Morrerei em breve (quanto tempo na existência física é
bastante, diante da imortalidade?)
Morrer ou nascer existo a desenvolver
Apatia e ilusão mergulho na confusão
Na morte do meu carinho eu choro baixinho
A melancolia enalteço, se da fé esqueço.
Avaliar a natureza ciclicamente a comprovar
Do ventre materno alegria, um coração a pulsar!
É morrer e nascer o estado a desenvolver
Entre viver e morrer hei sempre que enternecer.
Ao redor do Planeta, a cada segundo uma pessoa se
despede da existência corpórea. No presente ano,
enquanto esse artigo é elaborado, regressaram para o
outro mundo, aproximadamente, trinta e um milhões e
cento e oitenta mil Espíritos e contando...1
Construímos afeições, laços e relacionamentos
consanguíneos e ou espirituais, os de simpatia e amizade
sem nenhum grau de parentesco, como nos remete o
polímata Benjamin Franklin: "Um irmão pode não ser um
amigo, mas um amigo será sempre um irmão".
Há quem encare a morte como uma fatalidade, no sentido
de grande infelicidade, tragédia, infortúnio,
entretanto, aprendemos na literatura espírita que
fatalidade é fatal no verdadeiro sentido da palavra,
quer dizer que não há como escapar2 e mais,
que foi uma escolha do Espírito ao reencarnar
instituindo para si esse tipo de experiência.3
A separação das pessoas que enriquecem a caminhada
ensejando alegria, paz e satisfação, bem como o
aprendizado da tolerância, do perdão e da renúncia, é
algo extremamente desafiador para aceitar de pronto,
principalmente para aqueles que acreditam que o
desencontro será para sempre.
Todos nós vivenciamos esta dor, processo complicado
também para quem chega ao fim de sua viagem, que varia
conforme sua compreensão sobre a fé na vida futura e na
aceitação de sua partida; recordamos alguns casos
reportados por André Luiz4 de pessoas com
crenças variadas e, independentemente delas, uns tiveram
um bom desenlace e, outros, mais dolorosos.
O desligamento da existência física é destino de nossa
condição humana, urge a adaptação dessa realidade. O que
mais me deixará grata quando desencarnar serão as
orações intercessoras, pois é o que temos notícias
exemplificadas na codificação kardequiana5 dos
desencarnados que relatam o benefício que a prece
oferece.
Sentir a ausência é compreensível, entretanto, a carga
emocional desse sentimento é o xis do problema, devido à
ligação que se estabelece através do pensamento, e a
ressonância do sentimento melancólico repercute de forma
prejudicial em quem nos antecede na vida Maior.
Os evangelistas escreveram sobre a vida eterna, que foi
afirmada por Jesus e materializada em dezenas de
versículos. No auge de sua renúncia, a crucificação,
Jesus Cristo a evidenciou quando se reuniu com os
discípulos antes de sua ascensão.6 Intimamente
sentimos que a morte é um embarque para mais uma etapa
da vida, esta é que é uma só.
Cada pessoa reage de uma maneira; despedidas são sempre
tristes, o luto é inevitável na ruptura, porém, quando
se alonga, pode desencadear processos angustiosos de
doenças emocionais causadas pelo apego.
Em nossas existências, seja no corpo físico, ou fora
dele, continuamos nos relacionando com corações queridos
e nos separando, seja pela desencarnação ou pela
reencarnação, e a todo instante há desencontro e
reencontro. Os instrutores da vida maior
asseveram: “Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma
vive melhor quando desembaraçada do seu invólucro
corpóreo” 7. Durante o sono temos o ensaio do
desencarne, o contato com o plano espiritual; cada dia é
menos um dia na Terra, e a preparação para a despedida
dos que me cercam, quer seja eu indo, ou eles, é
bem-vinda.
Na erraticidade (quando estamos desencarnados) estamos
livres do peso do corpo, da limitação dos sentidos
físicos, porém, não escapamos dos nossos sentimentos. A
todo instante há de se esforçar no trabalho íntimo,
analisando os pontos que precisam de correção,
estimulando a maturidade, assumindo a responsabilidade
para lidar com as ações equivocadas e, principalmente,
aprender a relacionar-se consigo, como bem nos lembra o
admirável Francisco Cândido Xavier: “Escapamos da morte
quantas vezes for preciso, mas da vida nunca nos
livraremos”.
Referências bibliográficas:
1 Wordometers, População Mundial, Mortes
este ano. Disponível em: <worldometers>
Acesso em: 12 de julho, 2020.
2 Kardec, Allan, O
Livro dos Espíritos, questão
853.
3 Kardec, Allan, O
Livro dos Espíritos, questão
851.
4 Luiz, André (Espírito). Obreiros da
Vida Eterna. [psicografado por] Francisco Cândido
Xavier. 29° edição. Rio de Janeiro. Federação Espírita
Brasileira. 2004.
5 Kardec, Allan. O Céu e o Inferno (ou
a Justiça Divina) segundo o Espiritismo. Tradução de
Salvador Gentile. 51ª. edição. Araras. São Paulo.
Editora IDE. 2008. Cap. V.
6 BIBLIA, Lucas: 24: 15.
7 Kardec, Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo. Tradução de Matheus Rodrigues de
Camargo. 1ª. edição. 40° reimpresso. Capivari. São
Paulo. Editora EME. 2000. Cap. V.
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