A
síndrome
do vício
do
prestígio
O
trabalhador
em busca
de
reconhecimento
pessoal
não
serve à
causa de
Jesus
“(...)
Grande
virtude
é
verdadeiramente
necessária
para que
alguém
renuncie
à sua
personalidade
em
proveito
dos
outros.” -
Fénelon
Bastante
espinhosa
(difícil
mesmo) é
a tarefa
que
compete
ao
diretor
de
divulgação
doutrinária
de uma
Casa
Espírita
séria.
Inúmeras
vezes
ele é
abordado
por “oradores” que
se
oferecem
para
fazer “palestras”, além
de
receber
o
impacto
vibracional
daqueloutros
que são
preteridos,
(evidentemente
quase
sempre
por
razões
óbvias).
Não sem
razão já
dizia um
amigo
muito
querido
e
sadiamente
engajado
no
movimento
espírita: “oradores
existem
muitos,
mas
oradores
verdadeiramente
espíritas
são
raros!”.
Por
outro
lado,
não são
raras as
criaturas
vítimas
da síndrome
do vício
do
prestígio,
vício
esse
dinamizado
(como
dizem os
franceses)
pelo
excesso
de “moi-je”, personalismo,
egoísmo,
orgulho,
vaidade,
empáfia...
Em tais
corações
não
existe
espaço
para a
humildade,
qualidade
essencial
que deve
exornar
o
caráter
de todo
trabalhador
do
Cristo.
O
ínclito
Mestre
Lionês
ensinou que “a
abnegação
da
personalidade,
o
desinteresse
moral e
material,
a
prática
da lei
de amor
e de
caridade
serão
sempre
os
sinais
distintivos
daqueles
para
quem o
Espiritismo
não é
somente
uma
crença
estéril,
nesta
vida e
na
outra,
mas uma
fé
produtiva”.
A esse
respeito,
analisemos
o
pensamento
de
Ermance
Dufaux:
“(...)
acostumamos
enunciar
nos
meios
espíritas
que
somos
orgulhosos.
Admitimos
essa
imperfeição,
mas
temos
que
reconhecer
que
ainda
somos
inaptos
para
detectar
seus
traços
em
nossa personalidade.
Façamos
então
uma
singela
análise
em uma
de suas
mais
variadas
manifestações
sutis.
Escolhamos
a esfera
da
vaidade! O
perfil
moral
dos
habitantes
da Terra
guarda
uma
feição
comum que
é a
necessidade
de
valorização
e
reconhecimento
pessoal,
o que seria
muito
natural
não
fosse
nossa
paixão
no
egoísmo.
Entanto, essa
necessidade
tem
constituído
uma
tormenta
social:
considerando que
todos
querem
ser
prestigiados,
quem
ficará
para
prestigiar?
Pouquíssimos
são os
que se
encontram
sensibilizados
para a arte
da
alteridade,
dispostos
a
destacar
conquistas
e
valores
no
outro. Esse
é o
choque
do
egoísmo
a que se
refere
Fénelon1:
‘cada
um
querendo que
o outro
pense
nele sem
se
preocupar
com os
demais’.
Se você,
por
exemplo,
iniciar
uma narrativa
que
destaque
seus
valores
individuais
ou algum
episódio
de êxito
na sua
existência,
quem o
estiver
ouvindo
logo
iniciará
um processo
similar,
sem
sequer
ocupar-se
em ouvir
sua
história
ou dela tirar
algum
proveito.
É como
diz
Fénelon
na obra
citada
em
epígrafe: ‘notando
que os
outros pensam
em si
próprios
e não
nele,
ei-lo
levado a
ocupar-se
consigo, mais
do que
com os
outros’.
O vício
de
prestígio
consome
a
criatura
em
disputas
inglórias
e imaginárias
por
apreço e
consideração...
O mundo
mental
desses viciados
desgasta-se
em busca
da
aprovação
de
todos,
e,
quando alguém
não lhe
rende as
homenagens
e
tributos
esperados,
é considerado
um
opositor
ou
indiferente.
Seu
principal
malefício
é essa espera
de
aceitação
e
consideração
incondicionais,
como se
todas as
pessoas
tivessem
a
obrigação
de
enaltecê-lo,
de
reverenciá-lo...
Como é
portador
de muita
suscetibilidade,
pequenas desatenções
e
discordâncias
são
recebidas
pelo
viciado
com
revolta e
mágoa
suficientes
para
instalar
um ‘pânico
de
revolta
íntima’, como se
mentalmente
indagasse: ‘por
que esse
súdito
não me
homenageou?’.
Assim
como
existe a
dependência
química
de
tóxicos,
existe
a dependência
psíquica
de
evidência
e
reconhecimento
individual.
