Ilusões terrenas
A busca pelo autoconhecimento passa por um olhar à
constituição psíquica do ser humano, a constituição que
é comum a todos nós e que nos tem dirigido sobre a
Terra. Somos criados por ideias e algumas delas
coletivas, maior parte destas ideias está viva há
milhares de anos; são as roldanas do funcionamento
humano que atravessam gerações e se mantêm até a
atualidade.
Se perguntarmos a alguém, que se interesse pelo
questionamento da vida humana, o que vimos fazer na
Terra? A resposta é quase que automaticamente dada como:
vimos aprender a amar. De certa forma, está certa, este
é o motivo essencial da nossa passagem nas
reencarnações, mas como chegamos lá?
A uma criança de sete anos, que frequente o 5º. ano e
queira seguir medicina como profissão, ela está a
aprender medicina? Será lógico colocar-lhe questões
sobre medicina? E se agarrarmos nos livros de medicina e
a obrigarmos a estudar, estaremos a ajudar ou
simplesmente estaremos a complicar a sua vida, porque o
que ela tem de fazer é estudar o 5º. ano e depois o 6º.,
e por aí afora, até chegar à faculdade e agarrar os
livros de medicina.
O amor que percebemos em alguns seres que passaram na
Terra, tal como Madre Teresa, São Francisco de Assis,
Chico Xavier, e não poderia deixar de mencionar o Mestre
Jesus, é uma conquista sobre as tendências humanas a que
estamos sujeitos. Nós simplesmente não aprendemos a
amar; este estado de ser é a “consequência” do emergir
do Espírito, um estado natural.
Para que não fique confuso, peguemos em exemplos um
pouco mais simples, que possamos explorar.
A paciência - nós corremos atrás da paciência, tentamos
de toda a forma ser pacientes, até porque a impaciência
é uma forma de sofrimento, mas dificilmente
conseguiremos ser pacientes desta forma, porque na
realidade ela não existe, é apenas uma ideia, e, neste
caso, muito abstrata, porque é uma ideia sobre algo que
não existe.
Se duvida de mim pergunte a si próprio como pode ser
paciente? Qual a resposta que surge? Ou é uma série de
nãos: não posso ser impulsivo, não posso ser agressivo
etc. ou tenho de ser calmo, tolerante etc.
Repare que, no caso dos nãos, eles existem, não posso
ser impulsivo; o impulso existe, é um movimento. Não
posso ser agressivo, é um ato… E nos sins? Tenho de ser
tolerante, o que é isso? É ser paciente? Tenho de ser
calmo, o que é isso? É ser paciente? Somos remetidos a
novos adjetivos sem existência, novamente abstratos. A
imagem que aparece na mente é de alguém com o pensamento
vazio.
Se eu quero ser paciente tenho de perceber o que é a
impaciência, porque na realidade é o que existe. A
inexistência da impaciência é a paciência em si.
Engraçado, não é? Nós corremos o tempo todo a tentar
ser pacientes, mas não percebemos que só queremos ser
pacientes quando a impaciência surge, então,
esforçamo-nos para fugir desta em direção à paciência,
que na realidade não existe. Olhar para a impaciência e
lidar com ela, compreendê-la, oferecer-lhe nosso
carinho, é a forma de a extinguir, e aí surge a
paciência que, por ironia, não lhe ligamos porque só a
queremos quando estamos impacientes.
A não existência de que falo é no sentido de ser criada
por nós, ou seja, nós atribuímos uma série de estados,
como a paz, a paciência, a serenidade, como nossas
criações, mas na verdade são nossos estados naturais ou
nosso estado de ser. Quando saímos deles, ou seja, no
caso acima descrito, ficamos impacientes, então criamos
a ideia de paciência que, na verdade, é o nosso estado
natural da ausência da impaciência. Ou seja, se não
houvesse impaciência, não criaríamos a palavra paciência
para descrever o estado “contrário”.
Talvez seja mais fácil de vermos a situação da saúde.
Coloquemos a pergunta, a saúde existe? Como que,
automaticamente, a reposta é sim, mas reparem. O estado
natural do ser humano é aquilo a que chamamos com
saúde. Quando a doença aparece, nós dizemos que
estamos doentes, e quando esta é curada nós dizemos que
estamos com saúde. Então o que aparece e desaparece é a
doença; se não existisse qualquer doença nós teríamos
criado o termo saúde? Simplesmente o criamos para
definir a ausência da doença.
A paz, a paciência, a serenidade, o amor, no lado
interno ou psíquico, é como saúde, um estado natural do
ser, criamos estes nomes para definir a inexistência das
emoções que nos retiram deste estado.
Vamos ver o caso da paz, quando é que queremos ter paz?
Não será quando não a temos?
Voltamos ao mesmo problema que a paciência; o que é a
paz? A paz é um estado natural do ser que existe quando
se dá a ausência de uma série de circunstâncias.
Ouvimos muitas vezes falar, incluindo na televisão,
temos de construir a paz, como se fosse algo que se
constrói. Esta não é construída, nem no planeta entre os
povos, nem em nós. Como a construiríamos? Vamos ver em
nós, como posso estar em paz? Sendo paciente, calmo,
sereno etc. E o que é ser paciente calmo e sereno? É
estar em paz; mais uma vez um grupo de adjetivos
abstratos, sem existência, ou seja, suportados pela
existência de atos negativos e não pelos próprios atos.
Nós queremos paz quando estamos em caos, ou seja, quando
nosso interior está agressivo, ansioso, impulsivo etc.,
e nós queremos voltar à paz, que é a inexistência destas
coisas negativas. Para o fazermos temos que compreender
estas coisas para que possamos resolver uma a uma e, aí,
elas começam a se extinguir; consequentemente
retornaremos ao estado de paz.
E no caso do amor? Será o amor a inexistência do ódio,
da agressividade, da ira, da raiva, do desejo material,
do egoísmo, entre outros?
É fácil percebermos que o Amor não coabita no coração
com as negatividades anteriormente referidas, mas se
elas não existirem, o que sobra?
Será este um estado natural que nós poderemos sentir
quando estamos em paz?
Então, com o que temos de aprender a lidar para podermos
amar?
Sede puros de coração, um conselho que ainda ultrapassa
a nossa consciência do ser.
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