O ódio
O famoso médico Dráuzio Varella escreveu na Folha de
São Paulo interessante artigo a respeito do “ódio”.
Disse ele: “A depender das condições, o ódio adquire
características de epidemia que se dissemina pela
vizinhança, pela cidade, por um país e até por um
concerto de nações. Pode ser dirigido contra uma única
pessoa, contra um grupo, raça, etnia, habitantes de um
país inteiro ou de uma região do planeta”.
Ainda de acordo com o esculápio, o ódio tem uma dupla
feição: fazer mal a quem é dirigido e envenenar o
próprio emitente.
Trata-se, portanto, de uma virulência de difícil
resolução. Observamos o ódio nas relações sociais das
mais diversas, quais sejam, nos grupos étnicos; nas
discordâncias políticas; nas ideologias; na aporofobia;
nos posicionamentos de gênero; nos segmentos religiosos;
na política; nas redes sociais; nos meios de comunicação
de massa; no esporte etc.
Muitos dos que são contaminados por este vírus moral
demoram para se curar, porque são incapazes de refletir;
de ponderar; de meditar no processo de insanidade e
desumanização a que se submetem e que infligem ao outro.
Aquele que sente e propaga o ódio é brutal; irracional;
irrefletido; incapaz de ter empatia e precisa de ajuda!
Precisa conhecer o outro lado da vida, necessita do
amor!
Nos ensinamentos espíritas acerca deste tema,
encontramos a seguinte reflexão de Fénelon: “Penoso
vos é o sacrifício de amardes os que vos ultrajam e
perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos
torna superiores a eles. Se os odiásseis, como vos
odeiam, não valeríeis mais do que eles. Amá-los é a
hóstia imácula que ofereceis a Deus na ara dos vossos
corações, hóstia de agradável aroma e cujo perfume lhe
sobe até o seio” (KARDEC, 2015, p. 171).
Nesta hora grave da humanidade em que se enfrenta uma
pandemia terrível, que tem ceifado milhares de vidas;
neste momento truanesco em que se têm líderes pouco
afeitos ao diálogo, à diplomacia, à paz; em que se
espraiam os discursos de ódio, difamação, calúnia,
contra pessoas, instituições e até mesmo, contra as
evidências da Ciência; torna-se fundamental que
as pessoas voltem à racionalidade, que demonstrem
propensão àquilo que nos caracteriza como seres humanos,
que se voltem à civilidade.
Jesus deixou o exemplo a ser seguido. Mas não só Ele.
Recordemo-nos dos homens e mulheres pacíficos que
abrilhantaram as páginas da História.
O amor de uma única pessoa é capaz de neutralizar o ódio
de milhões. Assim o fizeram Mahatma Gandhi, Martin
Luther King, Madre Teresa ou Nelson Mandela. Sabedoria,
bondade, pacifismo, generosidade são categorias que
nunca estão fora de moda, preservam a nossa paz interior
e favorecem a paz exterior.
O ódio deve ser combatido!
Os discursos de ódio devem ser denunciados e se deve
explicar, educar, orientar quem os faz do porquê do
equívoco.
Silenciar diante de um ódio no bojo de um lar ou de
atitude de um policial que se ajoelha sobre uma pessoa
que não oferece resistência até que ela morra é
compactuar com esse vírus.
Permitir que um líder instigue o ódio e a exclusão no
âmbito de uma sociedade não pode ganhar ressonância num
Estado que se diz democrático e de direitos; que se
fundamenta numa Carta Magna que traz em sua intimidade o
respeito à dignidade da pessoa humana.
A nós, que nos identificamos com o Espiritismo, compete
pelo exemplo, pelo respeito às leis, pelo combate
constitucional e legal, não permitir que o ódio grasse
na sociedade brasileira.
Os duelos de ódios não podem prosperar na nação que se
pretende ser a Pátria do Evangelho, o Coração do
Mundo. “O Espiritismo apagará esses últimos
vestígios da barbárie, incutindo nos homens o espírito
de caridade e fraternidade” (KARDEC, 2015, p. 176).
Referência:
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo. 131. ed. Brasília: FEB, 2015.
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