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por Felipe Quaresma

 

Por que acredito que o Esperanto será a língua internacional do futuro
 

O Esperanto é uma língua artificial criada pelo médico oftalmologista Lázaro Luiz Zamenhof, e nascida no ano de 1887 pela publicação do livro "Internacia Lingvo". Zamenhof nasceu na cidade de Bialystok, atualmente na Polônia, mais especificamente próximo à fronteira onde hoje se encontra a Bielorrússia, Lituânia e Kaliningrado (território russo). Ele era judeu, seu pai era professor de alemão e francês, em razão do meio social e geográfico, e desde pequeno conviveu com várias línguas: iídiche, russo, polonês, alemão, hebraico, francês. Lázaro tinha inclinação e facilidade em aprender línguas, cresceu em um ambiente onde problemas de comunicação, preconceito linguístico e étnico eram uma constante. Nesse contexto, sentiu-se impelido a buscar uma solução para esses conflitos por meio da criação de uma língua nova, neutra, fácil e democrática.

Apesar de eu não ser um falante do Esperanto, nem ter contato com esperantistas, sei que há inúmeros estudos de conceituados linguistas que apresentam pontos tecnicamente favoráveis ao ensino e difusão do Esperanto como língua viável para ser adotada pela comunidade internacional. Se não fosse assim, ele não seria a língua planejada mais falada do mundo e a ONU nem teria recomendado em 1985 sua difusão entre seus países-membros. Esse artigo não visa apresentar a viabilidade do Esperanto do ponto de vista técnico linguístico, visa sim mostrar a possibilidade real da materialização do sonho esperantista no mundo tendo como base a História, a evolução da cultura ético-moral dos povos e a revelação espírita.

Antes de avançarmos na argumentação é preciso ter em conta que estou escrevendo em português, em uma rede social relativamente popular no mundo ocidental e em um canal de comunicação onde o inglês é dominante. Bem provável, os leitores desse artigo podem ser caracterizados como pessoas esquisitas (em inglês WEIRD, sigla em referência a pessoas western, educated, industrialized, rich and democratic) que não retratam a ampla realidade social do mundo. Inevitavelmente sou ocidental, tenho acesso à educação superior, estou integrado em uma sociedade industrializada e nativo brasileiro, apesar dos pesares, um país rico e ainda democrático. A verdade é que não conhecemos de fato o mundo todo, o que a gente pensa que sabe do mundo é muito pouco e extremamente deturpado do que realmente é o nosso planeta. Por mais que tenhamos acesso à internet e programas que falem como é a vida dos outros povos e países, não podemos dizer que sabemos com propriedade como é a vida e cultura dos outros povos e países. O mundo é bem mais complexo e diverso do que a gente imagina; são inúmeras religiões, tradições, línguas, climas, histórias, economias, políticas, filosofias etc. Queremos refletir sobre uma língua que se aplique no mundo como um todo e não apenas no lado ocidental, para pessoas WEIRD.

Agora posso começar a explicar "Por que eu acredito que o Esperanto será a língua internacional do futuro". Primeiro, vamos nos basear na História, hoje a língua internacional é o inglês, mas em outras épocas poderíamos considerar o latim e o grego. O paradigma materialista econômico aceito pela maioria dos homens permite a qualquer país ou nação que se tornar mais influente, mais forte e dominante, submeter as demais nações ao julgo de sua cultura e consequentemente de sua língua. É claro que o mundo nunca antes em sua História esteve tão globalizado e internacionalizado como nos dias de hoje, nesta singularidade dos nossos tempos são as nações de língua inglesa as detentoras de grande poder na política mundial, por isso o inglês está sendo a língua internacional mais forte e em melhor opção para se estabelecer em definitivo como língua global. Todavia, precisamos ampliar nossa visão de tempo e aprender com a História. Não podemos pensar no futuro considerando apenas os últimos 150 anos de glória das nações anglo-saxãs. Por mais que estes últimos 150 anos de nossa história sejam os mais intensos e impactantes no globo como um todo, o futuro ainda está em aberto, rapidamente pode ocorrer uma inusitada mudança de ordem política-econômica-cultural.

Se voltássemos no tempo há 2000 anos e discutíssemos sobre qual seria a língua internacional do futuro, um cidadão do império romano muito provavelmente não diria ser o Inglês. Quem visse o império romano de dois milênios atrás dificilmente poderia imaginar que hoje ele estaria em ruínas. Por que não poderíamos aplicar esse exemplo nos dias de hoje? Todos os impérios que passaram pelo planeta tiveram seu tempo de nascer, crescer, atingir um ápice, declinar e morrer. O império consolidado pelas línguas inglesas seria uma exceção? Uma língua que se propõe a ser duradoura e "universal" deve se associar ao mundo das ideias, primeiro, antes do mundo físico. O mundo físico é transitório, efêmero, está em constante mudança. O mundo das ideias é imperecível, você pode matar um homem, mas não consegue matar uma ideia. Foi essa essência ideológica forte que fez o cristianismo se estabelecer hoje a religião com maior número de adeptos no mundo. Eu comparo os esperantistas de hoje como os cristãos do século II, 133 anos depois da morte de Jesus de Nazaré na cruz. No século II, poucas pessoas levavam o cristianismo a sério, ele era uma minoria, a maioria dos homens e nações de fama do século II não apostariam nas imensas proporções e desdobramentos que o cristianismo seria capaz de acarretar no futuro da humanidade. Por que hoje, no segundo século do nascimento do Esperanto, poderíamos duvidar do potencial dessa nova ideologia?

Lembramo-nos do Cristianismo e agora, para ilustrar o problema da evolução ético-moral da cultura dos povos, vamos pensar na cultura Islã. Não podemos pensar no mundo ignorando a cultura do islamismo; os muçulmanos são tão expressivos numericamente quanto os cristãos, há projeções estatísticas que indicam uma ultrapassagem do Islã ao cristianismo em número de adeptos até o fim deste século. O Islã tem preferência pelo idioma árabe, isso em virtude do Alcorão, seu livro sagrado, ter sido revelado pelo profeta Maomé em árabe e também pela beleza sonora de se ouvir a declamação dos textos contidos no Alcorão no idioma original. A cultura dos países de predomínio muçulmano também possui forte influência do idioma árabe. Muito dos valores morais dos países de predomínio do idioma inglês são bem diferentes e até mesmo antagônicos aos valores morais da cultura árabe, sem falar dos recorrentes conflitos políticos entre as nações desses dois mundos linguísticos diferentes. Sabendo dessas hostilidades históricas, da expansão de ambas as culturas, como conciliar por parte dos muçulmanos a supremacia internacional do inglês ao árabe ou vice-versa?

A evolução ético-moral da cultura dos povos mostra que século após século o homem avança um pouco mais no desenvolvimento de suas leis, de seus costumes, de seus conhecimentos e culturas. A Declaração do Direito dos Homens é um exemplo, a valorização das mulheres e o combate ao preconceito racista, outro exemplo de avanço da mentalidade humana. A evolução do conceito de Justiça é a alavanca ético-moral dos povos e com base nessa ideia o Esperanto ganha força e tem destino promissor. O Esperanto não é apenas uma língua planejada, o Esperanto representa uma filosofia, um modo de pensar, um estilo de vida que tem como objetivo principal não ter supremacia em relação a outras filosofias, línguas e estilos de vida, mas sim colaborar com a fraternidade entre os povos e nações do mundo todo por meio de uma comunicação em língua neutra. Muitos podem dizer que a língua Inglês, ou qualquer outra língua, também busca colaborar com a paz na Terra e fraternidade entre os homens, não duvido dessa intenção, mas há um problema intrínseco nessa boa intenção que fere o conceito de orgulho dos homens e quando o orgulho dos homens é ferido dificilmente há fraternidade. Todos nós temos orgulho, querendo ou não, não gostamos de nos sentir ou pensar que valemos menos do que os outros, na verdade os seres humanos não devem ser vistos como inferiores ou superiores uns aos outros, mas sim como seres únicos, como "fim em si mesmo" nos dizeres do filósofo Kant. Da mesma forma vejo as línguas, elas também expressam os indivíduos e povos, cada língua deve ser vista como um "fim em si mesmo". O Esperanto não fere a dignidade de nenhum povo justamente porque ele não está associado a nenhum povo ou país em específico, o Esperanto é mais despersonalizado, mais neutro do que qualquer outra língua, por isso poderia melhor colaborar com a fraternidade entre os homens.

Por fim, mas não menos importante, ressaltamos o caráter da revelação espírita em aprovação e consonância com a difusão do Esperanto. Sem pretensões, posso dizer que tenho um pouco mais de conhecimento de causa do Espiritismo, afinal nasci e cresci em família espírita e também sou bem integrado ao movimento espírita de minha cidade. Emmanuel, um dos principais Espíritos responsáveis pela divulgação do Espiritismo no Brasil, juntamente com o médium Chico Xavier, em várias mensagens reforça o valor do Esperanto e incentiva seu estudo. Não só Emmanuel, mas vários outros Espíritos nobres, por meio de diversos médiuns respeitáveis dos mais variados lugares do mundo e em vários momentos diferentes desde o nascimento do Esperanto em 1887, são coerentes em acreditar no projeto esperantista para solução dos problemas de comunicação entre os povos. O Espiritismo defende a ideia da evolução moral e espiritual do planeta Terra, atualmente viveríamos em período de transição entre duas fases claramente distintas, de maneira geral, estaríamos saindo do estágio de mundo de provas e expiações (onde há predominância do mal sobre o bem) para o estágio de mundo de regeneração (onde o homem teria mais consciência da necessidade de viver a fraternidade). O Espiritismo diz que nesse terceiro milênio a humanidade estaria predestinada a viver a sua regeneração e, para tal período, os Espíritos responsáveis pela condução deste processo já teriam definido e legitimado o Esperanto como a língua do estágio de regeneração. Mesmo havendo espíritas encarnados que não levem a sério o Esperanto, muitos inclusive gostariam que houvesse uma retratação por parte das instituições espíritas que defendem a difusão do Esperanto, a contragosto, os Espíritos desencarnados guias do Espiritismo continuam acreditando e convocando os homens ao ideal esperantista de fraternidade. Em síntese, esses Espíritos superiores dizem que não é conveniente para o período de regeneração da Terra a apropriação de um idioma (inglês, por exemplo) contaminado por impressões deletérias desagregadoras devido ao seu uso em ações de domínio cultural, político e econômico. Esses guias da humanidade mereceriam nossa consideração em razão de possuírem uma visão liberta da transitoriedade do mundo material, mais ampla e nítida da realidade dos fatos, diferente de nós, encarnados, que temos a visão embotada pelos preconceitos.

Enfim, diante do exposto, digo com tranquilidade, com segurança e esperança: O Esperanto será a língua internacional do futuro! Digo isso não porque sou espírita e os Espíritos também acreditarem nisso. Digo isso porque vejo lógica e razão em acreditar nisso. Quando será esse futuro? Isso não sou capaz de precisar, mas arriscaria dizer que esse futuro seja daqui a uns 200 anos, quem sabe? 200 anos na história da humanidade é logo ali.


 


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita