Senhora com um livro na mão
Nunca é tarde, sempre é tempo de desenvolver o
intelecto, descobrir caminhos próprios, encontrá-los com
o suor da mente. Uma das cenas que mais me comovem é ver
uma pessoa de idade avançada com um livro na mão.
Isso me ocorreu há algum tempo quando caminhava num
parque arborizado em pleno verão. Olhando tudo ao redor,
percebi uma senhora sentada num banco, lendo
compenetrada.
A mania que temos de calcular a idade dos outros veio
instantaneamente: oitenta, talvez, ou mais. Dei outras
voltas pelo caminho e resolvi sentar-me em frente a ela,
a uma distância que não fosse inconveniente, mas que me
permitisse vê-la. Absolutamente nenhum interesse de
minha parte, além de observar uma cena pouco comum num
país tão populoso quanto o nosso, e possivelmente
produzir algumas reflexões que coubessem numa crônica.
O hábito de ler deve começar cedo, mas isso não impede
que pessoas tomem gosto pela leitura a qualquer tempo. A
vida se revela, o mundo se abre para quem lê. Fiquei
imaginando em que lugares devia estar o pensamento
daquela mulher e que emoções carregava. Atenta ao que
lia, mexia-se de vez em quando apenas para ajustar os
óculos ao rosto.
Passados alguns minutos, levantei-me e retomei a
caminhada. O sol começava a esquentar, amigavelmente.
Já se disse muito e as estatísticas periódicas mostram
que o brasileiro lê bem menos do que deveria. É uma
pena, pois os livros são uma forma não só de lazer e
aculturamento, mas também de desenvolver o senso crítico
e amadurecer o espírito. Claro que é importante escolher
as leituras, mas de um modo geral, não ler nada e nunca
é uma tragédia na vida de muita gente.
Nada mais patético que ouvir pessoas emitindo opiniões
sobre o que de nada sabem. Em muitos casos o contato
frequente com os livros evitaria certos
constrangimentos. Esse contato traz qualidade de vida,
prazer em viver, amplia a compreensão do mundo, facilita
as relações, além de apurar a sensibilidade com
consequentes benefícios ao sentimento.
A vida ensina através das experiências. Mas estou para
dizer que ela aprende com os livros.
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