O
coronavírus e as
enxertias espirituais
Exercendo pungente
função terapêutica
espiritual, a Covid-19
continua assustando não
apenas pelos crescentes
números fatídicos, mas
também pelas forçosas
mudanças em nosso modo
de vida. Com efeito,
significativo número de
pessoas - algo
absolutamente impensável
há pouco tempo atrás -
foi compelido a
trabalhar sob o
solitário sistema home
office. Não sem
razão, há quem previna
que mudanças profundas
ocorrerão muito
brevemente no tamanho
dos escritórios das
empresas, que poderão
ser mais enxutos e
despojados.
Além disso, os
onipresentes apps de
restaurantes,
lanchonetes e serviços
em geral ganharam corpo
e relevância por causa
da pandemia. Grandes
cidades, como São Paulo,
onde vivo, estão
atulhadas de jovens
pilotando bicicletas ou
motos, sempre movidos
por excessiva pressa,
rumo aos clientes
ansiosos por receber os
seus pedidos.
É igualmente notável a
transformação gerada
pela Covid-19 no
arrefecimento brutal das
relações sociais e
familiares, bem como –
pasmem – até mesmo no
número de casamentos,
que sofreram queda de
61%, segundo determinada
pesquisa.
No entanto, apesar de
toda a convulsão advinda
do terrível vírus, assim
como dos prováveis
pesadelos pós-pandemia
para colocarmos “as
coisas no lugar”,
abundam, ainda assim,
imagens de pessoas
vivendo um estilo de
vida extremamente
alienado, como se nada
estivesse acontecendo.
Para elas, que
inexplicavelmente
abdicam do uso de
máscaras protetoras,
continuam inalteradas a
busca obsessiva pela
forma física ao ar
livre, as caminhadas
despretensiosas pelas
ruas das grandes
cidades, a ida aos
bulhentos pancadões,
o cultivo dos churrascos
dominicais coletivos
regados a música e
cerveja, entre outros
hábitos menos
apropriados aos tempos
atuais.
Em outras palavras, a
oportunidade
indiretamente
proporcionada pela
pandemia de exercitar
mais profunda reflexão e
reexame de valores e
atitudes não está sendo
aproveitada. Talvez seja
esta, provavelmente para
muitos, a última chance,
pelo menos por um bom
tempo, concedida pelo
Criador para tal...
Desse modo, é clamoroso
observar que, mesmo em
tempo de crises como
este, o lado sombrio da
criatura humana continua
a se manifestar por meio
de negociatas,
conchavos, malversação
de recursos,
prevaricações de toda
ordem, e roubos, enfim,
sem a menor noção de
misericórdia para com os
necessitados.
Empresários
inescrupulosos, agentes
públicos irresponsáveis
e atravessadores
impiedosos - cumpre
ressaltar que os preços
de alguns itens chegaram
a aumentar até 2000%
neste período conturbado
- permanecem na sua
sanha nefasta.
Aparentemente, a
pandemia não os
despertou para o caminho
da luz ou da aquisição
de valores universais.
Seja como for, a
Covid-19 continua
atingindo a todos,
especialmente os menos
prudentes.
Ao que sabemos, através
da comunicação mediúnica
de companheiros do lado
de lá, que nos
acompanham desde o
início de nossa atual
jornada na densa
matéria, a situação das
vítimas da pandemia é
estarrecedora. Entidades
espirituais acostumadas
com as mazelas humanas
estão profundamente
sensibilizadas com o
sofrimento destes
recém-chegados à outra
dimensão.
Afinal, centenas de
Espíritos estão
retornando ao mundo
maior sob as derradeiras
e mortais sensações
decorrentes da ação do
terrível vírus.
Despreparados em relação
aos ditames da
verdadeira vida, voltam
sem as bênçãos do
esclarecimento, da fé,
da autoiluminação e,
pior ainda, sob intenso
e insuportável
mal-estar, dada a
trágica maneira como
estão desencarnando.
Ademais, já é de
conhecimento geral o
crescimento no número de
suicídios. Segundo as
mesmas respeitáveis
entidades, muitos estão
retornando à
espiritualidade também
por essa via, obviamente
em condições
precaríssimas, porque
foram incapazes de
resistir aos reveses e
dificuldades da hora
presente. Posto isto, o
Espírito Emmanuel usou
uma bela metáfora, que
vale lembrar, em uma de
suas sábias mensagens,
contida na obra Fonte
Viva (psicografia de
Francisco Cândido
Xavier), ao ponderar que
“Toda criatura, em
verdade, é uma planta
espiritual, objeto de
minucioso cuidado por
parte do Divino
Semeador”.
Nessa percepção, os
seres humanos são
submetidos, assim como
os vegetais, a
diferentes períodos
existenciais. Daí,
segundo o mentor, ao
aquilatarmos os recursos
do conhecimento, razão e
experiência, o Criador
nos está facultando a
possibilidade de
“enxertia espiritual com
vistas à nossa
sublimação para a vida
eterna”.
Indiscutivelmente, “a
enxertia do Alto
procura-nos através de
mil modos”. Por
conseguinte, não podemos
excluir as experiências
decorrentes das
dificuldades sem conta,
das quedas e tropeços
inesperados, das
derrotas pessoais, por
exemplo, para que
desenvolvamos, assim, as
enxertias da resiliência
e da paciência. Afinal,
de outro modo, não
conseguiríamos utilizar
a força interior
necessária para extrair
as grandes lições
existenciais.
É verdade também que
todos nós temos a nossa
hora, o nosso dia,
enfim, de concluir a
nossa missão aqui nos
palcos das experiências
purificadoras. Nesse
sentido, têm sido
maravilhosas as imagens
de pessoas idosas, no
mundo todo, que estão
superando a doença. A
alegria e felicidade que
elas passam são
contagiantes para nós
todos. Afinal, elas são
vencedoras!
Contudo, os mais jovens,
em plena romagem, não
precisam e, sobretudo,
não devem antecipar o
retorno à pátria
espiritual devido ao
descuido com a saúde do
corpo físico ou por
causa de atitudes
impensadas. Não faz
sentido agregar,
especialmente no estágio
transitório em que
presentemente nos
encontramos, mais peso à
própria cruz por causa
de irresponsabilidade na
conduta e/ou desperdício
das sagradas enxertias
espirituais.