Esse tipo
de
viciado
é
escravo
da
autoimagem
exacerbada
que faz
de si mesmo... As
causas
desse
vício
podemos
verificar
na
infância,
quando
a criança
é levada
a níveis
abusivos
de
repressão
no lar,
dependendo
de aprovação
para
tudo,
tornando-se
insegura,
sem
autoconfiança, crescendo
como um
adulto
frustrado;
outro
tanto,
de forma
mais
intensa ainda,
verificamos
as
raízes
desse
mal nas
pregressas
existências, quando
a alma
acostumou-se
aos
faustosos
títulos
sociais
e às
honras individualistas
que
sempre
lhe
alimentavam
o ego
insaciável,
na
sedimentação
da ‘cultura
do
melhor
em
tudo’.
A
educação
na
sociedade
moderna
destina-se
ao
aplauso,
ao êxito,
e
raramente
educa-se
para
saber
perder
ou lidar
bem com
derrotas e
críticas.
Treina-se
para a
passarela
do
sucesso
e a
necessidade
de aprovação
e
reconhecimento
social,
sem se
preparar
para o
autoamor. O
vício de
prestígio
é um
sintoma
claro de
que não
nos plenificamos conosco,
de ausência
de
autorrealização,
de amor
a si
próprio.
Se
nos
amássemos,
não
teríamos
tanta
dependência
de
opiniões
e atitudes
alheias.
O que
impulsiona
esse
vício,
mais que
a
necessidade
de ser aceito,
é o medo
da
rejeição:
um dos
sentimentos
mais
camuflados
e comuns
da
humanidade,
que pode
ser
estimulado
pelas
causas
acima citadas.
Esse
cenário
moral é
um
convite
imperioso
para que
trabalhemos pela
formação
de um ‘perímetro’ de
relações
sinceras,
onde se
possa forjar
o
caráter
objetivando
a
aquisição
dos
hábitos
altruístas
e o
desprendimento
dessa
neurótica
necessidade
de
tributos personalísticos.
Recordemos
a
oportuna
recomendação
de Jesus para convidarmos
coxos e
estropiados
quando
dermos
um
banquete...
Tal
quadro
de
indigência
espiritual
e
afetiva
induz-nos
a grave reflexão:
estariam
nossos
círculos
de
Espiritismo
Cristão
atendendo
a essa
construção
do
ambiente
regenerativo
de
nossas
almas?
Ou será
que,
mesmo
nas
frentes
de
serviços
com
Jesus,
estaríamos cultivando
as
amizades
de
conveniência
que nos
garantam
a ‘nutrição da
bajulação’, mantendo
os
feudos
de
glórias
pessoais?!
O
momento
de
transição
da
humanidade
é
instante
de
árduas comoções.
O
egoísmo
precisa
ser
extirpado
e para
isso
somos
todos convidados,
de uma
ou de
outra
forma, a
descer
dos ‘tronos’ da
falsa superioridade
ou sair
da ‘cabeceira’ das
decisões
individualistas.
É tempo
de
abnegação
e
renúncia!... Convenhamos:
nossa
parcela
de
personalismo
é
enorme, mesmo
nas
lições
de amor
às quais
nos
afeiçoamos
junto
aos
labores doutrinários.
Anotemos
assim
algumas
de suas
rotineiras
formas
de se
apresentar,
a fim de
nos
matricularmos
numa
autoavaliação
sobre a possibilidade
de ainda
nos
encontrarmos
prazerosos
com o
vício
do prestígio
pessoal: aversão
à
crítica; mendicância
de
reverência;
gosto
pela
pompa; imposição
de
pontos
de
vista;
melindre
nas
discordâncias; mágoa
alimentada; importância
conferida
ao nosso
nome;
apego a
tarefas;
vício do
elogio...
Com todo
o
respeito
que
devemos
uns aos
outros,
não
podemos deixar
de
assinalar
que,
entre
nós, os
profitentes
da causa
espírita, encontram-se
lamentáveis
episódios
de
vaidade.
Alguns
corações,
mais
doentes
que
mal-intencionados,
não
conseguiriam ‘manter-se
espíritas’ sem
a
reverência
coletiva.
Contudo,
a ‘vitrine
da fama’ não
foi
feita
para os
discípulos
do Cristo,
e nossa
maior
conquista
espiritual
é o
poder de
negar a
si
mesmo. O
trabalhador
em busca
de
reconhecimento
pessoal
efetivamente
não
serve à
causa de
Jesus.
Fénelon
refere-se
à força
moralizadora
do
exemplo
como
forma de
renovar
as
relações
de homem
a homem.
Certamente
essa
indicativa é
admirável
receita
para
nossa
recuperação
frente
ao
descontrolado vício
de ser
valorizado.
E para
iniciarmos
um
processo
educativo
nesse
sentido,
deixamos
uma dica
preciosa
na
mudança
dos
nossos
hábitos: comecemos
a falar
menos de
nós e
estejamos
mais
atentos
em
prestigiar
o
outro”...
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2002, q. 917.
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