas angústias. Minhas andanças pelo
país e minha história de vida, também como dirigente no
passado, me trouxeram uma visão global do movimento
espírita e sua diversidade no entendimento doutrinário e
suas práticas – que devemos compreender –, gerando
comportamentos e atitudes tão diversas neles próprios,
que igualmente se deparam com voluntários, tarefeiros e
frequentadores, diretores, também com a diversidade que
nos é própria como seres humanos.
Todo líder ou dirigente – e não só espírita, claro, mas
em qualquer segmento – sempre se defrontará com
opositores. É natural, mas nem sempre fruto de crítica
construtiva, muitas vezes é resultante de inveja, ciúme,
oposição sistemática mesmo e até desejo simples de
perturbar, por leviandade.
Pense comigo:
a) Se
trabalha ativamente (e
aí se inclui atendimento com fraternidade, proferindo
palestras ou aulas e coordenando cursos, e até mesmo
preparando trabalhadores para continuidade natural das
tarefas), é fanático ou está querendo seguidores;
b) Se
interrompe a tarefa,
ainda que por enfermidade ou problemas pessoais, é
chamado de desertor ou acusado de abandono por
ingratidão e inconsciência espírita;
c) Se
acompanha com atenção o
andamento das diversas frentes de trabalho, é nomeado de
controlador ou que, na linguagem vulgar, “não larga o
osso de jeito nenhum”;
d) Se
usa da criatividade para motivar e envolver as pessoas,
é classificado como revolucionário e desejoso de
deturpar a pureza doutrinária;
e) Se
usa seus talentos pessoais é
também porque quer aparecer;
f) Se
organiza as atividades e sugere sequência para
isso é porque tem interesses;
g) Se
é notado mais próximo de alguém, com
mais frequência, em necessidade é porque há interesses
inconfessáveis.
h) Se
se destaca pela atuação, é
alvo de inveja, ciúme e até boicote.
i) Se
demonstra assiduidade nas tarefas, está
abandonando a família;
j) Se
promove eventos para geração de receitas,
é porque está enriquecendo com elas;
k) Se
leva adiante providências,
pela omissão de outros encarregados, é porque “passa por
cima dos outros”;
l) Se
toma decisões, é
porque não é democrático...
m) Se
fortalece a instituição ou causa a que se dedica, é
porque quer domínio sobre tudo e todos...
Claro que a lista não termina aí, outros se acrescem,
entre fatos desagradáveis de bastidores, intrigas
absolutamente dispensáveis, falatórios sem utilidade, e
por aí vai, em situações bem próprias da condição
humana.
São angústias que muita gente nem imagina, nem sabe, e
que muitas vezes podemos causar sem perceber, nós mesmos
que talvez estejamos próximos e atormentando líderes
natos que trabalham pelo bem geral. Nossos
comportamentos distraídos ou levianos atormentam ativos
trabalhadores do bem, retardam ações que podem
beneficiar muita gente.
Estejamos atentos no que dizemos, como dizemos, no que
fazemos e como fazemos. Podemos ser levianos sem
perceber e perturbar quem trabalha. Podemos muitas vezes
estar gerando angústias, intencionais ou sem perceber,
que nos custarão mais tarde lágrimas de remorso, quando
nos dermos conta da responsabilidade que, com tais
atitudes, assumimos.
Procuremos nunca nos vermos como concorrente, não o
somos. Somos criaturas tocadas pelo mesmo ideal e
devemos nos respeitar, seja em qual condição nos
encontremos, fazendo-nos ativos colaboradores, sem
perturbar os trabalhos em andamento. Se achamos que
podemos fazer melhor, assumamos a responsabilidade que
nos compete, sem olhar com despeito quem trabalha.
Ainda que haja os que desejam aparecer, que querem se
projetar e dominar, ou que, entre tantas outras
situações, destoam nos campos do personalismo, da
vaidade ou do egoísmo e de pretensões descabidas,
estamos todos em aprendizado, cada um amadurecendo a seu
tempo.
É incabível que nos deixemos dominar por sentimentos
vis, considerando a grandeza da Doutrina Espírita,
quando o dever igualmente nos chama ao trabalho
constante do bem.