É possível um método de análise comparativa da
personalidade de dois indivíduos animados pela
reencarnação do mesmo Espírito?
Freud e Jung romperam o campo de observação além das
fronteiras do Ego, mas Jung, o pai da Psicologia
Analítica, avançou além do limiar da infância freudiana,
penetrando na imortalidade da alma através dos
arquétipos da escuridão do inconsciente.
A Psicologia Transpessoal, a 4ª. força da Psicologia,
que contempla o homem integral pela esfera física,
psíquica e transpessoal, estruturada nos EUA no final da
década de 1960, reconhece a espiritualidade e as
necessidades transcendentais como aspectos intrínsecos
da natureza humana, como afirmou Pierre Weil em A morte
da morte: "[..] trata do estado de consciência em que se
dissolve a aparente fronteira entre o Eu e o mundo
exterior, em que desaparece o que chamamos de pessoa e
surge uma vivência que está além".
Por outro lado, não bastam apenas os insights, a
fenomenologia em toda a sua amplitude, seja ela anímica
ou mediúnica, para estudar personalidades comparadas.
Nos arquétipos da alma imortal têm-se o "padrão de
comportamento" e as "faculdades morais e intelectuais"
que compõem a matriz de análise.
As faculdades intelectuais podem mudar substancialmente
de uma encarnação para outra, como mostra a questão 220
de O Livro dos Espíritos: "Ademais, uma faculdade
qualquer pode permanecer adormecida durante uma
existência, por querer o Espírito exercitar outra, que
nenhuma relação tem com aquela. Esta, então, fica em
estado latente para reaparecer mais tarde".
E na questão 566: "Ademais, esqueceis, que um Espírito
que cultivou certa arte, na existência em que
conhecestes, pode ter cultivado outra em anterior
existência, pois que lhe cumpre saber tudo para ser
perfeito. Assim, conforme o grau do seu adiantamento,
pode suceder que nada seja para ele uma especialidade".
Já as faculdades morais podem se assemelhar ao padrão de
comportamento, mas não se misturam.
As faculdades morais se depuram ao longo das
(re)encarnações sucessivas, logicamente influenciando as
predisposições instintivas, dependendo do esforço de
cada um a modificação do repertório comportamental, como
demonstra o Tao te King no poema 27 - Uso da Destreza -
“O homem bom é exemplo para o não bom, o homem não bom é
potencial para o bom". Ou como disse Paulo de Tarso:
"Porque assim como todos morrem em Adão, assim também
todos serão vivificados em Cristo" (1Co 15: 22).
A condição moral contempla a autodescoberta, a
autorrealização e a autodoação. Na prática requer o
desapego às paixões egoicas e ao mundo transitório da
matéria: o cultivo da generosidade, o sacrifício e a
solidariedade pelo próximo, contribuindo para a
auto-harmonia individual e da coletividade por um mundo
sustentável.
Essa evolução é lenta ao longo das vidas sucessivas,
como aponta O Livro dos Espíritos na questão 909:
“Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as
suas más inclinações? – Sim, e, frequentemente, fazendo
esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a
vontade. Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!”
Já o padrão de comportamento abarca as aptidões pessoais
inerentes ao perfil da personalidade, suscetível à
influência fenotípica e genotípica, mas alheia às
faculdades intelectuais, representado pelos hábitos,
como, por exemplo, na capacidade cognitiva e de
comunicação, visto no gosto por literatura; na
facilidade para escrever, na caligrafia, na propensão
por comer ou beber, na disposição por atividades
físicas, e pelas características psicológicas advindas
do comportamento emocional; se é tímido ou extrovertido;
impetuoso ou sereno; brincalhão ou sério; bravo ou
calmo; vaidoso ou modesto; gastador ou econômico.
O padrão de comportamento guarda semelhanças por muitos
séculos, mas não deve ser confundido com as faculdades
morais e muito menos com as faculdades intelectuais.
Um exemplo é oportuno para entendimento. O gosto por
literatura em geral é um padrão de comportamento, mas o
gosto especial por poesia ou contos, a ponto de ser um
ofício, é uma faculdade intelectual.
A caligrafia, como outras formas de expressão do padrão
de comportamento, é suscetível à condicionante
fenotípica: a influência do estilo, da época e do meio
social; e à condicionante genotípica, a fisiologia e a
anatomia do corpo físico.
De forma que, em função da individualidade de cada ser,
os Espíritos não responderão da mesma forma às
influências a que estão submetidos quando encarnados.
As sincronicidades, terminologia criada por Jung, também
devem ser analisadas, pois manifestam os acontecimentos
de ordem física e material a que o homem está sujeito em
seu roteiro encarnatório, como bem esclarecem as
questões 861 e 862 de O Livro dos Espíritos.
Podem envolver nomes, datas, locais e acontecimentos,
afinal, "até os cabelos da cabeça são contados", porque
também se alinha ao vínculo reencarnatório; "o vento
assopra aonde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de
onde vem, nem para onde vai; [..]".
|