A questão
da prisão perpétua
O Espiritismo tem, como
sabemos, posição firme e
clara sobre a questão da
pena de morte. A visão
da doutrina não se
alinha a qualquer ato ou
política pública que
interrompa uma vida, até
mesmo a de um criminoso
contumaz. A adoção de
tal solução, aliás,
caracteriza sociedades
tipicamente selvagens e
intransigentes.
Infelizmente, muitas
nações não abdicaram
ainda deste funesto
procedimento.
Em contrapartida, a
prisão perpétua
representa um tratamento
mais, digamos,
humanizado para o
delinquente. Há algumas
semanas atrás, o jovem
terrorista australiano
Brenton Tarranti,
responsável pelo
assassinato de 51
pessoas nas mesquitas de
Al Noor e Linwood na
cidade de Christchurch,
na Nova Zelândia, ouviu
impávido essa
condenação.
Vale frisar que o
impiedoso terrorista
utilizou armas
semiautomáticas no
ataque – o que
contribuiu para um
grande número de vítimas
fatais. Mais ainda:
demonstrando imenso
sadismo, ele ainda
transmitiu ao vivo as
imagens nas redes
sociais. Cabe também
recordar que as pobres
vítimas estavam fazendo
as suas tradicionais
orações de sexta-feira
quando o covarde ataque
ocorreu. Diante das
evidências, o juiz do
caso assim proferiu a
sentença: “Seus crimes
são tão perversos que
mesmo que ele seja
mantido na prisão até a
morte, isso não esgotará
a punição e a sentença
que eles exigem”.
Em nosso país, um
conhecido criminoso
carioca, Elias Maluco
(1966-2020), responsável
pela morte, entre
outros, do jornalista
Tim Lopes (1950-2002),
não suportando os
rigores da extensa
condenação, deu cabo da
própria vida pela via do
autocídio. Posto isto,
cumpre ressaltar que as
sociedades humanas não
têm um programa único
para indivíduos desse
jaez. Dependendo do
país, as condições do
condenado podem ser mais
ou menos amenas, mas não
é uma regra absoluta. No
Brasil, por exemplo, as
longas condenações
acabam sendo bem
aliviadas dada a
benevolência do nosso
código penal com os
criminosos de qualquer
espécie. Mas no geral
prevalece a condenação
ao isolamento até o fim
dos dias do delinquente
na encarnação em
decurso. Por
representarem grande
perigo à sociedade,
terminam a vida sob
regime total de
confinamento.
Nesse sentido, não
encontrei um texto
absolutamente cristalino
com referência a esse
tema no âmbito da
Doutrina Espírita. Desse
modo, o que podemos
concluir a respeito?
Creio que o tópico é
pertinente considerando
a quantidade de
Espíritos presentemente
encarnados que militam
nas fileiras das trevas
e, assim sendo,
responsáveis por crimes
inomináveis. Contudo,
por mais que se discorde
de tal arranjo, também
não se pode, por outro
lado, deixar de
reconhecer que “Graças à
Lei de Causa e Efeito,
cada um é aquilo que de
si mesmo faz. Conforme
age, assim recebe a
resposta da Vida”,
conforme pontua o
Espírito Vianna de
Carvalho, na obra Atualidade
do Pensamento Espírita (psicografia
de Divaldo Pereira
Franco).
Corroborando esse
raciocínio, Allan Kardec
observa, no livro O
Céu e o Inferno, que
“O Espírito sofre, quer
no mundo corporal, quer
no espiritual, a
consequência das suas
imperfeições. As
misérias, as
vicissitudes padecidas
na vida corpórea são
oriundas das nossas
imperfeições, são
expiações de faltas
cometidas na presente ou
em precedentes
existências”. Assim
sendo, ter a supressão
da liberdade parece ser
uma justa punição ao
protagonista de crimes
cruéis. Afinal, ao não
saber conviver de
maneira pacífica e
respeitosa com os seus
semelhantes, revela,
pois, o seu instável
caráter e grau de
imperfeição.
Devemos ter sempre em
mente que respeitar a
vida, aliás, é dever de
todos nós e em todas as
circunstâncias. E quem
demonstra inaptidão para
tal comprometimento
merece, sim, a justa
punição. Ademais, a
solidão de uma cela –
por mais dura que possa
ser tal experiência –
certamente deverá
conduzir o infeliz
infrator das leis de
Deus a refletir sobre a
sua conduta desviada. As
longas e penosas horas
de isolamento
provavelmente o levarão
a repensar a sua conduta
criminosa; a privação de
movimentar-se livremente
o incitará a valorizar a
alegria de tão
significativa concessão
divina; a
impossibilidade de se
relacionar amiúde com os
seus semelhantes, o
farão considerar a
riqueza do contato
humano.
Assim sendo, tomando
ciência de tais bênçãos,
outrora menosprezadas, o
Espírito delinquente
inicia a dura jornada
rumo à luz. Despertando
para a necessidade de
cultivar uma vida
espiritualmente
saudável, ele se equipa,
por extensão, para os
futuros e indispensáveis
reajustes às leis
divinas no plano
material.