Os três
professores e a
felicidade
O homem é assim o
árbitro constante de sua
própria sorte. Ele pode
aliviar o seu suplício
ou prolongá-lo
indefinidamente. Sua
felicidade ou sua
desgraça dependem da sua
vontade de fazer o bem. (Allan
Kardec)
Três professores
renomados de nossas
universidades de São
Paulo participaram de um
programa para debater a
felicidade. Essas
conversas soltas, em que
uns questionam os outros
sobre a maneira como
interpretam a
felicidade, a Editora
Planeta transformou em
um livro: Felicidade,
modos de usar.
A reunião de dois
filósofos e um professor
de história demonstra
que a unanimidade é
difícil. Uma coisa boa
consegui reter sobre a
discussão deles sobre a
felicidade, quando
Karnal diz que aprendeu
com uma senhora que se
dizia feliz, e explica o
porquê: “É que eu já fui
infeliz, e hoje eu sou
feliz”.
Defende a tese de que a
felicidade ainda é uma
busca aqui na vida
material. Karnal, que
não acredita na vida
além da morte, frequenta
academia e pratica
exercícios, mas chega a
debochar de um amigo que
se cuidou, se preocupou
muito com o corpo,
evitou bebidas e
excessos alimentares...
Já Cortella afirma que
não somos imortais, mas
podemos ser eternos na
memória das pessoas.
Cortella, que gosta de
comer bem e tomar
bebida, sentiu-se
perturbado quando um
amigo, da Bahia, morreu;
na sua opinião é “um dos
maiores escritores que
esse país já teve, João
Ubaldo Ribeiro”. Nesse
dia, ele pensava, “João
Ubaldo fazia vinte anos
que não bebia nada
alcoólico, vinte anos
que não comia acarajé,
vinte anos que se
cuidava... vão sepultar
um cadáver saudável”.
Nessa mesma linha de
pensamento (de Karnal e
Pondé, que Cortella diz
brincando que vão para o
inferno porque não têm
uma fé), Leandro
reafirma acreditar na
vida pessoal e não no
benefício da alma em se
despojar dos vícios da
matéria: “Cortella
lembrou que quem deixou
de lado todos os vícios
será enterrado como um
cadáver virtuoso, sem
nenhum vício. Quem foi
com os vícios até o fim
será enterrado como um
cadáver viciado. Quem se
cuida e malha todos os
dias ficará lindo no
caixão, com abdominais
definidos”.
Ora, quem não cuida do
corpo pode ir muito mais
cedo ou viver um resto
de existência sem
qualidade de vida pelas
enfermidades não
evitadas.
E comenta a suposta
infelicidade de ficar
solteiro – diz que as
pessoas se casam e, como
se sentem infelizes,
casadas, fazem filhos:
“Adão e Eva desobedecem,
são expulsos por justa
causa, são demitidos,
vão para o mundo
(casados), infelizes,
fazem o caminho que
todos que não conseguem
a felicidade fazem, têm
filhos”.
Pondé: “ser feliz hoje é
tão obrigatório que
ninguém mais pensa em
ser feliz, mas apenas em
aparentar essa
felicidade”.
Por fim, Karnal quase
chega “a descobrir” que
não somos corpos e sim
Espíritos, quando sugere
que lembremos “o
comentário da Torá: o
ser humano não é
perfeito, mas é
perfectível”. É, sim,
através da alma, que,
peregrinando na vida
material e voltando ao
mundo de origem (o reino
de Deus), vai alcançar a
perfeição, um dia, nos
milênios distantes.
Em minha opinião, a
felicidade não é
individual. Ela é feita
do que distribuímos de
generosidade, bens e
amor, porque é amando
que se é amado, e é
dando que se recebe.
Arnaldo
Divo Rodrigues de
Camargo é diretor da
Editora EME.