É possível ser feliz sozinho?
“(...) Porque se a mim, a árvore viva, me tratam assim,
o que não farão a vocês?” 1
O Cristo advertiu as mulheres para que se compadecessem
de sua situação durante a via-crúcis. Antes de sua
peleja, multidões o seguiam sedentos de ouvir-lhes os
preciosos ensinamentos, de serem contemplados com o
olhar sereno e penetrante; pessoas de tantos lugares,
enfermos do corpo e da alma se aproximavam para ser
embalados com a voz melodiosa e profunda que calara os
mais rudes corações; pessoas na ânsia de tocar na barra
de suas vestes e conquistar o arrimo da fé, no entanto,
Jesus de Nazaré, o justo por excelência, o único modelo
perfeito em que a humanidade pode se espelhar2,
esteve só, no momento mais grave e tortuoso.
E o que dizer de nós, seus irmãos menores? Vivenciamos
no decorrer das existências muitos momentos em que nos
sentimos solitários, sobretudo na atual conjuntura em
meio a uma epidemia, na qual pessoas de diferentes
idades e classes sociais precisaram descobrir o valor de
ficarem bem consigo mesmas.
Sabemos que se sentir só não é o mesmo que estar
sozinho, que esse sentimento precisa ser compreendido e
trabalhado, entretanto, quando a pessoa está realmente
só, é uma oportunidade para uma maior compreensão sobre
si mesma.
A solidão mal sentida “É uma sensação de desconexão com
outras pessoas que acomete jovens, adultos e idosos, e
que pode evoluir para transtornos como depressão e
melancolia”. 3
A pandemia é um fator apontado como exemplo de pessoas
que não souberam lidar com o isolamento social e o
impacto que a solidão implica na saúde mental; “mais de
12 milhões de pessoas com depressão, segundo dados da
Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país da
América Latina com o maior contingente de indivíduos com
o problema - são mais de 264 milhões no planeta. De
acordo com um editorial publicado recentemente no
periódico científico The New England Journal of
Medicine, um dos mais respeitados no mundo, o número de
pacientes que têm a doença deve aumentar globalmente
após a quarentena devido à pandemia de Covid19. 4
Naturalmente, para a perpetuação da espécie, para o
processo de reencarnação com o objetivo de
experimentação na vivência física de acordo com a
materialidade de nossas sensações indo em direção a
refinação dos sentimentos, somos induzidos a constituir
família, ou em alguns casos apenas encontrar um amor;
somos condicionados, e isso passa a ser um obstáculo
para um indivíduo o se sentir bem em sua própria
companhia. Inclusive no contexto religioso, no qual
exerce uma grande influência, quiçá inconsciente, eis
que lemos no livro sagrado Gênesis 2:18: “Então o Senhor
Deus declarou: Não é bom que o homem esteja só; farei
para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda”.
Filmes, novelas, séries e obras literárias romanceadas,
sempre nos levam a fantasiar que uma vida só é plena se
for com um par, que nada mais é que uma condição natural
formar um núcleo familiar, entretanto, as relações são
mais ou menos duráveis e, quando um relacionamento é
desfeito, cria-se uma necessidade urgente de que é
necessário compor um novo relacionamento, o que pode vir
acontecer, ou não, e até mesmo há casos de
acabrunhamento por receio de experimentar mais uma vez a
desilusão.
Mas “não estamos sozinhos”. Basta direcionar os olhos
para o lado e para dentro. Como Joanna de Ângelis bem
avisa: “quem é solidário não é solitário”.
Sempre havemos de vivenciar momentos de convivência e de
insulamento. Neste último, a providência não vacila;
como ocorreu com o Cristo, o cireneu Simão ajudou-o a
carregar a sua cruz, e assim também ocorre conosco.
Referências bibliográficas;
1 BIBLIA. Lucas, 23:24
2 Kardec, A. O
Livro dos Espíritos, Origem e conhecimento da
lei natural. Q.
625
3 Priscilla Aiulo Haikal. Por
que algumas pessoas se sentem sós mesmo quando rodeadas
de gente? Disponível em<link-1>
Acesso em 31, out 2020.
4 Nicola Ferreira. Depressão
e ansiedade devem aumentar na quarentena; veja onde
buscar ajuda.
Disponível em <link-2.>
Acesso 31 out 2020.
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