A nós o futuro!
O velho mundo carcomido estala por toda parte; o
velho mundo acaba e com ele todos os velhos
dogmas
“É preferível que uma criatura anestesie sua
mente na laicidade e atrofie o seu raciocínio no
sono hibernal dos dogmas seculares do que ficar
“cochilando” nos arraiais espiritistas.” - François
C. Liran
O cardeal Aloísio
Lorscheider, de volta ao Brasil depois de
participar do sexto consistório extraordinário
convocado pelo Papa João Paulo II, trouxe a
certeza de que a cúpula da Igreja não vê com
bons olhos a igreja-espetáculo, no estilo da que
se faz no Brasil, cantando, dançando, enchendo
estádios e auditórios e mesmo templos, onde o
sacerdote se transforma em “superstar”, em
completa oposição ao pensamento do apóstolo
Paulo e do precursor João Batista que se “apagaram” para
que o Cristo crescesse.
Esta é a notícia veiculada pelo “Jornal do
Brasil” no dia 28.05.2001 em seu caderno
internacional, onde ainda podemos ler as
seguintes e textuais palavras do referido
prelado:
“(...) No consistório bastante positivo que
acabamos de viver no Vaticano, falou-se muito
sobre o aprofundamento da fé. Reconhecemos,
nós, os cardeais de todo o mundo reunidos em
assembleia, que não adianta fazer espetáculo
religioso, encher as igrejas, os estádios,
cantar muito... Quando o espetáculo termina e
voltamos para casa, verificamos que tudo
continua vazio como era antes. O que
precisamos é levar para casa uma evidência de fé
prática”.
Outra coisa não faz o Espiritismo senão oferecer
a fé prática, raciocinada, aquela que
desassombradamente pode “enfrentar de frente
a razão em todas as épocas da Humanidade”, e
que se espraia pelas leiras da vera Caridade de
variegado espectro.
Sem embargo, menos danosa em suas consequências
é a situação dos laicos e dos dogmáticos, ambos
igualmente adormecidos em suas absurdas teses do
que a triste sina dos sonolentos espiritistas
que vivem “cochilando” nos arraiais
espiritistas, inconscientes do muito que é
exigido daquele que muito recebeu, visto que nos
tribunais cósmicos não poderão – como os
primeiros – pretextar ignorância. André Luiz, no
livro “Missionários da Luz”, mostra com
muita propriedade a dolorosa situação destes
últimos no mundo espiritual, formando enormes
colônias de arrependidos e frustrados.
Em mensagem
psicografada em Lião,
no dia 30.01.1866, falando sobre a nova
geração, um Espírito afirmou: “(...)
O velho mundo carcomido estala por toda parte; o
velho mundo acaba e com ele todos esses velhos
dogmas, que só reluzem ainda pelo dourado que os
cobre. Espíritos valorosos! Cabe-vos a tarefa de
raspar esse ouro falso. Para trás, vós que em
vão quereis escorar o velho ídolo. Atingido de
todos os lados, ele vai ruir e vos arrastará na
sua queda. Para trás, todos vós negadores do
progresso; para trás, com as vossas crenças de
uma época que se foi. Por que negais o progresso
e vos esforçais por detê-lo? É que, desejando
sobrepujar, condensastes o vosso pensamento em
artigos de fé, clamando para a Humanidade:
“Serás sempre criança e nós, que temos a
iluminação do Alto, estamos destinados a
conduzir-te”. Mas, já tendes visto ficar-vos nas
mãos as andadeiras da infância; e a criança
salta diante de vós e ainda negais que ela possa
caminhar sozinha! Será chicoteando-a com as
andadeiras destinadas a sustentá-la que
provareis a autoridade dos vossos argumentos?
Não, e bem o sentis; mas, é tão agradável, a
quem se diz infalível, crer que os outros ainda
depositem fé nessa infalibilidade, em que, nem
vós mesmos, acreditais! Ah! que de gemidos não
se soltam no santuário! É aí que, prestando-se
ouvido atento, se escutam os cochichos
dolorosos.
Que dizeis, então, pobres obstinados? Que a mão
de Deus se abate sobre a sua Igreja? Que por
toda parte a imprensa livre vos ataca e
pulveriza os vossos argumentos? Onde estará o
novo Crisóstomo, cuja potente palavra reduzirá a
nada esse dilúvio de raciocinadores? Em vão o
esperais; nada mais podem as vossas mais
vigorosas e mais conceituadas penas. Elas se
obstinam em agarrar-se ao passado que se vai,
quando a nova geração, num impulso irresistível
que a impele para frente, exclama: “Não, nada de
passado; a nós o futuro; nova aurora se ergue e
é para lá que tendem as nossas aspirações!
Avante! - diz ela; alargai a estrada, os irmãos
nos seguem. Ide com a onda que nos arrasta;
necessitamos do movimento, que é vida, ao passo
que vós nos apresentais a imobilidade, que é a
morte. Os vossos santos mártires absolutamente
não estão mortos, para que lhes imobilizeis o
presente. Eles entreviram a nossa época e se
lançaram à morte como à estrada que havia de
conduzi-los lá. Queremos lançar-nos à vida,
porquanto os séculos vindouros, que divisamos,
têm horror à morte.
Rejubilai todos vós que aspirais à felicidade e
que desejais participem dela os vossos irmãos,
como vós mesmos: o dia chegou! A Terra trepida
de alegria, porquanto vai assistir ao começo do
reinado da paz que o Cristo, o divino Mestre,
prometeu, reinado cujos fundamentos Ele desceu a
assentar”.
Eis o
esclarecedor testemunho de padre Ovídio:
INAUDITAS SURPRESAS REVELADAS PELA “MORTE”
“(...) Incontestavelmente a morte não existe!
Morrer é trasladar-se de faixa vibratória,
prosseguindo-se vivo! Para o sacerdote que
procurou ser fiel à diretriz religiosa a que se
filiou, o transpasse apresenta um mundo de
surpresas, à medida que se desdobra a vida
imortal, no Além. Eu mesmo experimentei tais
inauditas surpresas ao verificar que a vida não
se modificava com a continuação dos minutos.
Não defrontei o Céu de delícias povoado de
anjos, conforme cria, onde o maná generoso
mitiga todas as necessidades, nem tampouco o
inferno apavorante que muito divulguei, onde
satã, triunfante, espera quantos lhe caíram nas
malhas pelos caminhos da invigilância e da
insensatez. Deparei-me com a vida natural,
comum, assinalada por pequenas diferenças,
somente mais tarde anotadas... Tive consciência
da partida e preparei-me emocionalmente para
adentrar-me ao Paraíso. Todavia, fenômenos
singelos assaltaram-me o Espírito recém-liberto:
fome, frio, asfixia..., permitindo-me a ilusão
de que a ruptura dos laços físicos não se
processa consoante eu supunha.
Aflito, procurei o templo habitual de orações e
surpreso verifiquei encontrar-me na “cidade dos
mortos”. Automaticamente, com esforço supremo,
dirigi-me ao santuário e, como de hábito,
anteriormente, em sua nave singela,
prosternei-me em rogativa, ante os ídolos da
minha contrição. Profundo desespero
assenhoreou-se de minh’alma. As imagens,
palidamente clareadas por círios a tremeluzirem,
não me podiam atender aos apelos veementes.
Lábios cerrados, olhos mortos, cobriam-se de
gelada indiferença, deixando-me em estado de
aturdimento.
“Que se passava?” —
Interroguei, aflito.
Percorri, desesperado, após sair do pequeno
templo, toda a cidade-fantasma. Os anjos de
mármore, inermes sobre os mausoléus,
assemelhavam-se a figuras desanimadoras, que me
apavoravam com suas expressões de pedra.
Nesse estado de
ânimo lembrei-me do Deus compassivo de todas as
igrejas, mas sem nenhuma igreja. Orei, então,
como antes jamais orara, com o coração
amedrontado e a alma despida, suplicando ajuda
em momento tão significativo, em tão grave
conjuntura. Mergulhei na prece luarizante
demoradamente, quando alguém, mui
carinhosamente, balbuciou aos meus ouvidos: —
“Ovídio, a vida prossegue. A perda dos andrajos
físicos não credencia ninguém à glória se não a
conquistou, na Terra, a duros penates. A
separação do Espírito e da matéria não modela
anjos pelo simples romper dos laços, se a alma
não se submeteu ao buril da lapidação benfazeja.
Cada um aqui desperta consoante viveu.
Encontras-te na pátria espiritual. O trabalho
aqui prossegue, sem cessar, sob as mesmas
diretrizes, porque o Pai a quem servimos ainda
não tem repousado nem cessa de realizar e
construir.
Estamos atendendo à tua rogativa, mas, desde
logo, prepara-te para ajudar os que dormitam nos
leitos da ignorância, perdidos em adorações
inoperantes e vazias, longe do vero amor ao
Grande Amor não amado”.
Tomou-me das mãos e conduziu-me a leito
reconfortante em “Casa de Repouso” abençoada,
onde me refiz da viagem, readquirindo as
percepções e o entendimento lúcido.
Realmente, meus irmãos, os anos que se
desenrolaram, de aproveitamento e utilidade,
convidaram-me a trocar o culto das imagens pelo
acendrado amor às criaturas; a permutar o
incenso dedicado aos ídolos pelo socorro aos
abandonados; transformou a água batismal em
linfa fluidificada e a prece recitada pela
oração silenciosa... Encontrei, então, a
vida como jamais a supusera!...
Agora, aqui, junto a vós outros, desejo
lembrar-vos de que a meu tempo eu não contei com
a excelência do intercâmbio espiritual que hoje
desfrutais, pois trazia fechados os olhos sob os
selos do dogmatismo, meditando em caminhos
estreitos, em limitadas linhas de observação.
Verifiquei que não existem doações mesquinhas
por parte da Divindade. As concessões graciosas
não se justificam. Vigem as leis de
equilíbrio em toda parte e fluem como
oportunidades generalizadas para todos,
acréscimo de misericórdia facultada aos
trânsfugas e aos devedores maiores. A condição
de graça, que tanto esposei, era engodo. Não há
privilegiados ante o Pai, senão os que se
fizeram pela renúncia, amor e abnegação... Valeram-me,
não as orações rotineiras, incessantes, mas as
lutas pela construção da Santa Casa de
Misericórdia, em homenagem à rainha Leonor, a
missionária portuguesa que espalhou sobre a
Terra essas dádivas para os sofredores;
valeram-me as lutas junto à infância descalça e
à velhice rota, aos árduos anos do meu pobre
sacerdócio. As dádivas que a esmola dos fiéis
deixou nas salvas, distribuídas em pães, tecidos
e modesto cereal por ocasião da “Páscoa do
Senhor”, significaram bênçãos que reconheço não
merecer.
Nenhum destaque, honraria nenhuma... A crença
não representa muito para o chamado “fiel”, se
essa crença operosamente não construir dentro
dele o “Reino de Deus” no qual também
habite seu próximo.
O rótulo religioso não credencia o candidato à
felicidade eterna, mas, sim, a sua transformação
moral, através do bem que faça indistintamente.
Felizes estes dias que viveis, pelo que podeis
desfrutar. Nenhum mistério nem anátema algum.
Ao alcance das vossas intenções, possuis as
ferramentas, o solo, as sementes e o adubo
fertilizante para a vossa plantação de amor na
Humanidade. Aproveitai, porque muito será
pedido a quem muito haja recebido”.
No
resumo-profético de
várias mensagens recebidas por duas médiuns,
lemos:
“(...) Espíritas, o futuro é vosso e de todos os
homens de coração e devotados. Não vos assustem
os obstáculos, porquanto nenhum há que possa
embaraçar os desígnios da Providência.
Trabalhai sem descanso e agradecei a Deus o
ter-vos colocado na vanguarda da nova falange. É
um posto de honra que vós mesmos solicitastes e
do qual é preciso vos mostreis dignos pela vossa
coragem, pela vossa perseverança e pelo vosso
devotamento... Felizes dos que sucumbirem
nessa luta contra a força; a vergonha, ao
contrário, esperará, no mundo dos Espíritos, os
que sucumbirem por fraqueza ou pusilanimidade.
As lutas, aliás, são necessárias para fortalecer
a alma; o contacto com o mal faz que melhor se
apreciem as vantagens do bem. Sem as lutas, que
estimulam as faculdades, o Espírito se
entregaria a uma despreocupação funesta ao seu
adiantamento. As lutas contra os elementos
desenvolvem as forças físicas e a inteligência;
as lutas contra o mal desenvolvem as forças
morais”.
-
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 25.
ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1990, 2ª
parte “Regeneração da Humanidade” (in
fine).