Pontuando
corretamente a vida
Circula nas redes
sociais a instigante
prosa, cujo autor é,
infelizmente,
desconhecido, na qual um
homem à beira da morte
deixa explicitados por
escrito os seus últimos
desejos, e que resgato
aqui para a consecução
dos objetivos do
presente texto – ou
seja:
“Deixo os meus bens à
minha irmã não a meu
sobrinho jamais será
paga a conta do padeiro
nada dou aos pobres.
Esqueceu-se da
pontuação, de modo que
cada nomeado pontuou
segundo os seus
interesses.
O sobrinho fez a
seguinte pontuação:
‘Deixo os meus bens à
minha irmã? Não! A meu
sobrinho. Jamais será
paga a conta do padeiro.
Nada dou aos pobres’.
A irmã pontuou assim:
‘Deixo os meus bens à
minha irmã. Não a meu
sobrinho. Jamais será
paga a conta do padeiro.
Nada dou aos pobres’.
O padeiro também
pontuou, puxando a brasa
à sua sardinha: ‘Deixo
os meus bens à minha
irmã? Não! A meu
sobrinho? Jamais! Será
paga a conta do padeiro.
Nada dou aos pobres’.
Foi então que um pobre,
sabido, fez esta
interpretação: ‘Deixo os
meus bens à minha irmã?
Não! A meu sobrinho?
Jamais! Será paga a
conta do padeiro? Nada!
Dou aos pobres’.
Moral da história: Assim
é a vida. Pode ser
interpretada e vivida de
diversas maneiras. Nós é
que colocamos os pontos.
E isso faz toda a
diferença. Pontue
corretamente a sua vida,
para não dar margem a
erros de interpretação”.
Com efeito, a vida pode,
sim, ser enxergada sob
distintos olhares e
opiniões a depender do
observador e das suas
motivações e interesses.
Desse modo, há os que
olham a existência sob
um olhar compassivo,
especialmente no que
concerne aos seus atos e
atitudes. Estes
normalmente tendem a
suavizar o peso das suas
decisões equivocadas.
Olham para as suas
conveniências até mesmo
nas horas mais cruciais
das suas trajetórias,
esquecendo-se de que há
um Pai que, acima de
todos nós, tudo vê e
observa.
Ele, a propósito, em seu
julgamento sempre sereno
e justo, tudo registra:
nossas emoções,
intenções, gestos e
pensamentos mais
ocultos. Dada a sua
incomensurável sabedoria
e visão, ele conhece
perfeitamente as nossas
fraquezas, imperfeições
e mazelas. Por isso,
qualquer tentativa de
enganá-lo
invariavelmente culmina
em fracasso, pois o seu
poder tudo abarca. No
entanto, mesmo assim,
muitos ainda assim
tentam infantilmente
enganá-lo.
Mas há os que
interpretam a vida de
maneira mais objetiva e
atenta. Diferentemente
dos outros acima
descritos procuram o
acerto em todas as suas
iniciativas e ações. Não
são obviamente criaturas
moralmente perfeitas,
embora se esforcem por
afastar as más ideias
dos seus corações.
Sabem, ou pelo menos
intuem, que um dia
haverão de prestar
contas dos seus atos à
providência divina.
Consequentemente, têm
consciência que
responderão pelo que
realizarem através das
suas capacidades e
recursos, bem como das
alegrias e felicidade
que espalharem pelo
mundo. De maneira
similar, têm ampla noção
da transitoriedade das
conquistas materiais, e,
por isso, não se imantam
a elas. Ao contrário, as
veem apenas como meios à
disseminação do
progresso e bem-estar
geral ao qual a eles
cabem o dever de zelar.
Desse modo, evitando
erros e desacertos mais
comprometedores “pontuam
corretamente a vida”.
Esse é o ponto central e
que merece a nossa
reflexão. Estamos
deixando lacunas pelo
caminho que poderão nos
trazer arrependimento e
sofrimento posterior?
Lembremos, uma vez mais,
que estamos sendo
cuidadosamente
observados pela
espiritualidade. Assim
sendo, estamos sendo
sinceros e verdadeiros
em nossas deliberações?
Estamos sendo
bem-intencionados em
nossas decisões e ações?
Ou, como na prosa acima,
só olhamos o que nos
interessa ver? Seja como
for, tenhamos muito
cuidado...