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por Cláudio Bueno da Silva

 

Dez verdades e uma mentira


Não nos preocupemos obsessivamente com a verdade. A verdade, em nosso plano, é múltipla, diversa, dinâmica, flexível, versátil. Mas apesar de tudo isso, indispensável e fundamental. Diz-se que há tantas verdades quanto os seres na Terra. Seria erro afirmar que cada um tem a sua verdade? Creio que não, do ponto de vista dos interesses e necessidades materiais de cada indivíduo, e do estágio do seu progresso.

Já sob as vistas de Deus, a verdade é una, como todas as Suas Perfeições.

Na Terra a verdade é fluida, variável, e nem sempre se estabelece entre os homens um consenso sobre a distância que a separa da mentira. Apesar destas incertezas, podemos garantir que a verdade, sendo o oposto da mentira, está próxima do amor e da justiça.

O Espírito Erasto (¹) afirmou que “mais vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa”. Embora tratasse de assunto específico relacionado à conduta dos homens em relação às informações enviadas por Espíritos, entendo que o seu pensamento possa se aplicar às circunstâncias gerais da vida. Compactuar com uma mentira gera comprometimento muito mais grave do que rejeitar dez verdades. Isso porque a mentira desequilibra, corrompe, infelicita.

A rejeição, como propõe Erasto figuradamente, não inviabiliza a verdade, só adia a sua adoção. Mesmo rejeitada, ela estará “lá”, esperando ser adotada. Num mundo de verdades relativas como o nosso, o momento e a oportunidade contam muito.

A verdade como um princípio me parece ser neutra, porque vinculada a leis universais imutáveis ainda pouco compreendidas por nós humanos. Já a mentira, não. A mentira é ardil humano incompatível com a perfeição universal. A mentira é energia densa que nasce dos porões escuros da alma que ainda não foram iluminados.

Aceitar a mentira é agir no campo negativo e se predispor às consequências da sua gravidade. Por outro lado, rejeitar a verdade pode ser um ato provisório que possivelmente terá também suas consequências, mas que estarão bem longe de se igualar aos danos causados pela mentira.

A busca pela verdade é instintiva e natural no homem inteligente, e ele a perseguirá sempre. Mas será bom que ele comece também a se preocupar em combater a mentira, esse vício moral tão feio, prejudicial e que tanta desgraça causa à humanidade.

 

(¹) Erasto, Espírito, ditou várias instruções inseridas por Allan Kardec em suas obras. A frase citada encontra-se em “O Livro dos Médiuns”, capítulo XX, “Influência moral dos médiuns”, LAKE, 1978, tradução de J. Herculano Pires. As orientações de Erasto são muito respeitadas no meio espírita esclarecido.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita