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por Altamirando Carneiro

 

Só colhe quem planta


O ser humano é solidário nas chamadas "tragédias de grandes proporções" e nas chamadas "calamidades", quando muitas vezes um país inteiro solidariza-se com belos gestos de fraternidade. 

Além dos acontecimentos de grandes proporções, onde se verifica a desencarnação de muitas pessoas (os resgates coletivos), há os acontecimentos menores, que dizem respeito a pessoas conhecidas nossas, parentes, amigos, colegas, os que se cruzam conosco no dia a dia e que, se não têm relação de amizade ou parentesco conosco, são nossos irmãos, filhos que somos do mesmo Pai, que é Deus.

Como espíritas, conscientes de que estamos na Terra para servir e não para sermos servidos, estejamos dispostos no atendimento ao nosso próximo, cuja dor pode ser minimizada com a nossa ajuda.  Para tanto, coloquemo-nos sempre no lugar do outro. Assim, sentiremos melhor as suas necessidades.

No livro O Sermão da Montanha - edição da FEB, 1966, Rodolfo Calligaris diz que ser misericordioso é compadecer-se da miséria alheia. Seja da miséria material, nas formas de indigência, do abandono, ou da miséria espiritual, caracterizadas pelas mil e uma facetas da enfermidade, seja também da miséria espiritual caracterizada pelas mil e uma facetas da imperfeição humana.

Ser misericordioso é, pois, condoer desses párias molambentos, sem eira nem beira, que se arrastam pelo mundo, suplicando um pedaço de pão para "forrar" o estômago, ou um trapo usado com que cubram sua nudez, socorrendo-os com solicitude. 

Ser misericordioso é também, diz Rodolfo Calligaris, apiedar-nos das crianças órfãs ou abandonadas; é contribuir para que tenham um lar que as eduque, é olhar pelos velhinhos desamparados, é sensibilizar-nos com os doentes da hanseníase, do pênfigo, do câncer, da sífilis, da tuberculose. 

Ser misericordioso é, enfatiza, suportar cristãmente os defeitos dos que nos rodeiam; é renunciar a todo propósito de vingança; é não guardar ressentimentos; é estarmos sempre prontos a servir, mesmo que saibamos de antemão que ninguém nos será grato nem compreenderá o gesto fraternal e amigo.  

E, assim, colheremos bênçãos, porque plantamos amor. O contrário se vê em Lucas, 20: 9 a 18, na Parábola dos Lavradores Maus. A parábola diz que certo homem plantou uma vinha, arrendou-a a lavradores e partiu, ficando fora por muito tempo. Enviou um servo aos lavradores, para que eles lhe dessem os frutos da vinha.

Mas os lavradores o espancaram e eles voltaram com os cestos vazios. Enviou mais três servos, que também foram espancados. O homem enviou então o seu filho e, quando os lavradores o viram, disseram: Este é o filho do dono. Vamos matá-lo e a plantação será nossa. 

Esta é mais uma parábola em que Jesus nos ensina o comportamento que devemos ter frente à Obra Divina. Escolhia Jesus os maus lavradores para nos dizer que, em nome do Dono da Vinha (Deus), estava ali para orientar-nos. Cumpria a nós seguir-lhe os ensinamentos. Mas quantos não querem receber as lições!

Séculos se passarem e ainda hoje somos convidados pelas circunstâncias da vida a obedecer aos ensinamentos evangélicos. Muitas vezes, igualmente de forma violenta, banimos o Senhor do nosso íntimo. 

Não são poucas as ocasiões em que nos vemos solicitados ao exercício do perdão. Quantas vezes, porém, optamos pelo oposto e vingativamente saímos a escorraçar a quem deveríamos perdoar!  Outras vezes, se nos oferece a condição de desenvolver a paciência, mas aí, também, em vez de darmos ouvidos aos ensinamentos do Mestre, optamos pela ação através de ímpetos desgovernados, com prejuízos graves para nós mesmos. 

No entanto, os ensinamentos são claros. Os bons vinhateiros são os que sabem retirar da sua vinha tudo o que for prejudicial à boa colheita. Percebendo a necessidade do esforço constante, não abrem mão da vigilância e, atentos à responsabilidade que lhes cabe, antecipam-se às ervas daninhas, arrancando-as pela raiz ainda no nascedouro. Não se esquecem de adubar a obra com ações adequadas, para que nasçam apenas bons frutos. 

Com a água Eterna da Sabedoria regam os frutos nascentes e, atentos às pragas que dizimam, não se cansam na luta. Seguem confiantes no exercício do trabalho de amor que lhes compete realizar. Por perseverarem no seu esforço, serão recompensados por fim, com a colheita farta de frutos deliciosos, a lhes saciar a fome do saber e a necessidade de serem felizes. 

Só colhe quem planta e cuida do que planta. Só será saciado aquele que sacia. Só será bendito aquele que pratica a vontade de Deus. A felicidade é conquista, e só conquista a felicidade quem persevera nas boas ações. 


  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita