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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Pontuando corretamente a vida


Circula nas redes sociais a instigante prosa, cujo autor é, infelizmente, desconhecido, na qual um homem à beira da morte deixa explicitados por escrito os seus últimos desejos, e que resgato aqui para a consecução dos objetivos do presente texto – ou seja:

“Deixo os meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres.

Esqueceu-se da pontuação, de modo que cada nomeado pontuou segundo os seus interesses.

O sobrinho fez a seguinte pontuação: ‘Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres’.

A irmã pontuou assim: ‘Deixo os meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres’.

O padeiro também pontuou, puxando a brasa à sua sardinha: ‘Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres’.

Foi então que um pobre, sabido, fez esta interpretação: ‘Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres’.

Moral da história: Assim é a vida. Pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós é que colocamos os pontos. E isso faz toda a diferença. Pontue corretamente a sua vida, para não dar margem a erros de interpretação”.

Com efeito, a vida pode, sim, ser enxergada sob distintos olhares e opiniões a depender do observador e das suas motivações e interesses. Desse modo, há os que olham a existência sob um olhar compassivo, especialmente no que concerne aos seus atos e atitudes. Estes normalmente tendem a suavizar o peso das suas decisões equivocadas. Olham para as suas conveniências até mesmo nas horas mais cruciais das suas trajetórias, esquecendo-se de que há um Pai que, acima de todos nós, tudo vê e observa.

Ele, a propósito, em seu julgamento sempre sereno e justo, tudo registra: nossas emoções, intenções, gestos e pensamentos mais ocultos. Dada a sua incomensurável sabedoria e visão, ele conhece perfeitamente as nossas fraquezas, imperfeições e mazelas. Por isso, qualquer tentativa de enganá-lo invariavelmente culmina em fracasso, pois o seu poder tudo abarca. No entanto, mesmo assim, muitos ainda assim tentam infantilmente enganá-lo.

Mas há os que interpretam a vida de maneira mais objetiva e atenta. Diferentemente dos outros acima descritos procuram o acerto em todas as suas iniciativas e ações. Não são obviamente criaturas moralmente perfeitas, embora se esforcem por afastar as más ideias dos seus corações. Sabem, ou pelo menos intuem, que um dia haverão de prestar contas dos seus atos à providência divina. Consequentemente, têm consciência que responderão pelo que realizarem através das suas capacidades e recursos, bem como das alegrias e felicidade que espalharem pelo mundo. De maneira similar, têm ampla noção da transitoriedade das conquistas materiais, e, por isso, não se imantam a elas. Ao contrário, as veem apenas como meios à disseminação do progresso e bem-estar geral ao qual a eles cabem o dever de zelar. Desse modo, evitando erros e desacertos mais comprometedores “pontuam corretamente a vida”.

Esse é o ponto central e que merece a nossa reflexão. Estamos deixando lacunas pelo caminho que poderão nos trazer arrependimento e sofrimento posterior? Lembremos, uma vez mais, que estamos sendo cuidadosamente observados pela espiritualidade. Assim sendo, estamos sendo sinceros e verdadeiros em nossas deliberações? Estamos sendo bem-intencionados em nossas decisões e ações? Ou, como na prosa acima, só olhamos o que nos interessa ver? Seja como for, tenhamos muito cuidado...


  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita