Cinco-marias

por Eugênia Pickina

Criança e dislexia


Educação, para a maioria das pessoas, significa tentar fazer com que a criança pareça o adulto típico de sua sociedade… Mas para mim, educação significa criar criadores… Você precisa criar inventores, inovadores, não conformistas.
 J. Piaget


Ler e escrever são atividades dialógicas, de produção discursiva na linguagem escrita. Mas, enquanto aprendem, há crianças que manifestam dificuldades comunicativas, sintomas esses que ficam evidentes, principalmente, no período da alfabetização – como a dislexia, que é uma perturbação da aprendizagem.

Mas o que é dislexia?

Transtorno de aprendizado, a dislexia é caracterizada por uma dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração. Há inversões (sapato/satapo), supressões (branco/banco), espelho (som/mos), repetição (bananana), sons semelhantes são confundidos (T/D) etc.

Congênita e hereditária, a dislexia não é doença. Seus sintomas podem ser identificados logo no contexto da pré-escola. De outro lado, mesmo que a criança ainda não frequente a escola, em caso de desconfiança, os pais podem recorrer a um fonoaudiólogo ou a um psicopedagogo, que orientará o tratamento  (mais) adequado para a criança.

De início a criança com dislexia poderá sentir-se ansiosa e inferior aos colegas de classe. A participação da família será essencial para apoiá-la e ajudá-la a prosseguir com sua rotina e seu desenvolvimento seguro e tranquilo. O mais importante: não subestimar a criança ou reduzir suas expectativas. Permitir, portanto, que suas habilidades a definam como pessoa, e não suas dificuldades, cientes os pais de que a dislexia não está associada à inteligência.

No trato com o filho, é interessante os pais recordarem que superproteção é tão nociva quanto o abandono ou a indiferença. As crianças com dislexia são muito capazes e devem assumir responsabilidades. Incentivar a curiosidade e os interesses especiais que a criança possa ter – desenhar, tocar um instrumento musical, cozinhar etc. – contribui de forma positiva para o seu desenvolvimento, sendo também uma fonte significativa de inspiração e felicidade.

Os pais que têm um filho com dislexia precisam estar bem informados, liberando-se de mitos que até hoje estão associados à dislexia (por exemplo, o mito de que as dificuldades de aprendizagem estão correlacionadas com o QI etc.) e que causam uma compreensão equivocada acerca desse distúrbio de aprendizagem.

O fato é: cada ser humano é único e possui uma maneira singular e intrincada de observar e interagir com o mundo. Ambos os rótulos de ‘gênio’ ou de ‘incapaz de aprender’ são nocivos ao desenvolvimento de uma criança, disléxica ou não, e acabam por comprometer sua autonomia futura…

Notinhas

Cf. Associação Brasileira de Dislexia (dislexia.org.br).

Cf. Topczewski, A. Dislexia: como lidar. SP: Ed. All Print, 2012.

Dislexia é palavra formada por “dis” (distúrbio) e “lexia” (do latim, leitura; do grego, linguagem) e se define como um transtorno genético e hereditário da linguagem, de origem neurobiológica, que se caracteriza pela dificuldade de decodificar o estímulo escrito ou o símbolo gráfico. A dislexia compromete a capacidade de aprender a ler e escrever com correção e fluência e de compreender um texto. Em diferentes graus, os portadores desse defeito congênito não conseguem estabelecer a memória fonêmica, ou seja, associar os fonemas às letras. Segundo a Associação Brasileira de Dislexia, o transtorno acomete de 0,5% a 17% da população mundial, pode manifestar-se em pessoas com inteligência normal ou mesmo superior e persistir na vida adulta.

O tratamento da dislexia exige a participação de especialistas em várias áreas (pedagogia, fonoaudiologia, psicologia, etc.) para ajudar o portador de dislexia a atenuar/superar o comprometimento no mecanismo da leitura, da expressão escrita ou da matemática.

Saber que a pessoa é portadora de dislexia e as características do distúrbio é o melhor caminho para evitar prejuízos no desempenho escolar e social e os rótulos depreciativos que ferem a autoestima.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita