Berlinda
… E na roda, em voz baixa, alguém dizia assim:
— Vocês viram, de fato?
Nunca vi companheiro tão mesquinho
E nenhum tão ingrato!…
Obsessão, ali, domina em cheio.
Homem que não entende, nem perdoa,
Sobretudo, é sovina inveterado.
Uma pedra em pessoa…
E, noutra roda, alguém asseverava:
— Ela, coitada, em tudo é doida e cega,
Intrigante, orgulhosa, sem juízo.
Um poço de vaidade que trafega…
Onde aparece é flor que não se cheira,
Brasa que a gente vê mas não atiça.
E, além dos desmantelos que provoca,
É um retrato acabado da preguiça.
Quantas vezes entramos no barulho
De coração simplório e desatento,
Tão só comprando o peso do remorso
E a sombra triste do arrependimento!…
Ante as rodas que falam sem proveito,
Guarda em silêncio e prece a própria voz…
Hoje, os outros padecem na berlinda,
Cuidado! que amanhã seremos nós.
Do livro Seguindo juntos, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.