Só colhe
quem planta
O ser humano é solidário
nas chamadas "tragédias
de grandes proporções" e
nas chamadas
"calamidades", quando
muitas vezes um país
inteiro solidariza-se
com belos gestos de
fraternidade.
Além dos acontecimentos
de grandes proporções,
onde se verifica a
desencarnação de muitas
pessoas (os resgates
coletivos), há os
acontecimentos menores,
que dizem respeito a
pessoas conhecidas
nossas, parentes,
amigos, colegas, os que
se cruzam conosco no dia
a dia e que, se não têm
relação de amizade ou
parentesco conosco, são
nossos irmãos, filhos
que somos do mesmo Pai,
que é Deus.
Como espíritas,
conscientes de que
estamos na Terra para
servir e não para sermos
servidos, estejamos
dispostos no atendimento
ao nosso próximo, cuja
dor pode ser minimizada
com a nossa ajuda. Para
tanto, coloquemo-nos
sempre no lugar do
outro. Assim, sentiremos
melhor as suas
necessidades.
No livro O Sermão da
Montanha - edição da
FEB, 1966, Rodolfo
Calligaris diz que ser
misericordioso é
compadecer-se da miséria
alheia. Seja da miséria
material, nas formas de
indigência, do abandono,
ou da miséria
espiritual,
caracterizadas pelas mil
e uma facetas da
enfermidade, seja também
da miséria espiritual
caracterizada pelas mil
e uma facetas da
imperfeição humana.
Ser misericordioso é,
pois, condoer desses
párias molambentos, sem
eira nem beira, que se
arrastam pelo mundo,
suplicando um pedaço de
pão para "forrar" o
estômago, ou um trapo
usado com que cubram sua
nudez, socorrendo-os com
solicitude.
Ser misericordioso é
também, diz Rodolfo
Calligaris, apiedar-nos
das crianças órfãs ou
abandonadas; é
contribuir para que
tenham um lar que as
eduque, é olhar pelos
velhinhos desamparados,
é sensibilizar-nos com
os doentes da
hanseníase, do pênfigo,
do câncer, da sífilis,
da tuberculose.
Ser misericordioso é,
enfatiza, suportar
cristãmente os defeitos
dos que nos rodeiam; é
renunciar a todo
propósito de vingança; é
não guardar
ressentimentos; é
estarmos sempre prontos
a servir, mesmo que
saibamos de antemão que
ninguém nos será grato
nem compreenderá o gesto
fraternal e amigo.
E, assim, colheremos
bênçãos, porque
plantamos amor. O
contrário se vê em
Lucas, 20: 9 a 18, na
Parábola dos Lavradores
Maus. A parábola diz que
certo homem plantou uma
vinha, arrendou-a a
lavradores e partiu,
ficando fora por muito
tempo. Enviou um servo
aos lavradores, para que
eles lhe dessem os
frutos da vinha.
Mas os lavradores o
espancaram e eles
voltaram com os cestos
vazios. Enviou mais três
servos, que também foram
espancados. O homem
enviou então o seu filho
e, quando os lavradores
o viram, disseram: Este
é o filho do dono. Vamos
matá-lo e a plantação
será nossa.
Esta é mais uma parábola
em que Jesus nos ensina
o comportamento que
devemos ter frente à
Obra Divina. Escolhia
Jesus os maus lavradores
para nos dizer que, em
nome do Dono da Vinha
(Deus), estava ali para
orientar-nos. Cumpria a
nós seguir-lhe os
ensinamentos. Mas
quantos não querem
receber as lições!
Séculos se passarem e
ainda hoje somos
convidados pelas
circunstâncias da vida a
obedecer aos
ensinamentos
evangélicos. Muitas
vezes, igualmente de
forma violenta, banimos
o Senhor do nosso
íntimo.
Não são poucas as
ocasiões em que nos
vemos solicitados ao
exercício do perdão.
Quantas vezes, porém,
optamos pelo oposto e
vingativamente saímos a
escorraçar a quem
deveríamos perdoar!
Outras vezes, se nos
oferece a condição de
desenvolver a paciência,
mas aí, também, em vez
de darmos ouvidos aos
ensinamentos do Mestre,
optamos pela ação
através de ímpetos
desgovernados, com
prejuízos graves para
nós mesmos.
No entanto, os
ensinamentos são claros.
Os bons vinhateiros são
os que sabem retirar da
sua vinha tudo o que for
prejudicial à boa
colheita. Percebendo a
necessidade do esforço
constante, não abrem mão
da vigilância e, atentos
à responsabilidade que
lhes cabe, antecipam-se
às ervas daninhas,
arrancando-as pela raiz
ainda no nascedouro. Não
se esquecem de adubar a
obra com ações
adequadas, para que
nasçam apenas bons
frutos.
Com a água Eterna da
Sabedoria regam os
frutos nascentes e,
atentos às pragas que
dizimam, não se cansam
na luta. Seguem
confiantes no exercício
do trabalho de amor que
lhes compete realizar.
Por perseverarem no seu
esforço, serão
recompensados por fim,
com a colheita farta de
frutos deliciosos, a
lhes saciar a fome do
saber e a necessidade de
serem felizes.
Só colhe quem planta e
cuida do que planta. Só
será saciado aquele que
sacia. Só será bendito
aquele que pratica a
vontade de Deus. A
felicidade é conquista,
e só conquista a
felicidade quem
persevera nas boas
ações.