A metáfora da laje
A obra mediúnica de Chico Xavier trabalha
incansavelmente o pensamento de que o espírita é alguém
que assumiu, previamente a essa experiência corpórea,
compromissos de tarefa no bem, por via da seara
espírita.
André Luiz se reporta a vastas e complexas escolas
domiciliadas nas esferas espirituais mais próximas do
planeta destinadas a preparação de colaboradores para as
tarefas espíritas. Comenta que longas
fileiras de médiuns e doutrinadores para o mundo carnal
partem daqui, com as necessárias instruções, porque os
benfeitores da Espiritualidade Superior, para
intensificarem a redenção humana, precisam de renúncia e
de altruísmo.[i]
Emmanuel, na mesma linha, exorta-nos:
Se te encontras, quanto nós, entre aqueles que tanto
recebem da Nova Revelação, perguntemos a nós mesmos o
que lhe damos em serviço e apoio, cooperação e amor,
porque sendo o Espiritismo crédito e prestigio de Cristo
entregues às nossas consciências endividadas, é natural
que a conta e o rendimento que se relacionem com ele
seja responsabilidade em nossas mãos.[ii]
Recentemente, tem-se ouvido de simpatizantes da Doutrina
espírita que tal pensamento é por demais exclusivista,
retratando uma espécie de ufanismo espírita, pois o que
importa é fazer o bem, independentemente se no ambiente
espírita ou em qualquer outro espaço vital.
Indiscutivelmente, ser bom, útil, justo e generoso é uma
proposta transcendental de vida, e tem seus méritos
próprios; assim, jamais deve ser limitada a este ou
aquele setor específico. No entanto, o que os
benfeitores espirituais têm mostrado é que um serviço
anteriormente aceito faz parte de um programa extenso e
complexo do qual não fazemos a mínima ideia. A questão
que importa no caso ora examinado, portanto, não é a
ação no bem em si mesma, mas a especificidade que lhe
caracteriza.
Para ilustrar, consideremos a seguinte metáfora. Armando
está construindo, na cidade de Astolfo Dutra uma nova
casa e pede a Arthur, amigo querido, colaboração no
enchimento da laje. Combinam para a manhã do domingo
seguinte.
Na data aprazada, Arthur levanta-se cedo e parte em
direção à futura morada do amigo, conforme combinado.
Todavia, em rua anterior, observa que um outro amigo, o
Luciano, está igualmente envolvido em morada nova e
prepara para também preencher a laje da residência.
Atendendo ao convite de Luciano, Arthur fica por lá
mesmo, auxiliando alegremente o amigo. Diante do
acontecido Armando fica impossibilitado de seguir
sozinho na tarefa programada, transferindo-a para outro
dia.
A questão que se coloca é esta: Arthur ajudou um amigo,
fez o bem, mas faltou com um compromisso previamente
assumido, obrigando a uma revisão das tarefas, com os
inconvenientes ligados ao fato.
Concluindo: viver é cumprir uma missão, preservando a
fidelidade ao núcleo mais íntimo da nossa personalidade,
e, consequentemente, aos avalistas de nossa reencarnação
que, da dimensão espiritual, acreditaram em nós e
investem incansavelmente em nossas realizações.
[i] Os
Mensageiros, cap. 3.
[ii] Opinião espírita, cap. 6.
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