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por Rogério Coelho

 

A nós o futuro!

 

O velho mundo carcomido estala por toda parte; o velho mundo acaba e com ele todos os velhos dogmas


“É preferível que uma criatura anestesie sua mente na laicidade e atrofie o seu raciocínio no sono hibernal dos dogmas seculares do que ficar “cochilando” nos arraiais espiritistas.” - 
François C. Liran

 

O cardeal Aloísio Lorscheider, de volta ao Brasil depois de participar do sexto consistório[1] extraordinário convocado pelo Papa João Paulo II, trouxe a certeza de que a cúpula da Igreja não vê com bons olhos a igreja-espetáculo, no estilo da que se faz no Brasil, cantando, dançando, enchendo estádios e auditórios e mesmo templos, onde o sacerdote se transforma em “superstar”, em completa oposição ao pensamento do apóstolo Paulo e do precursor João Batista que se “apagaram” para que o Cristo crescesse.

Esta é a notícia veiculada pelo “Jornal do Brasil” no dia 28.05.2001 em seu caderno internacional, onde ainda podemos ler as seguintes e textuais palavras do referido prelado:

“(...) No consistório bastante positivo que acabamos de viver no Vaticano, falou-se muito sobre o aprofundamento da fé.   Reconhecemos, nós, os cardeais de todo o mundo reunidos em assembleia, que não adianta fazer espetáculo religioso, encher as igrejas, os estádios, cantar muito... Quando o espetáculo termina e voltamos para casa, verificamos que tudo continua vazio como era antesO que precisamos é levar para casa uma evidência de fé prática”.

Outra coisa não faz o Espiritismo senão oferecer a fé prática, raciocinada, aquela que desassombradamente pode “enfrentar de frente a razão em todas as épocas da Humanidade”, e que se espraia pelas leiras da vera Caridade de variegado espectro.

Sem embargo, menos danosa em suas consequências é a situação dos laicos e dos dogmáticos, ambos igualmente adormecidos em suas absurdas teses do que a triste sina dos sonolentos espiritistas que vivem “cochilando” nos arraiais espiritistas, inconscientes do muito que é exigido daquele que muito recebeu, visto que nos tribunais cósmicos não poderão – como os primeiros – pretextar ignorância. André Luiz, no livro “Missionários da Luz”, mostra com muita propriedade a dolorosa situação destes últimos no mundo espiritual, formando enormes colônias de arrependidos e frustrados.

Em mensagem psicografada em Lião[2], no dia 30.01.1866, falando sobre a nova geração, um Espírito afirmou: “(...) O velho mundo carcomido estala por toda parte; o velho mundo acaba e com ele todos esses velhos dogmas, que só reluzem ainda pelo dourado que os cobre. Espíritos valorosos! Cabe-vos a tarefa de raspar esse ouro falso. Para trás, vós que em vão quereis escorar o velho ídolo.   Atingido de todos os lados, ele vai ruir e vos arrastará na sua queda.  Para trás, todos vós negadores do progresso; para trás, com as vossas crenças de uma época que se foi. Por que negais o progresso e vos esforçais por detê-lo? É que, desejando sobrepujar, condensastes o vosso pensamento em artigos de fé, clamando para a Humanidade: “Serás sempre criança e nós, que temos a iluminação do Alto, estamos destinados a conduzir-te”. Mas, já tendes visto ficar-vos nas mãos as andadeiras da infância; e a criança salta diante de vós e ainda negais que ela possa caminhar sozinha! Será chicoteando-a com as andadeiras destinadas a sustentá-la que provareis a autoridade dos vossos argumentos? Não, e bem o sentis; mas, é tão agradável, a quem se diz infalível, crer que os outros ainda depositem fé nessa infalibilidade, em que, nem vós mesmos, acreditais! Ah! que de gemidos não se soltam no santuário! É aí que, prestando-se ouvido atento, se escutam os cochichos dolorosos.

