A vida pelas mãos de uma criança
O sol mal chegara naquela manhã fresca de primavera
quando meu netinho, puxando meu pijama, me chamou com
insistência: “Vovô, corre, venha ver a plantinha!
Apareceu, vovô!”
Levantei com a pressa que consegui e fui atrás da sua
alegria na direção do jardinzinho nos fundos da casa.
Algumas semanas antes tínhamos preparado um vaso com
terra vegetal e ele mesmo, com as mãozinhas sujas da
terra, jogara sementes, cobrindo-as com adorável cuidado
infantil.
Constatei realmente que uns folículos apareciam, fazendo
seu delicado verde contrastar com o preto da terra fofa.
A empolgação daquele menino me emocionou quando eu disse
a ele que a plantinha nascera graças ao seu trabalho.
Seus olhinhos brilharam de contentamento. Aproveitei a
emoção do instante e em duas ou três pequenas frases
falei para ele sobre Deus, vida, amor e trabalho,
ternamente.
Passados os dias do descanso escolar, meu neto voltou
para a casa dos pais, prometendo vir todos os fins de
semana para ver como a plantinha crescia.
A manifestação da vida é um grande acontecimento. O
serzinho que brotava no vaso e que encantou aquela
criança, e ela própria ali junto a mim, cheia de
surpresa e vivacidade, eram a demonstração da força
misteriosa e descomunal de Deus na criação e manutenção
da vida.
O fenômeno da vida sob quaisquer formas deveria sempre
causar em nós imenso respeito e veneração. Além disso,
deveríamos estudá-lo para compreender a sua importância
e finalidade na Terra e no universo. Tudo só faz sentido
em função da vida. É para ela que Deus converge o seu
amor.
Sendo assim, é constrangedor observar o desprezo que
muitos humanos têm pela vida, a ponto de desnaturá-la,
de consumi-la como um bem descartável, e ainda pior:
minimizar o valor da vida alheia. É assustador o número
de mortes provocadas por motivos fúteis. E todos os
motivos são fúteis quando se tira a vida de alguém. Os
homens armam-se e matam-se uns aos outros com doentia
naturalidade. Daí que o descompromisso com as outras
formas de vida é apenas uma consequência.
Mas eu estava falando do meu neto e da sua inocente
iniciação no conhecimento da lei da vida, e do quanto
aquela descoberta nos encheu de felicidade. Foi uma
experiência singela que deve estar guardada na sua
memória como ficou na minha também.
Em relação à cegueira espiritual humana, pode-se afirmar
que persistirá até que os homens entendam o amor
fraterno como solução para todas as coisas.
Oh, soou a campainha. Pelos gritinhos deve ser o meu
neto que chegou para ver de perto o desenvolvimento da
sua plantinha. Paro por aqui.
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