Dez verdades e uma mentira
Não nos preocupemos obsessivamente com a verdade. A
verdade, em nosso plano, é múltipla, diversa, dinâmica,
flexível, versátil. Mas apesar de tudo isso,
indispensável e fundamental. Diz-se que há tantas
verdades quanto os seres na Terra. Seria erro afirmar
que cada um tem a sua verdade? Creio que não, do ponto
de vista dos interesses e necessidades materiais de cada
indivíduo, e do estágio do seu progresso.
Já sob as vistas de Deus, a verdade é una, como todas as
Suas Perfeições.
Na Terra a verdade é fluida, variável, e nem sempre se
estabelece entre os homens um consenso sobre a distância
que a separa da mentira. Apesar destas incertezas,
podemos garantir que a verdade, sendo o oposto da
mentira, está próxima do amor e da justiça.
O Espírito Erasto (¹) afirmou que “mais vale rejeitar
dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única
teoria falsa”. Embora tratasse de assunto específico
relacionado à conduta dos homens em relação às
informações enviadas por Espíritos, entendo que o seu
pensamento possa se aplicar às circunstâncias gerais da
vida. Compactuar com uma mentira gera comprometimento
muito mais grave do que rejeitar dez verdades. Isso
porque a mentira desequilibra, corrompe, infelicita.
A rejeição, como propõe Erasto figuradamente, não
inviabiliza a verdade, só adia a sua adoção. Mesmo
rejeitada, ela estará “lá”, esperando ser adotada. Num
mundo de verdades relativas como o nosso, o momento e a
oportunidade contam muito.
A verdade como um princípio me parece ser neutra,
porque vinculada a leis universais imutáveis ainda pouco
compreendidas por nós humanos. Já a mentira, não. A
mentira é ardil humano incompatível com a perfeição
universal. A mentira é energia densa que nasce dos
porões escuros da alma que ainda não foram iluminados.
Aceitar a mentira é agir no campo negativo e se
predispor às consequências da sua gravidade. Por outro
lado, rejeitar a verdade pode ser um ato provisório que
possivelmente terá também suas consequências, mas que
estarão bem longe de se igualar aos danos causados pela
mentira.
A busca pela verdade é instintiva e natural no homem
inteligente, e ele a perseguirá sempre. Mas será bom que
ele comece também a se preocupar em combater a mentira,
esse vício moral tão feio, prejudicial e que tanta
desgraça causa à humanidade.
(¹) Erasto, Espírito, ditou várias instruções
inseridas por Allan Kardec em suas obras. A frase citada
encontra-se em “O Livro dos Médiuns”, capítulo XX,
“Influência moral dos médiuns”, LAKE, 1978, tradução de
J. Herculano Pires. As orientações de Erasto são muito
respeitadas no meio espírita esclarecido.
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