Que dizeis, então, pobres obstinados? Que a mão de Deus se abate sobre a sua Igreja? Que por toda parte a imprensa livre vos ataca e pulveriza os vossos argumentos? Onde estará o novo Crisóstomo, cuja potente palavra reduzirá a nada esse dilúvio de raciocinadores? Em vão o esperais; nada mais podem as vossas mais vigorosas e mais conceituadas penas. Elas se obstinam em agarrar-se ao passado que se vai, quando a nova geração, num impulso irresistível que a impele para frente, exclama: “Não, nada de passado; a nós o futuro; nova aurora se ergue e é para lá que tendem as nossas aspirações! Avante! - diz ela; alargai a estrada, os irmãos nos seguem. Ide com a onda que nos arrasta; necessitamos do movimento, que é vida, ao passo que vós nos apresentais a imobilidade, que é a morte. Os vossos santos mártires absolutamente não estão mortos, para que lhes imobilizeis o presente. Eles entreviram a nossa época e se lançaram à morte como à estrada que havia de conduzi-los lá. Queremos lançar-nos à vida, porquanto os séculos vindouros, que divisamos, têm horror à morte.

Rejubilai todos vós que aspirais à felicidade e que desejais participem dela os vossos irmãos, como vós mesmos: o dia chegou! A Terra trepida de alegria, porquanto vai assistir ao começo do reinado da paz que o Cristo, o divino Mestre, prometeu, reinado cujos fundamentos Ele desceu a assentar”.

Eis o esclarecedor testemunho de padre Ovídio[3]:

INAUDITAS SURPRESAS REVELADAS PELA “MORTE”

“(...) Incontestavelmente a morte não existe! Morrer é trasladar-se de faixa vibratória, prosseguindo-se vivo! Para o sacerdote que procurou ser fiel à diretriz religiosa a que se filiou, o transpasse apresenta um mundo de surpresas, à medida que se desdobra a vida imortal, no Além.  Eu mesmo experimentei tais inauditas surpresas ao verificar que a vida não se modificava com a continuação dos minutos.   Não defrontei o Céu de delícias povoado de anjos, conforme cria, onde o maná generoso mitiga todas as necessidades, nem tampouco o inferno apavorante que muito divulguei, onde satã, triunfante, espera quantos lhe caíram nas malhas pelos caminhos da invigilância e da insensatez. Deparei-me com a vida natural, comum, assinalada por pequenas diferenças, somente mais tarde anotadas... Tive consciência da partida e preparei-me emocionalmente para adentrar-me ao Paraíso. Todavia, fenômenos singelos assaltaram-me o Espírito recém-liberto: fome, frio, asfixia..., permitindo-me a ilusão de que a ruptura dos laços físicos não se processa consoante eu supunha.   

Aflito, procurei o templo habitual de orações e surpreso verifiquei encontrar-me na “cidade dos mortos”. Automaticamente, com esforço supremo, dirigi-me ao santuário e, como de hábito, anteriormente, em sua nave singela, prosternei-me em rogativa, ante os ídolos da minha contrição. Profundo desespero assenhoreou-se de minh’alma. As imagens, palidamente clareadas por círios a tremeluzirem, não me podiam atender aos apelos veementes.  Lábios cerrados, olhos mortos, cobriam-se de gelada indiferença, deixando-me em estado de aturdimento.

“Que se passava?” — Interroguei, aflito.

Percorri, desesperado, após sair do pequeno templo, toda a cidade-fantasma. Os anjos de mármore, inermes sobre os mausoléus, assemelhavam-se a figuras desanimadoras, que me apavoravam com suas expressões de pedra. 

Nesse estado de ânimo lembrei-me do Deus compassivo de todas as igrejas, mas sem nenhuma igreja. Orei, então, como antes jamais orara, com o coração amedrontado e a alma despida, suplicando ajuda em momento tão significativo, em tão grave conjuntura. Mergulhei na prece luarizante demoradamente, quando alguém, mui carinhosamente, balbuciou aos meus ouvidos: — “Ovídio, a vida prossegue. A perda dos andrajos físicos não credencia ninguém à glória se não a conquistou, na Terra, a duros penates. A separação do Espírito e da matéria não modela anjos pelo simples romper dos laços, se a alma não se submeteu ao buril da lapidação benfazeja. Cada um aqui desperta consoante viveu. Encontras-te na pátria espiritual. O trabalho aqui prossegue, sem cessar, sob as mesmas diretrizes, porque o Pai a quem servimos ainda não tem repousado nem cessa de realizar e construir.

Estamos atendendo à tua rogativa, mas, desde logo, prepara-te para ajudar os que dormitam nos leitos da ignorância, perdidos em adorações inoperantes e vazias, longe do vero amor ao Grande Amor não amado”.

Tomou-me das mãos e conduziu-me a leito reconfortante em “Casa de Repouso” abençoada, onde me refiz da viagem, readquirindo as percepções e o entendimento lúcido.

Realmente, meus irmãos, os anos que se desenrola­ram, de aproveitamento e utilidade, convidaram-me a trocar o culto das imagens pelo acendrado amor às criaturas; a permutar o incenso dedicado aos ídolos pelo socorro aos abandonados; transformou a água batismal em linfa fluidificada e a prece recitada pela oração silenciosa...  Encontrei, então, a vida como jamais a supusera!...

Agora, aqui, junto a vós outros, desejo lembrar-vos de que a meu tempo eu não contei com a excelência do intercâmbio espiritual que hoje desfrutais, pois trazia fechados os olhos sob os selos do dogmatismo, meditando em caminhos estreitos, em limitadas linhas de observação. Verifiquei que não existem doações mesquinhas por parte da Divindade. As concessões graciosas não se justificam. Vigem as leis de equilíbrio em toda parte e fluem como oportunidades generalizadas pa­ra todos, acréscimo de misericórdia facultada aos trânsfugas e aos devedores maiores. A condição de graça, que tanto esposei, era engodo. Não há privilegiados ante o Pai, senão os que se fizeram pela renúncia, amor e abnegação... Valeram-me, não as orações rotineiras, incessantes, mas as lutas pela construção da Santa Casa de Misericórdia, em homenagem à rainha Leonor, a missionária portuguesa que espalhou sobre a Terra essas dádivas para os sofredores; valeram-me as lutas junto à infância descalça e à velhice rota, aos árduos anos do meu pobre sacerdócio. As dádivas que a esmola dos fiéis deixou nas salvas, distribuídas em pães, tecidos e modesto cereal por ocasião da “Páscoa do Senhor”, significaram bênçãos que re­conheço não merecer.

Nenhum destaque, honraria nenhuma... A crença não representa muito para o chamado “fiel”, se essa crença operosamente não construir dentro dele o “Reino de Deus” no qual também habite seu próximo.     

O rótulo religioso não credencia o candidato à felicidade eterna, mas, sim, a sua transformação moral, através do bem que faça indistintamente.

Felizes estes dias que viveis, pelo que podeis desfrutar.  Nenhum mistério nem anátema algum. Ao alcance das vossas intenções, possuis as ferra­mentas, o solo, as sementes e o adubo fertilizante para a vossa plantação de amor na Humanidade.  Aproveitai, porque muito será pedido a quem muito haja recebido”.

No resumo-profético[4] de várias mensagens recebidas por duas médiuns, lemos:

“(...) Espíritas, o futuro é vosso e de todos os homens de coração e devotados. Não vos assustem os obstáculos, porquanto nenhum há que possa embaraçar os desígnios da Providência.  Trabalhai sem descanso e agradecei a Deus o ter-vos colocado na vanguarda da nova falange. É um posto de honra que vós mesmos solicitastes e do qual é preciso vos mostreis dignos pela vossa coragem, pela vossa perseverança e pelo vosso devotamento...   Felizes dos que sucumbirem nessa luta contra a força; a vergonha, ao contrário, esperará, no mundo dos Espíritos, os que sucumbirem por fraqueza ou pusilanimidade. As lutas, aliás, são necessárias para fortalecer a alma; o contacto com o mal faz que melhor se apreciem as vantagens do bem. Sem as lutas, que estimulam as faculdades, o Espírito se entregaria a uma despreocupação funesta ao seu adiantamento. As lutas contra os elementos desenvolvem as forças físicas e a inteligência; as lutas contra o mal desenvolvem as forças morais”.                                         


 

[1]  - Assembleia de Cardeais presidida pelo Papa.

[2] - KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 25. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1990, 2ª parte.

[3] - FRANCO, Divaldo. Depoimentos Vivos. 4. ed. Salvador: LEAL, 1995, cap. 40.

[4] - KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 25. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1990, 2ª parte “Regeneração da Humanidade” (in fine).




 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita