Por que acredito que o
Esperanto será a língua internacional do futuro
O Esperanto é uma língua artificial criada pelo médico
oftalmologista Lázaro Luiz Zamenhof, e nascida no ano de
1887 pela publicação do livro "Internacia Lingvo".
Zamenhof nasceu na cidade de Bialystok, atualmente na
Polônia, mais especificamente próximo à fronteira onde
hoje se encontra a Bielorrússia, Lituânia e Kaliningrado
(território russo). Ele era judeu, seu pai era professor
de alemão e francês, em razão do meio social e
geográfico, e desde pequeno conviveu com várias línguas:
iídiche, russo, polonês, alemão, hebraico, francês.
Lázaro tinha inclinação e facilidade em aprender
línguas, cresceu em um ambiente onde problemas de
comunicação, preconceito linguístico e étnico eram uma
constante. Nesse contexto, sentiu-se impelido a buscar
uma solução para esses conflitos por meio da criação de
uma língua nova, neutra, fácil e democrática.
Apesar de eu não ser um falante do Esperanto, nem ter
contato com esperantistas, sei que há inúmeros estudos
de conceituados linguistas que apresentam pontos
tecnicamente favoráveis ao ensino e difusão do Esperanto
como língua viável para ser adotada pela comunidade
internacional. Se não fosse assim, ele não seria a
língua planejada mais falada do mundo e a ONU nem teria
recomendado em 1985 sua difusão entre seus
países-membros. Esse artigo não visa apresentar a
viabilidade do Esperanto do ponto de vista técnico
linguístico, visa sim mostrar a possibilidade real da
materialização do sonho esperantista no mundo tendo como
base a História, a evolução da cultura ético-moral dos
povos e a revelação espírita.
Antes de avançarmos na argumentação é preciso ter em
conta que estou escrevendo em português, em uma rede
social relativamente popular no mundo ocidental e em um
canal de comunicação onde o inglês é dominante. Bem
provável, os leitores desse artigo podem ser
caracterizados como pessoas esquisitas (em inglês WEIRD,
sigla em referência a pessoas western,
educated, industrialized, rich and
democratic) que não retratam a ampla realidade
social do mundo. Inevitavelmente sou ocidental, tenho
acesso à educação superior, estou integrado em uma
sociedade industrializada e nativo brasileiro, apesar
dos pesares, um país rico e ainda democrático. A verdade
é que não conhecemos de fato o mundo todo, o que a gente
pensa que sabe do mundo é muito pouco e extremamente
deturpado do que realmente é o nosso planeta. Por mais
que tenhamos acesso à internet e programas que falem
como é a vida dos outros povos e países, não podemos
dizer que sabemos com propriedade como é a vida e
cultura dos outros povos e países. O mundo é bem mais
complexo e diverso do que a gente imagina; são inúmeras
religiões, tradições, línguas, climas, histórias,
economias, políticas, filosofias etc. Queremos refletir
sobre uma língua que se aplique no mundo como um todo e
não apenas no lado ocidental, para pessoas WEIRD.
Agora posso começar a explicar "Por que eu acredito que
o Esperanto será a língua internacional do futuro".
Primeiro, vamos nos basear na História, hoje a língua
internacional é o inglês, mas em outras épocas
poderíamos considerar o latim e o grego. O paradigma
materialista econômico aceito pela maioria dos homens
permite a qualquer país ou nação que se tornar mais
influente, mais forte e dominante, submeter as demais
nações ao julgo de sua cultura e consequentemente de sua
língua. É claro que o mundo nunca antes em sua História
esteve tão globalizado e internacionalizado como nos
dias de hoje, nesta singularidade dos nossos tempos são
as nações de língua inglesa as detentoras de grande
poder na política mundial, por isso o inglês está sendo
a língua internacional mais forte e em melhor opção para
se estabelecer em definitivo como língua global.
Todavia, precisamos ampliar nossa visão de tempo e
aprender com a História. Não podemos pensar no futuro
considerando apenas os últimos 150 anos de glória das
nações anglo-saxãs. Por mais que estes últimos 150 anos
de nossa história sejam os mais intensos e impactantes
no globo como um todo, o futuro ainda está em aberto,
rapidamente pode ocorrer uma inusitada mudança de ordem
política-econômica-cultural.
Se voltássemos no tempo há 2000 anos e discutíssemos
sobre qual seria a língua internacional do futuro, um
cidadão do império romano muito provavelmente não diria
ser o Inglês. Quem visse o império romano de dois
milênios atrás dificilmente poderia imaginar que hoje
ele estaria em ruínas. Por que não poderíamos aplicar
esse exemplo nos dias de hoje? Todos os impérios que
passaram pelo planeta tiveram seu tempo de nascer,
crescer, atingir um ápice, declinar e morrer. O império
consolidado pelas línguas inglesas seria uma exceção?
Uma língua que se propõe a ser duradoura e "universal"
deve se associar ao mundo das ideias, primeiro, antes do
mundo físico. O mundo físico é transitório, efêmero,
está em constante mudança. O mundo das ideias é
imperecível, você pode matar um homem, mas não consegue
matar uma ideia. Foi essa essência ideológica forte que
fez o cristianismo se estabelecer hoje a religião com
maior número de adeptos no mundo. Eu comparo os
esperantistas de hoje como os cristãos do século II, 133
anos depois da morte de Jesus de Nazaré na cruz. No
século II, poucas pessoas levavam o cristianismo a
sério, ele era uma minoria, a maioria dos homens e
nações de fama do século II não apostariam nas imensas
proporções e desdobramentos que o cristianismo seria
capaz de acarretar no futuro da humanidade. Por que
hoje, no segundo século do nascimento do Esperanto,
poderíamos duvidar do potencial dessa nova ideologia?
Lembramo-nos do Cristianismo e agora, para ilustrar o
problema da evolução ético-moral da cultura dos povos,
vamos pensar na cultura Islã. Não podemos pensar no
mundo ignorando a cultura do islamismo; os muçulmanos
são tão expressivos numericamente quanto os cristãos, há
projeções estatísticas que indicam uma ultrapassagem do
Islã ao cristianismo em número de adeptos até o fim
deste século. O Islã tem preferência pelo idioma árabe,
isso em virtude do Alcorão, seu livro sagrado, ter sido
revelado pelo profeta Maomé em árabe e também pela
beleza sonora de se ouvir a declamação dos textos
contidos no Alcorão no idioma original. A cultura dos
países de predomínio muçulmano também possui forte
influência do idioma árabe. Muito dos valores morais dos
países de predomínio do idioma inglês são bem diferentes
e até mesmo antagônicos aos valores morais da cultura
árabe, sem falar dos recorrentes conflitos políticos
entre as nações desses dois mundos linguísticos
diferentes. Sabendo dessas hostilidades históricas, da
expansão de ambas as culturas, como conciliar por parte
dos muçulmanos a supremacia internacional do inglês ao
árabe ou vice-versa?
A evolução ético-moral da cultura dos povos mostra que
século após século o homem avança um pouco mais no
desenvolvimento de suas leis, de seus costumes, de seus
conhecimentos e culturas. A Declaração do Direito dos
Homens é um exemplo, a valorização das mulheres e o
combate ao preconceito racista, outro exemplo de avanço
da mentalidade humana. A evolução do conceito de Justiça
é a alavanca ético-moral dos povos e com base nessa
ideia o Esperanto ganha força e tem destino promissor. O
Esperanto não é apenas uma língua planejada, o Esperanto
representa uma filosofia, um modo de pensar, um estilo
de vida que tem como objetivo principal não ter
supremacia em relação a outras filosofias, línguas e
estilos de vida, mas sim colaborar com a fraternidade
entre os povos e nações do mundo todo por meio de uma
comunicação em língua neutra. Muitos podem dizer que a
língua Inglês, ou qualquer outra língua, também busca
colaborar com a paz na Terra e fraternidade entre os
homens, não duvido dessa intenção, mas há um problema
intrínseco nessa boa intenção que fere o conceito de
orgulho dos homens e quando o orgulho dos homens é
ferido dificilmente há fraternidade. Todos nós temos
orgulho, querendo ou não, não gostamos de nos sentir ou
pensar que valemos menos do que os outros, na verdade os
seres humanos não devem ser vistos como inferiores ou
superiores uns aos outros, mas sim como seres únicos,
como "fim em si mesmo" nos dizeres do filósofo Kant. Da
mesma forma vejo as línguas, elas também expressam os
indivíduos e povos, cada língua deve ser vista como um
"fim em si mesmo". O Esperanto não fere a dignidade de
nenhum povo justamente porque ele não está associado a
nenhum povo ou país em específico, o Esperanto é mais
despersonalizado, mais neutro do que qualquer outra
língua, por isso poderia melhor colaborar com a
fraternidade entre os homens.
Por fim, mas não menos importante, ressaltamos o caráter
da revelação espírita em aprovação e consonância com a
difusão do Esperanto. Sem pretensões, posso dizer que
tenho um pouco mais de conhecimento de causa do
Espiritismo, afinal nasci e cresci em família espírita e
também sou bem integrado ao movimento espírita de minha
cidade. Emmanuel, um dos principais Espíritos
responsáveis pela divulgação do Espiritismo no Brasil,
juntamente com o médium Chico Xavier, em várias
mensagens reforça o valor do Esperanto e incentiva seu
estudo. Não só Emmanuel, mas vários outros Espíritos
nobres, por meio de diversos médiuns respeitáveis dos
mais variados lugares do mundo e em vários momentos
diferentes desde o nascimento do Esperanto em 1887, são
coerentes em acreditar no projeto esperantista para
solução dos problemas de comunicação entre os povos. O
Espiritismo defende a ideia da evolução moral e
espiritual do planeta Terra, atualmente viveríamos em
período de transição entre duas fases claramente
distintas, de maneira geral, estaríamos saindo do
estágio de mundo de provas e expiações (onde há
predominância do mal sobre o bem) para o estágio de
mundo de regeneração (onde o homem teria mais
consciência da necessidade de viver a fraternidade). O
Espiritismo diz que nesse terceiro milênio a humanidade
estaria predestinada a viver a sua regeneração e, para
tal período, os Espíritos responsáveis pela condução
deste processo já teriam definido e legitimado o
Esperanto como a língua do estágio de regeneração. Mesmo
havendo espíritas encarnados que não levem a sério o
Esperanto, muitos inclusive gostariam que houvesse uma
retratação por parte das instituições espíritas que
defendem a difusão do Esperanto, a contragosto, os
Espíritos desencarnados guias do Espiritismo continuam
acreditando e convocando os homens ao ideal esperantista
de fraternidade. Em síntese, esses Espíritos superiores
dizem que não é conveniente para o período de
regeneração da Terra a apropriação de um idioma (inglês,
por exemplo) contaminado por impressões deletérias
desagregadoras devido ao seu uso em ações de domínio
cultural, político e econômico. Esses guias da
humanidade mereceriam nossa consideração em razão de
possuírem uma visão liberta da transitoriedade do mundo
material, mais ampla e nítida da realidade dos fatos,
diferente de nós, encarnados, que temos a visão embotada
pelos preconceitos.
Enfim, diante do exposto, digo com tranquilidade, com
segurança e esperança: O Esperanto será a língua
internacional do futuro! Digo isso não porque sou
espírita e os Espíritos também acreditarem nisso. Digo
isso porque vejo lógica e razão em acreditar nisso.
Quando será esse futuro? Isso não sou capaz de precisar,
mas arriscaria dizer que esse futuro seja daqui a uns
200 anos, quem sabe? 200 anos na história da humanidade
é logo ali.
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