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por Lillian Rosendo

 

É possível ser feliz sozinho?


“(...) Porque se a mim, a árvore viva, me tratam assim, o que não farão a vocês?” 1 


O Cristo advertiu as mulheres para que se compadecessem de sua situação durante a via-crúcis. Antes de sua peleja, multidões o seguiam sedentos de ouvir-lhes os preciosos ensinamentos, de serem contemplados com o olhar sereno e penetrante; pessoas de tantos lugares, enfermos do corpo e da alma se aproximavam para ser embalados com a voz melodiosa e profunda que calara os mais rudes corações; pessoas na ânsia de tocar na barra de suas vestes e conquistar o arrimo da fé, no entanto, Jesus de Nazaré, o justo por excelência, o único modelo perfeito em que a humanidade pode se espelhar2, esteve só, no momento mais grave e tortuoso.

E o que dizer de nós, seus irmãos menores? Vivenciamos no decorrer das existências muitos momentos em que nos sentimos solitários, sobretudo na atual conjuntura em meio a uma epidemia, na qual pessoas de diferentes idades e classes sociais precisaram descobrir o valor de ficarem bem consigo mesmas.

Sabemos que se sentir só não é o mesmo que estar sozinho, que esse sentimento precisa ser compreendido e trabalhado, entretanto, quando a pessoa está realmente só, é uma oportunidade para uma maior compreensão sobre si mesma.

A solidão mal sentida “É uma sensação de desconexão com outras pessoas que acomete jovens, adultos e idosos, e que pode evoluir para transtornos como depressão e melancolia”. 3

A pandemia é um fator apontado como exemplo de pessoas que não souberam lidar com o isolamento social e o impacto que a solidão implica na saúde mental; “mais de 12 milhões de pessoas com depressão, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país da América Latina com o maior contingente de indivíduos com o problema - são mais de 264 milhões no planeta. De acordo com um editorial publicado recentemente no periódico científico The New England Journal of Medicine, um dos mais respeitados no mundo, o número de pacientes que têm a doença deve aumentar globalmente após a quarentena devido à pandemia de Covid19. 4

Naturalmente, para a perpetuação da espécie, para o processo de reencarnação com o objetivo de experimentação na vivência física de acordo com a materialidade de nossas sensações indo em direção a refinação dos sentimentos, somos induzidos a constituir família, ou em alguns casos apenas encontrar um amor; somos condicionados, e isso passa a ser um obstáculo para um indivíduo o se sentir bem em sua própria companhia. Inclusive no contexto religioso, no qual exerce uma grande influência, quiçá inconsciente, eis que lemos no livro sagrado Gênesis 2:18: “Então o Senhor Deus declarou: Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda”.

Filmes, novelas, séries e obras literárias romanceadas, sempre nos levam a fantasiar que uma vida só é plena se for com um par, que nada mais é que uma condição natural formar um núcleo familiar, entretanto, as relações são mais ou menos duráveis e, quando um relacionamento é desfeito, cria-se uma necessidade urgente de que é necessário compor um novo relacionamento, o que pode vir acontecer, ou não, e até mesmo há casos de acabrunhamento por receio de experimentar mais uma vez a desilusão.

Mas “não estamos sozinhos”. Basta direcionar os olhos para o lado e para dentro. Como Joanna de Ângelis bem avisa: “quem é solidário não é solitário”.

Sempre havemos de vivenciar momentos de convivência e de insulamento. Neste último, a providência não vacila; como ocorreu com o Cristo, o cireneu Simão ajudou-o a carregar a sua cruz, e assim também ocorre conosco.

 

Referências bibliográficas;

1 BIBLIA. Lucas, 23:24

Kardec, A. O Livro dos EspíritosOrigem e conhecimento da lei natural. Q. 625

3 Priscilla Aiulo Haikal. Por que algumas pessoas se sentem sós mesmo quando rodeadas de gente? Disponível em<link-1> Acesso em 31, out 2020.

4 Nicola Ferreira. Depressão e ansiedade devem aumentar na quarentena; veja onde buscar ajuda. Disponível em <link-2.> Acesso 31 out 2020.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita